Em 2020, o prédio onde está o Colégio Marista Champagnat completará 100 anos. Com o intuito de conhecer melhor a edificação, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre sugeriu que a PUCRS realizasse uma pesquisa sobre a história, arquitetura e arqueologia do local. A professora do curso de História da Escola de Humanidades da PUCRS e responsável pelo projeto, Gislene Monticelli, afirma que a equipe analisou arquivos com fotografias e documentos para resgatar a história do prédio. Nessa parte da pesquisa, foram estudados materiais desde o momento em que os Irmãos Maristas adquiriram as terras de uma Chácara, que começou como um seminário exclusivo para meninos. “Nessa época, vemos um aspecto rural. Encontramos fotos muito antigas que mostram os seminaristas plantando, mexendo em pomares, hortas. Eles produziam alimentos para as próprias refeições”, comenta. A professora relembra que não existia a avenida Ipiranga, apenas o arroio. Além disso, a etapa da história abordou a ordem de construção dos prédios do Campus. “Podemos, assim, perceber como a PUCRS começou pequena e se transformou no complexo enorme que é hoje”, ressalta ela.
Para conhecer a arquitetura do prédio, foi realizado um levantamento cadastral, ou seja, a verificação de plantas para descobrir as alterações que ocorreram no local ao longo do tempo, como o que foi demolido, reformado e construído, por exemplo. A partir desse momento, o trabalho dos arqueólogos entrou em cena. A professora Gislene explica que foi preciso pedir autorização para o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para a atuação na área do Colégio, porque o patrimônio arqueológico é considerado um bem da União.
De acordo com Gislene, todas as evidências materiais que estão no solo formam sítios arqueológicos, que se tornam os objetos de estudo de arqueólogos. Na área do Colégio Marista Champagnat foram realizadas tradagens, ou seja, perfurações de 30cm de diâmetro e 1m de profundidade a cada 50 metros nos arredores e no pátio interno do prédio. “Com essas tradagens, conseguimos observar o perfil do sedimento que está no solo à procura de carvão, cinza, ossos ou fragmentos, como cerâmica e louça”, salienta a professora. Gislene diz que foi possível encontrar materiais construtivos, como telhas, argamassa e tijolo, além de evidências da existência de aterros. “A maior parte do que descobrimos é do próprio século 20. As obras podem ter tornado mais difícil de encontrarmos evidências como ocupações indígenas. Para encontrar mais evidências, precisaríamos de tradagens em uma malha mais fina”, ressalta a arqueóloga.
Gislene explica que arqueologia, história e arquitetura são áreas que estão interligadas e se complementam. “Para escavar, precisamos conhecer a história e arquitetura do prédio, para saber as modificações do local ao longo do tempo. As três áreas conversam antes, durante e depois do trabalho”, conta a professora. A pesquisa terá como produto final um relatório de mais de cem páginas que será encaminhado para o Iphan, para a Prefeitura de Porto Alegre, para o Colégio Marista Champagnat e para a própria Universidade.
Com o intuito de aproveitar a ação realizada no Colégio, os professores do Marista Champagnat realizaram um projeto interdisciplinar sobre arqueologia com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. O assunto foi tratado não só na disciplina de história, mas também na aula de artes e de biologia, entre outras. Os estudantes tinham como tarefa entrevistar os profissionais que estavam trabalhando no Colégio para preencher fichas sobre o que foi descoberto, o que é arqueologia e como trabalham os arqueólogos.