Um estudo publicado recentemente na Revista Nature Communications demonstrou que uma dieta rica em fibras protege contra infecção pelo vírus sincicial respiratório grave (VSR), um dos principais causadores de bronquiolite em crianças menores de dois anos de idade. Atualmente não existem tratamentos ou medidas preventivas para enfrentar essa doença. A pesquisa, realizada em camundongos, faz parte do trabalho de doutorado da aluna Krist Antunes, do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS, e teve orientação da professora da PUCRS Ana Paula Souza, com colaboração dos professores Renato Stein, da PUCRS, e Marco Vinolo, da Unicamp, além pesquisadores associados da Argentina e dos Estados Unidos.
As fibras, após ingeridas, geram a produção de ácidos graxos de cadeia curta no intestino, principalmente acetato, propionato e butirato. Em um dos experimentos, feito de maneira preventiva, os pesquisadores colocaram acetato na água de beber de camundongos por três semanas, e após, infectaram os animais com o VSR. Em outro teste, considerado terapêutico, primeiro infectaram o roedor com o vírus e, após, deram água com acetato como tratamento. Nos dois casos, tanto na prevenção quanto no tratamento, houve a diminuição da carga viral e dos sintomas causados pelo vírus, como perda de peso e inflamação nos pulmões.
Os pesquisadores também fizeram o experimento diretamente com fibras, incluindo-as na ração dos animais, e, do mesmo modo, os resultados foram muito positivos no sentido de proteger os animais da infecção pelo vírus. Para as testagens foi utilizada também uma dieta rica em carboidratos e com zero fibras: “Interessante ressaltar que o animal que ingeria a dieta zero fibras ficava muito pior, os sintomas eram bem mais severos em comparação aos que tinham acesso à dieta controle”, afirma Krist. “ É a primeira vez que esse mecanismo é descrito: uma substância que a nossa própria microbiota produz, que é o acetato, nos protege mediando uma resposta anti-viral contra uma infecção respiratória. Essa é a grande novidade do estudo”, relata Ana Paula.
Coleta de dados em bebês
Em uma segunda etapa do estudo, foi avaliado o nível de ácidos graxos de cadeia curta nas fezes de bebês menores de um ano infectados com o VSR, internados no Hospital São Lucas da PUCRS. Os resultados preliminares mostraram que as crianças que têm menos ácidos graxos de cadeia curta nas fezes são aquelas que ficam mais tempo hospitalizadas e necessitam de suporte de oxigênio por períodos maiores. “Esses dados nos indicam que os bebês que fazem os quadros mais graves de bronquiolite têm menor nível desses ácidos graxos no organismo” confirma Ana Paula.
Reflexo da mudança de padrão alimentar do brasileiro
Krist lembra que o padrão alimentar mudou muito e que o consumo de fibras caiu bastante: “As diretrizes dizem que temos que consumir 25 gramas por dia e o brasileiro consome somente 15 gramas”. Ela alerta que as fibras alimentares solúveis, que levam à produção de acetato, estão presentes em frutas como maçã (principalmente na casca) e na laranja, em maior quantidade na parte branca.
Próximos passos
Para que a pesquisa comece e ser realizada em humanos são necessários ainda muitos passos, como estudos dos dados de segurança e protocolos, o que demanda, além de tempo, apoio financeiro. Renato Stein, que também é médico pneumopediatra, diz que a intenção é pesquisar, no futuro, formas de proteção para a gestante, já que o VSR atinge principalmente bebês desde o início da vida: “Queremos saber se mudando a dieta da gestante ou dando um suplemento que aumente os níveis de ácidos graxos de cadeia curta haverá benefícios para o bebê”, afirma. Os primeiros testes devem ser realizados em modelo animal.