O professor do curso de Escrita Criativa da PUCRS Luís Roberto Amabile participou da Feira do Livro de Frankfurt, entre os dias 18 e 22 de outubro, na Alemanha. Na ocasião, o docente lançou o livro Hemingway em Paris – Como se tornar um escritor revolucionário nos loucos anos 20 (Zouk, 2023), fruto da sua tese desenvolvida durante doutorado no Programa de Pós-Graduação em Letras, da Escola de Humanidades. A feira é um dos eventos mais importantes do mercado editorial e por ela passam diversos agentes dessa cadeia, como editores, livreiros, agentes literários, tradutores e autores. Para Luís Roberto, participar do evento foi “uma experiência cosmopolita”.
“Frankfurt é a capital financeira da Europa e durante a feira passa a ser a capital dos livros: autores do mundo inteiro se encontram lá. Eu participei a convite do Grupo de Estudos em Escrita Criativa, do Recife, organizado pela escritora e colega do doutorado Patrícia Tenório. Neste contexto, também fiz uma palestra em inglês sobre a minha área, falando da pesquisa que conduzo aqui na PUCRS e sobre a didática da Escrita Criativa. Acredito que pelo meu livro tratar de Ernest Hemingway, um autor conhecido no mundo inteiro, a obra atraiu bastante a atenção”.
Mesmo que o livro tenha surgido a partir de sua tese, a obra lançada em Frankfurt é direcionada a um público mais amplo. Luís Roberto explica que o livro busca contar uma história de modo analítico. A obra mostra como Ernest Hemingway se tornou escritor e a análise se foca na importância do ambiente que ele vivenciou: a Paris modernista da década de 1920. Segundo o docente, nos quatro anos em que esteve na capital da França (1922-1926), Hemingway não se tornou apenas um escritor, mas se transformou em um autor de prosa considerada revolucionária.
“O livro foi escrito numa linguagem mais acessível e está cheio de fotos. É uma obra para quem quer escrever, pois trata de formação de escritores, analisando o caso de Hemingway. Também é uma obra para quem quer conhecer a Paris modernista, pois fala e mostra os lugares icônicos. E é, ainda, uma obra para quem se interessa em ir além dos estereótipos associados a Hemingway, pois desconstrói mitos sobre ele, mostrando a figura humana desse escritor tão conhecido.”
Na feira, Luís Roberto também realizou uma palestra com o título The magic of creative community (A magia da comunidade criativa). O professor explica que o que ele chama de magia é o efeito que um bom curso de Escrita Criativa tem naqueles que participam dele. Como docente do curso na PUCRS, acredita que a comunidade da Escrita Criativa da Universidade agrega e integra pessoas diversas, cada qual com um percurso, cada qual com sua voz social e percepção de mundo.
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Luís Roberto está sempre rodeado por palavras. Para ele, o que torna o curso na PUCRS tão diferente e singular no mercado é que além do tecnólogo, a Universidade oferece o curso em todos os níveis (com certificações, especialização, mestrado e doutorado). Sendo um “celeiro para escritores premiados” (como o autor vencedor do Prêmio Jabuti, Jeferson Tenório), o docente explica que estudantes podem esperar uma visão abrangente das possibilidades existentes para quem quer ser escritor ou busca desenvolver a criatividade na escrita e empregar isso em seu campo de trabalho.
“A Escrita Criativa da PUCRS forma não só bons profissionais, mas seres humanos que gerem impacto na sociedade. Sou o coordenador da especialização “Escrita Criativa: a arte da narrativa” e posso garantir que o curso oferece tudo que se precisa saber para ser escritor, mas também prima pela diversidade. Com isso quero dizer diversidade de autores e autoras, de gêneros literários abordados sem preconceitos, de professores e professoras que também são escritores”.
Além de seu livro sobre Ernest Hemingway, Luíz Roberto também lançou recentemente o livro organizado em conjunto com Luiz Antonio de Assis Brasil e Andrezza Postay, chamado Como animar uma oficina literária – orientações para professores de Escrita Criativa. Destinado aos professores da área, o livro surgiu da pesquisa conduzida pelo Luís Roberto na PUCRS, em Didática da Escrita Criativa, com foco em Educação Transformadora. Luís explica que a pesquisa visa suprir a carência de material sobre Escrita Criativa, sendo o primeiro livro sobre didática de oficina literária.
“A pesquisa é vinculada ao Núcleo que o professor Assis Brasil coordena e do qual a Andrezza faz parte como doutoranda. Nós pedimos a reconhecidos professores de oficinas literárias para escreverem ensaios sobre a metodologia que usam. Então o leitor pode esperar relatos de experiências, o que funciona e o que não funciona, como planejar uma oficina, isto é, reflexões sobre o ofício de professor de Escrita Criativa, sugestões sobre como conduzir os encontros e de exercícios a serem utilizados para estimular a escrita”, comenta o professor.
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Antes de começar a sua vida de docente, Luís Roberto já era aficionado por livros. Leitor desde criança, o escritor estava sempre lendo, mas inicialmente não pensava em escrever. Ele acredita que a vontade começou durante a adolescência, mas a decisão de ser escritor aconteceu quando, em 2010, mudou-se de São Paulo para Porto Alegre para cursar a Oficina de Criação Literária da PUCRS.
“Eu trabalhava num grande jornal paulistano, pedi demissão, mudei de cidade, cursei a oficina, descobri o mestrado em Escrita Criativa, depois fiz dois doutorados (um em Teoria da Literatura, outro em Escrita Criativa) e virei professor. Isso tudo me proporcionou contato frequente e sistemático com a criação literária. Ser escritor para mim vai além de descrever, também envolve pensar, refletir, estudar literatura.”
Há 13 anos, Luís Roberto está em contato direto com estudantes, escritores e amantes da literatura. A sua orientação, enquanto professor, é que os/as estudantes tenham uma “nutrição estética”, isto é, a ampliação do repertório cultural.
“A partir disso, estímulo os/as alunos/as a encontrar seu próprio jeito de escrever, a serem protagonistas de seu processo formativo para se tornarem os escritores que querem ser. Ver isso acontecer, ser parte disso, ter esse contato diário com a arte literária, é muito recompensador, tanto que hoje para mim os ofícios de escritor e professor se complementam”.
Acredito em livros preferidos, no plural. É uma lista que só aumenta. Neste momento estou sob o impacto de Os anos, de Annie Ernaux, que li há alguns meses.
Tampouco conseguiria dizer somente um, mas como “convivo” com Hemingway já faz bastante tempo, não tenho como não o citar.
Um Kindle, porque dá para botar muitos e muitos livros nele, mas se tivesse de ser um livro físico, levaria os contos completos da Lygia Fagundes Telles.
Certamente levaria um dos muitos livros premiados surgidos no ambiente da Escrita Criativa da PUCRS, como o recente Mikaia, da Taiane Santi Martins.
Inquieta.
Procure um ambiente estimulante, onde haja pessoas apaixonadas pela literatura, que achem o assunto importante e, claro, entendam dele.