A Conferência de Estocolmo foi a primeira grande reunião de chefes de estado organizada em 1972 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para debater questões ambientais internacionalmente. O evento aconteceu no dia 5 de junho, data que ficou reconhecida pela ONU como Dia Mundial do Meio Ambiente. Desde então, as discussões sobre sustentabilidade, preservação ambiental e respeito com a biodiversidade ganharam maiores proporções.
A pesquisadora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS Guendalina Turcato Oliveira explica que ações que promovam à conservação e o uso sustentável dos recursos naturais fazem parte dos objetivos propostos pela ONU em 2016 para o desenvolvimento sustentável (ODS). De acordo com a professora, é fundamental promover o debate sobre o tema para a conscientização da sociedade quanto ao impacto que a ação humana vem causando ao meio ambiente.
A docente atua na área de Fisiologia da Conservação, com ênfase em Metabolismo e Endocrinologia, e nas temáticas de metabolismo energético, estresse oxidativo, variações sazonais, cultivo experimental, toxicologia, dietas e estresse, principalmente em Crustáceos, Insetos, Peixes, Anfíbios e Répteis. A professora também coordena o Laboratório de Fisiologia da Conservação, em que são desenvolvidas diversas pesquisas na área.
Na linha de pesquisa em Metabolismo e Endocrinologia são realizadas análises em animais coletados em ambientes conservados e em ambientes com alto grau de impacto da ação humana. Dessa forma, é possível caracterizar adaptações bioquímicas e funcionais desenvolvidas em resposta a agentes estressores no metabolismo energético e no sistema endócrino de diferentes espécies nativas desses animais.
No Brasil, os herbicidas são os agrotóxicos mais comercializados, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Além disso, o País está entre os maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, de acordo com estudos de 2013, da Organização das Nações Unidas (ONU) para Alimentação e Agricultura (FAO). Neste contexto, o Laboratório de Fisiologia da Conservação da PUCRS atua com pesquisas em ambiente natural ou em laboratório para verificar os impactos de herbicidas sobre animais nativos como crustáceos, peixes, anfíbios e répteis.
De acordo com Guendalina, o desenvolvimento de ensaios ecotoxicológicos tanto em ambiente natural como em laboratório permite a padronização de biomarcadores que podem ser usados para o monitoramento da qualidade da água e monitoramento do impacto de poluentes como os agrotóxicos sobre organismos não-alvo. A docente explica que, dessa forma, os dados produzidos experimentalmente podem ser usados nos debates sobre aspectos da legislação, trazendo evidência científicas para garantir uma maior proteção não só ao ser humano como a outros organismos vivos.
Dentre os projetos, os pesquisadores do Laboratório realizaram a pesquisa intitulada Physiological effects of incidental capture and seasonality on juvenile green sea turtles (Chelonia mydas), que buscou estabelecer valores de referência sanguínea para uma população juvenil de tartarugas verdes da região de Ubatuba, São Paulo, e compará-las com animais capturados incidentalmente pela pesca com rede na mesma área.
Com alguns apontamentos da pesquisa, tornou-se possível concluir que a pesca com rede representa uma ameaça para as populações de tartarugas marinhas e que a forma de captura incidental influencia a fisiologia destes animais. O projeto foi publicado no Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, um periódico de trabalhos sobre bioquímica, fisiologia, comportamento e genética de plantas e animais marinhos em relação à sua ecologia. Os resultados obtidos na pesquisa da PUCRS auxiliam em futuros programas de reabilitação de tartarugas marinhas que são capturadas pela pesca no mundo todo.
Outras pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório, com diferentes espécies de peixes e anfíbios frente à exposição a concentrações de diferentes herbicidas, são reconhecidas internacionalmente por estabelecer bioindicadores e biomarcadores sensíveis a este tipo de contaminante. Guendalina destaca que, em alguns dos projetos que analisam o impacto destes herbicidas em espécies de girinos de rã-touro, em espécies de peixes killifish e do peixe Rhamdia quelen, apontam que hábitos adotados pela sociedade impacta no metabolismo destes e de outros animais.
“Essas pesquisas mostram que concentrações legalmente permitidas pela legislação brasileira tem impacto sobre diferentes espécies de anfíbios em sua fase de desenvolvimento aquático, o que pode se constituir em uma ameaça e conduzir a perda de diversidade e de populações destes animais”, alerta a pesquisadora.