Saúde

Alimentos ultraprocessados na merenda escolar: qual o impacto na saúde de crianças e adolescentes? 

Entenda como a nova medida do governo pode influenciar a formação de hábitos saudáveis e prevenir a obesidade infantil

sexta-feira, 14 de fevereiro | 2025
alimentos ultraprocessados
As crianças estão habituadas ao consumo de ultraprocessados pela palatabilidade. / Foto: Envato

Recentemente, o governo federal anunciou uma importante medida para a saúde pública: a redução do uso de alimentos processados e ultraprocessados na merenda das escolas públicas. A iniciativa visa promover uma alimentação mais equilibrada, combatendo problemas como obesidade infantil e doenças associadas ao consumo excessivo de industrializados. 

De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2024, o Brasil pode ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035. O documento traz dados atuais sobre a doença no mundo e as projeções para os próximos anos – e reforça a necessidade de políticas públicas que incentivem a alimentação saudável desde a infância.  

“Em grande parte do tempo, as crianças estão na escola. Então, este é o lugar para formarem hábitos saudáveis e para aprenderem a ser multiplicadores desse conhecimento, para levarem para casa, para o pai, para a mãe, para o coleguinha que não está aqui na escola”, destaca José Vicente Spolidoro, professor da Escola de Medicina da PUCRS e especialista em gastroenterologia e nutrologia pediátrica. 

Os alimentos ultraprocessados são aqueles que contêm aditivos como estabilizantes e conservantes, frequentemente associados a processos inflamatórios no organismo. Segundo Spolidoro, esses alimentos podem contribuir para o desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas, além de possuírem alto teor calórico, excesso de sal e gordura, fatores diretamente relacionados à obesidade infantil, hipertensão arterial, distúrbios cardiovasculares e síndrome metabólica. 

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Uma alimentação equilibrada é fundamental para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, por isso, seguir a pirâmide alimentar e garantir a variedade de grupos alimentares precisa ser uma prioridade tanto na escola como em casa. Nas escolas que oferecem turno integral, o planejamento nutricional deve contemplar fontes proteicas de origem animal e vegetal, frutas, verduras e cereais.  

“O Brasil tem, por exemplo, um índice de anemia ferropriva de 20% entre as crianças. Isso indica a falta de ingestão de alimentos ricos em ferro, como carnes, que possuem alta biodisponibilidade do nutriente. Além disso, cada região do Brasil tem suas particularidades, então a merenda deve estar atenta às deficiências alimentares próprias daquela região, propiciando a redução destas deficiências”, explica Spolidoro. 

Muitas crianças, entretanto, estão habituadas ao consumo de ultraprocessados em casa, seja por questões de praticidade, dificuldades financeiras ou preferência alimentar. Spolidoro destaca que a escola deve atuar como um agente de educação nutricional também para pais e responsáveis. No entanto, embora a mudança na merenda escolar seja um passo essencial, não é suficiente para reverter o quadro de obesidade infantil. De acordo com professor, a prevenção da obesidade deve incluir educação alimentar desde cedo e o estímulo à prática de atividades físicas.  

“A escola precisa ser um local de informação e educação para uma alimentação saudável. Deve ser um exemplo para as crianças e famílias, além de estimular as práticas esportivas e a atividade física dos seus alunos”, reforça. 

Além de mudanças nos cardápios escolares, o professor pondera a importância de o governo implementar taxas sobre produtos ultraprocessados, reduzindo seu apelo financeiro.  

“Seria ótimo se o governo identificasse esses alimentos e aplicasse impostos que tornassem seus preços menos atrativos. Também é fundamental que as mídias divulguem informações sobre alimentação saudável de forma massiva”, sugere o especialista. 

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A mudança na merenda escolar não é suficiente para reverter o quadro de obesidade infantil. / Foto: Envato

Como substituir alimentos ultraprocessados por alimentos naturais?

Modificar os hábitos alimentares das crianças pode ser um desafio, já que os ultraprocessados são projetados para ter alta palatabilidade. O professor da Escola de Medicina destaca que os pais que incentivam o consumo de alimentos naturais desde os primeiros anos de vida ajudam a construir uma base alimentar saudável. No entanto, muitas crianças só têm esse contato quando começam a frequentar a escola. 

“A escola tem um papel fundamental na educação alimentar, pois algumas crianças só conhecem esses alimentos lá. Esse é um grande desafio que enfrentamos na atualidade e que precisa ser tratado com seriedade. Estamos falando da saúde das futuras gerações, prevenindo doenças como obesidade, hipertensão e síndrome metabólica”, explica. 

Ideias para tornar alimentos naturais mais atrativos: 

  • Crie pratos com uma mistura de frutas, legumes e verduras de cores diferentes para chamar a atenção das crianças; 
  • Corte alimentos em formatos divertidos (animais, estrelas, corações) usando cortadores de biscoito; 
  • Envolva as crianças e adolescentes no preparo. Ao participarem, eles ficam mais interessados em experimentar o que ajudaram a fazer; 
  • Deixe que montem seus pratos ou lanches, como montar sanduíches, pizzas saudáveis ou bowls de frutas; 
  • Desafie a criança a comer algo de cada cor do arco-íris em um dia; 
  • Troque chips por chips de batata-doce ou maçã desidratada. Ofereça frutas com iogurte ou chocolate amargo derretido; 
  • Smoothies, sorvetes de frutas e panquecas de banana são deliciosos e nutritivos; 
  • Explique a importância dos alimentos naturais para a saúde, ou conte sobre a origem deles e como são cultivados. 

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