Um dos maiores desafios de pais e responsáveis é a chamada introdução alimentar. Uma fase complexa que demanda tempo, paciência e persistência. As primeiras experiências dos pequenos com algum alimento são motivos de comemoração. Para a professora do curso de Nutrição da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS Caroline Abud é importante compreender que este é um processo de construção familiar.
“Para que a criança tenha um paladar amplo, uma aceitação dos diversos grupos alimentares e dos diversos alimentos dentro dos grupos, precisamos de exposição significativa e gentil durante todo processo de crescimento e desenvolvimento da infância. Hoje, temos algumas evidências de que este processo se inicia mesmo antes do nascimento, com o perfil qualitativo da alimentação na gestação”, declara.
Profissionais da área da saúde falam sobre a influência dos adultos no comportamento das crianças. Com a alimentação, não é diferente. As escolhas feitas pelos pais são refletidas no futuro das crianças. Segundo dados do Ministério da Saúde de 2022, 20% das crianças com menos de cinco anos apresentam anemia por falta de ferro, e 17% tem déficit de vitamina A. O alto consumo de alimentos ultraprocessados é um dos principais fatores responsáveis pelo aumento desses casos.
“A maior dificuldade é quando uma criança não teve uma construção de paladar e é necessário fazer a modificação de hábitos dela. Nenhuma mudança é um processo fácil, então o ideal é que haja uma construção desse paladar e que a família possa influenciar de forma positiva”, ressalta a professora.
Uma alternativa para este desenvolvimento é a mudança do comportamento familiar. A preparação do alimento em conjunto com as crianças é uma opção para introduzir novas texturas, cores e sabores. Não somente ao paladar, mas também na vida dos pequenos. Além disso, o ato de cozinhar juntos estimula uma relação saudável com a comida, incentiva o aprendizado e contribui para boas lembranças familiares.
“Ninguém precisa ser chef de cozinha, mas o envolvimento familiar no preparo induz a criança a se interessar. A criança por si só já é muito curiosa, então, se fizermos com que ela participe do processo, ela também vai ter curiosidade em experimentar. Pode ser a participação na colocação da mesa e até na forma de apresentação dos alimentos. Tudo isso contribui para o ato da refeição ficar mais divertido e interessante”, detalha Caroline.
A importância do acompanhamento profissional, principalmente para crianças com seletividade alimentar, é outro fator importante. O Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), conforme chamado por especialistas, é uma aversão sensorial a determinados sabores, texturas e cores, causando fobias de determinados alimentos. Por isso, estar atento às necessidades dos seus filhos é uma forma de cuidado, tanto na introdução alimentar como depois desse período.
Caroline explica que existem muitos níveis de seletividade e rigidez alimentar. Algumas crianças, por exemplo, são muito seletivas em relação aos alimentos coloridos. Nesses casos, é preciso realizar um diagnóstico por meio de conversa, com foco na escuta da família e da criança, associada a observações de comportamento. “Por vezes, e de forma ideal, é necessário um acompanhamento psicológico também, um trabalho em equipe”, destaca. Para Caroline Abud, o estímulo da autonomia infantil também é outro ponto importante a ser considerado.
“Muitas vezes os pais fazem tudo pela criança e depois, em alguma idade, esperam que ela faça sozinha. Isso não vai ser automático. Por isso, é importante que a autonomia seja dada desde o início, quando a criança começa na introdução alimentos. A construção e a manutenção desses hábitos é o que faz a grande diferença na vida das crianças”, finaliza Caroline.
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