A ozonioterapia – procedimento terapêutico que consiste na aplicação da mistura do gás ozônio (O3) com o gás oxigênio em pacientes – tem sido uma polêmica nos últimos meses, principalmente depois da lei que autoriza o uso como tratamento de saúde complementar. A decisão contraria a recomendação de entidades médicas, como uma norma do Conselho Federal de Medicina (CFM), que só autoriza a ozonioterapia em estudos científicos, Ministério da Saúde, que havia recomendado o veto à lei, e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que também não aprova nenhum equipamento de ozonioterapia para uso médico.
Para que a ozonioterapia aconteça, é preciso contar com os ozonizadores – aparelhos projetados para produzir ozônio, uma molécula composta por três átomos de oxigênio. Essa substância tem a capacidade de eliminar bactérias, vírus, odores desagradáveis, alérgenos e poluentes atmosféricos. Esses aparelhos desempenham um papel importante na geração do agente terapêutico utilizado nas aplicações.
Mas como saber se os ozonizadores são eficazes? Um projeto de pesquisa desenvolvido no Laboratório de Química Analítica Ambiental da Escola Politécnica da PUCRS tem justamente este objetivo. No entanto, o foco do estudo não se limita apenas à ozonioterapia, mas também aos ozonizadores usados na desinfecção de ambientes médico-hospitalares, com ênfase para a Covid-19.
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“Eu trabalho com ozônio e ozonizadores há mais de 15 anos, porém com as aplicações voltadas para o tratamento de efluentes líquidos e de água potável. Atualmente, junto com alunos de mestrado, doutorado e iniciação científica, tenho um projeto de pesquisa que testa a eficácia de ozonizadores. Nosso estudo iniciou há 18 meses e, desde então, implantamos os métodos para essa avaliação e já verificamos a geração de compostos não desejados no uso de ozonizadores com ar ambiente. Situação preocupante no caso de uso terapêutico ou estético“, relata Marçal José Rodrigues Pires, coordenador do Laboratório de Química Analítica Ambiental e professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (PGETEMA) da Escola Politécnica da PUCRS.
No estudo, os pesquisadores da Universidade também analisam a concentração de ozônio em ambientes onde os equipamentos são usados, como hospitais, clínicas, consultórios e salões de beleza, por exemplo.
“O nosso estudo é focado em ambientes internos. O ozônio (O3) é um gás reativo que pode estar presente nesses ambientes. Quando a concentração dele aumenta, há risco para a saúde das pessoas, podendo causar problemas respiratórios e cardíacos, que podem ser graves dependendo do grau de exposição”, explica Franciele Annunziato, mestranda do PGETEMA da PUCRS. A avaliação do desempenho e segurança no uso dos ozonizadores está sendo avaliada com a colaboração de Roger Baldissera, também mestrando do PGETEMA da PUCRS, sob a orientação do Prof. Marçal Pires.
O professor Marçal Pires ressalta que o projeto de pesquisa conta com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
“Durante a pandemia da Covid-19 os ozonizadores foram muito usados para a desinfecção de aparelhos, utensílio e de ambientes hospitalares que tiveram contato com pacientes com a doença. Nessa desinfecção é usada elevada concentração de O3 e, portanto, deve ser feita na ausência de pessoas em função da toxicidade do ozônio. Mas depois disso, o uso em diferentes aplicações aumentou consideravelmente. Agora, a demanda por ozonizadores e tecnologias similares deve continuar crescendo. Por isso, a pesquisa é tão importante para tornar essa tecnologia mais segura e eficaz, sem nenhum prejuízo à saúde das pessoas”.