Durante os últimos anos, faz parte da conduta médica para pacientes com doenças cardíacas como o infarto do miocárdio a orientação de hábitos saudáveis: não fumar, cuidar o consumo de álcool, praticar atividade física, ter uma boa alimentação… Sobre essa última recomendação, a cada ano, novos artigos científicos são publicados e fazem por vezes os médicos e nutricionistas colocarem alimentos como “amigos e vilões” da saúde. A maior parte desse conhecimento é baseado em estudos realizados nos Estados Unidos e Europa, e tem como principal desfecho a saúde cardiovascular do paciente.
Quando relacionamos dieta e doenças que acometam o cérebro, o Acidente Vascular Cerebral (AVC, ou popularmente conhecido por derrame) é o que mais chama a atenção, tanto pela quantidade de estudos que são feitos sobre esse tema como pela gravidade dessa doença, que é uma das principais causas de morte da população brasileira.
Estudo chamado Interstroke avaliou os principais riscos de desenvolver o AVC em 22 diferentes países, inclusive no Brasil
No entanto, é muito difícil relacionar uma má dieta como um fator isolado causador de infarto e AVC. Em geral, pessoas que aderem a uma dieta saudável, com pouca gordura saturada e muitos vegetais, também são não fumantes, praticam atividade física com regularidade e têm outros hábitos de vida saudáveis. Muitos artigos tentam medir o impacto de cada um desses fatores de modo isolado, para podermos mensurar de maneira mais precisa o que cada mudança vai acarretar na nossa saúde a longo prazo. Esses dados existem, entre eles um grande destaque é o estudo chamado Interstroke, que avaliou os principais riscos de desenvolver o AVC em 22 diferentes países, inclusive no Brasil.
Recentemente um artigo publicado em uma das principais revistas científicas da área da neurologia propôs avaliar o impacto que uma dieta saudável (rica em folhas verdes) tem sobre a saúde cerebral em relação à memória. Na cidade de Chicago, pessoas de 58 a 99 anos (sem histórias de doenças graves), foram divididas em dois grandes grupos: os que consumiam folhas verdes pelo menos uma vez por dia e os que não faziam esse consumo. Esses indivíduos foram avaliados durante dez anos, com aplicações regulares de testes de memória. Foi observado nitidamente um maior declínio cognitivo no grupo que não consumia folhas verdes.
Artigo publicado na revista Neurology propôs avaliar o impacto que uma dieta rica em folhas verdes tem sobre a saúde cerebral em relação à memória
No estudo, desenvolvido na Rush University, Chicago, IL, entre outros centros de pesquisa, os dois grupos eram muito semelhantes em suas características dos demais hábitos de vida, o que nos leva a pensar que algum fator determinante para acontecer ou não o declínio cognitivo envolve a dieta. Martha Clare Morris, Yamin Wang, Lisa L. Barnes, David A. Bennett, Bess Dawson-Hughes, e Sarah L. Booth, autores do artigo Nutrients and bioactives in green leafy vegetables and cognitive decline, publicado em janeiro, na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, acreditam que o papel de substâncias como o nitrato, folato, alfa-tocoferol entre outras, que estão presentes em grande quantidade nas folhas verdes, foi o grande diferencial, atuando como um neuroprotetor.
Dessa forma, além de orientar uma dieta saudável para diminuir o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, pessoas que desejam manter sua memória mais ativa, por mais tempo, também têm motivos para aderirem à dieta das folhas verdes. A dica que fica para mantermos uma memória mais saudável, portanto, é não “esquecer” a alface, a rúcula, o espinafre no prato de todo dia!