No Brasil, a doença atinge 1,2 milhão de pessoas
sexta-feira, 07 de março | 2025Sendo o tipo mais comum de demência, o Alzheimer atinge, de acordo com o Ministério da Saúde, 1,2 milhão de pessoas no país. A doença é degenerativa e acontece quando algumas proteínas do sistema nervoso param de funcionar como deveriam, se tornando tóxicas. Com maior incidência em pessoas mais velhas, a doença não tem cura e os tratamentos disponíveis no momento são paliativos.
Entre os sintomas mais comuns, estão falta de memória recente, dificuldade de realizar tarefas do dia a dia, mudanças de humor e tendência a irritabilidade, dificuldade em formar ou terminar frases e raciocínios, tendência ao isolamento, entre outros. Em fevereiro, o neurologista francês Nicolas Villain esteve no Instituto do Cérebro (InsCer) para participar do evento Neuroscience Next 2025, no qual discutiu os avanços do Alzheimer. Em uma entrevista exclusiva, o pesquisador explicou as perspectivas futuras no diagnóstico e tratamento da doença. Confira!
Na sua opinião, qual é a informação mais importante que a sociedade precisa ter conhecimento, hoje, quando se fala em Alzheimer?
Nicolas Villain: É importante que a população saiba que agora temos novos medicamentos que podem mudar o histórico da doença tal qual o conhecemos, isto é, que pode desacelerar a progressão da doença. As pessoas precisam saber isso porque, mesmo não sendo medicamentos milagrosos, é possível ajudá-las a ter um melhor prognóstico da doença. Isso significa não haver mais razão para hesitar em fazer um diagnóstico – às vezes as pessoas preferem não saber e mesmo alguns médicos dizem somente que não há tratamento. Com os novos medicamentos chegando, é importante saber o diagnóstico agora.
Como você avalia os medicamentos disponíveis hoje e os que estão em desenvolvimento para tratamento de Alzheimer?
Nicolas Villain: Hoje temos o que chamamos inibidores da acetilcolinesterase, medicamentos para pessoas sintomáticas, e que melhoraram a atenção e a concentração em indivíduos com Alzheimer. Ainda que não se mude o histórico da doença e que haja declínio no futuro, significa que o paciente se sentirá melhor no processo. É um medicamento simples, sem muitos efeitos colaterais, mas ainda não muito eficiente.
Agora, temos novos medicamentos, mais complexos, que são melhor “treinados”, digamos assim, para mirar e mudar o histórico natural da doença, desacelerando seu curso em 25% ou 30%. Considerando que o Alzheimer é uma doença de longa duração, isso poderá fazer diferença ao longo de dez anos. Ao mesmo tempo, não temos muita certeza, esses medicamentos são caros e complexos, com muitos efeitos colaterais, mas são um primeiro passo em direção à cura do Alzheimer.
Isso me faz lembrar o que aconteceu com o HIV/AIDS cerca de 30 ou 40 anos atrás, quando o AZT chegou e algumas pessoas “fugiam” dessa opção e, naturalmente, acabavam morrendo. Hoje, as pessoas tomam os medicamentos de forma correta e têm um prognóstico quase normal. Minha esperança é de que ocorra o mesmo com a Doença de Alzheimer, que esse seja um primeiro passo em direção ao fim do declínio cognitivo nessa doença.
Por que algumas pessoas têm mais risco/susceptibilidade para desenvolver a Doença de Alzheimer e quais são os processos patológicos envolvidos?
Nicolas Villain: Sim, algumas pessoas têm mais risco de desenvolver essa doença. Sabemos que em torno de 60% das pessoas que têm esse risco é devido ao histórico genético e 40% devido ao contexto, estilo de vida. Com relação a histórico familiar, não é possível mudar muito: essa é uma doença genética de múltiplos riscos. É como se cada variante do seu gene – e temos em torno de70 ou 80 variantes – pudesse oferecer um leve risco aumentado, a partir de uma combinação ruim.
Entretanto, para os 40% da população que restam, os fatores de risco são potencialmente mutáveis. São eles: riscos cardiovasculares, como pressão e colesterol altos; diabetes, obesidade, falta de exercício físico, fatores sensoriais como perda de visão ou audição, além de doenças psiquiátricas, como depressão e isolamento social. Todos esses fatores podem aumentar seu risco de diagnóstico da Doença de Alzheimer, mas se você os controlar, mesmo com a carga genética, você pode diminuir o risco de desenvolver sintomas.
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