O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus) causa a deterioração progressiva do sistema imunológico, que propicia o desenvolvimento de infecções potencialmente mortais, se não tratadas. Dentre as principais vias de transmissão estão as relações sexuais desprotegidas, a partilha de seringas contaminadas, e a transmissão entre mãe e filho durante a gravidez ou amamentação.
Por definição da UNAIDS, devido aos contextos de vulnerabilidade, o HIV afeta desproporcionalmente pessoas que usam drogas injetáveis, transgênero, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e pessoas encarceradas. Reconhecidos como populações-chave, esses grupos representam globalmente 65% dos casos da infecção pelo HIV.
A política de Aconselhamento e Testagem Voluntária de HIV (ATV-HIV ou VCT-HIV em inglês) teve início no mundo em 1985, nos Estados Unidos, com a disponibilização da testagem gratuita fora dos bancos de sangue. Porém, em 1990, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, aconselhou o desuso do Aconselhamento e Testagem Voluntária de HIV (ATV-HIV). De acordo com Ângelo Brandelli, pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, esta decisão foi realizada sem considerar as particularidades e necessidades dos grupos mais afetados pelo HIV.
O professor coordena o Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais (PVPP/PUCRS), responsável por desenvolver diversos estudos sobre HIV/Aids. Mais recentemente, o grupo teve a pesquisa intitulada Eficácia do Aconselhamento e Teste Voluntário de HIV (ATV-HIV) para redução de risco sexual entre populações-chave: uma revisão sistemática e meta-análise publicada na revista científica sobre medicina, The Lancet, do Reino Unido. Seus resultados propõem uma modificação em políticas internacionais em saúde ao comprovar a importância do ATV-HIV para reduzir comportamentos de risco de HIV entre populações-chave.
De acordo com o estudo desenvolvido pelos pesquisadores Lucas Viscardi, Marina Feijó e Anna Martha Fontanari, dos Programas de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde e Psicologia, o Aconselhamento e Testagem Voluntária de HIV (ATV-HIV) fornece aconselhamento antes e depois do teste, com o objetivo de promover estratégias de redução de risco, promover apoio e garantir a vinculação aos cuidados. A fase de pré-teste consiste em descrever brevemente os benefícios do teste, o significado dos resultados e as possibilidades em caso de diagnóstico de HIV positivo.
Já na etapa pós-teste, o aconselhamento varia de acordo com o resultado. Aqueles casos que avaliaram HIV positivo, o pós-teste inclui explicar os resultados, ensinar sobre prevenção do HIV, fornecer preservativos e demais ações que fornecem suporte após um evento de mudança de vida daquela pessoa. O profissional de saúde então deve assegurar o encaminhamento para cuidados especializados e encorajar o teste de HIV dos parceiros sexuais. Desta forma, a pesquisa avaliou a eficácia de estudos de intervenção sobre o ATV-HIV para redução de risco sexual entre as populações-chave.
O estudo aponta que o ATV-HIV é uma ferramenta eficaz para reduzir comportamentos de risco de HIV entre populações-chave, especificamente entre pessoas que usam drogas e homens que fazem sexo com homens. Foi identificado que a exposição ao aconselhamento diminuiu a frequência de relações sexuais desprotegidas e aumentou a frequência do uso de preservativo exclusivamente entre participantes HIV-positivos e casais sorodiscordantes, além de reduzir a incidência de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) entre os participantes HIV-negativos e não testados. Além disso, destacou-se a importância de aplicar uma diretriz clara do ATV-HIV, bem como realizar o treinamento adequado dos aconselhadores.
A atuação do PVPP/PUCRS ganhou destaque internacional em temas sobre a psicologia do preconceito, os modelos da cognição social e do minority stress, e sua relação com processos psicossociais como educação e saúde. Além disso, o grupo produz e avalia intervenções para a mudança de atitudes como a redução do preconceito e acesso à saúde. Outro escopo, seus estudos se concentram em entender de que forma a discriminação afeta os processos de saúde e adoecimento, especialmente saúde mental e infecções sexualmente transmissíveis.
As linhas de pesquisa e intervenção são: estudos sobre populações em vulnerabilidade considerando diversos marcadores como gênero, identidade de gênero, orientação sexual, raça/cor/etnia, status migratório, classe social, entre outros; avaliação do preconceito e da discriminação; desenvolvimento de instrumentos; revisões sistemáticas; estudos epistemológicos e históricos; e emprego de técnicas experimentais em psicologia social e saúde, com o uso de vinhetas. Saiba mais sobre as iniciativas de pesquisa do grupo.
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