Pesquisa

Ciência rima com persistência

quinta-feira, 10 de dezembro | 2015

Mártin Haeberlin com os filhos na Alemanha Foto: Arquivo pessoal

Mártin Haeberlin com os filhos na Alemanha
Foto: Arquivo pessoal

Os três vencedores do Prêmio Capes de Tese que representam a PUCRS têm vários pontos em comum: desenvolveram trabalhos relevantes em sua área de estudo; trouxeram novidade para a ciência; fizeram parte de seu doutorado no exterior, agregando conhecimentos; e dois deles estrearam como pesquisadores ainda na graduação. Os excelentes resultados vêm da dedicação e da persistência. Mártin Haeberlin, do Pós-Graduação em Direito, teve 706 livros citados. Na Alemanha, precisou contar com a ajuda da mulher para digitalizar os materiais, pois estava espremido pelo tempo. Marta Hentschke, de Medicina e Ciências da Saúde, analisou sangue de 117 grávidas e suas placentas. Chegou a ir ao Hospital São Lucas de madrugada – afinal, partos não têm hora para acontecerem. Luis Fernando Munaretti da Rosa, da Filosofia, escreveu a tese em inglês, com uma fórmula: “Faça muito e erre muito até aprender”. A entrega do Prêmio ocorre nesta quinta-feira, 10 de dezembro, em Brasília.

"Minha mãe diz: 'Tu gastou a PUCRS' de tanta coisa de que participei. " - Marta Hentschke

“Minha mãe diz: ‘Tu gastou a PUCRS’ de tanta coisa de que participei. ” – Marta Hentschke

Marta, 31 anos, investigou 24 moléculas para verificar a relação com a pré-eclâmpsia, a principal causa de mortalidade materna no Brasil. Pela primeira vez na ciência, foi relatado que a endocan-1 estava aumentada em casos mais graves e com diagnóstico precoce (antes de 34 semanas de gestação). Uma doença hipertensiva gestacional e com repercussões no rim, a pré-eclâmpsia é ainda um enigma. Não se sabe exatamente a sua causa nem o momento certo de intervir. A sua cura só acontece com a retirada da placenta. Em alguns casos, a mulher permanece com pressão alta, mas não é a regra. “Se conseguíssemos um biomarcador dosando o sangue ou a urina da mãe, poderíamos diagnosticar a pré-eclâmpsia antes de se tornar grave e orientar a conduta médica, para avaliar se é o caso de internar a paciente ou não”, diz Marta, que agora faz residência em Obstetrícia e Ginecologia no São Lucas. O orientador foi o professor Carlos Eduardo Poli de Figueiredo, com coorientação de Bartira da Costa.

Marta ficou um ano no King’s College, em Londres (Inglaterra), com orientação da professora Lucilla Poston. Passou numa seleção ainda na graduação e conquistou bolsa da Capes. Avalia que a infraestrutura do laboratório é parecida com a da PUCRS, mas a vantagem no exterior está no preço dos kits para pesquisa. “Em um ano de trabalho lá, consegui o que não teria feito em três no Brasil. ” Outra diferença foi a dedicação integral à pesquisa. “Eles passam o dia inteiro com esse foco. Produzem muito mais. ” Mas, por gostar de se envolver com as pessoas, quer seguir na pesquisa sem deixar a parte clínica de lado. “Vou acabar repetindo o modelo brasileiro”, ri.

Luís Fernando Munaretti da Rosa (D) com colegas nos EUA

Luís Fernando Munaretti da Rosa (D) com colegas nos EUA

Para Haeberlin, 40 anos, a sua tese não seria premiada sem os seis meses na Alemanha, com o professor Ekkehart Reimer. Queria ir para os EUA, mas o coorientador Ingo Sarlet convenceu-o a mudar de ideia. “Lá encontrei bibliografia norte-americana, enquanto nos Estados Unidos não teria acesso à alemã. ” Orientado por Thadeu Weber, reformulou o conceito de interesse público, considerando “o interesse de todos nós de ver realizado o maior empreendimento de cada um”. Sendo assim, todo interesse privado legítimo é também público. Abordou a questão dos direitos fundamentais (parte jurídica) e a evolução do Estado (parte humanista). Defendeu a construção de um estado meritocrático de direito, indo além das ideologias de direita e esquerda. “Dar às pessoas um mínimo de dignidade, garantir assistência básica, não é papel do Estado. É preciso fazer com que cada um seja realizador do seu mérito”, explica. Se contesta essa visão mais socialista, também discorda que a liberdade de mercado possa suprir sozinha as deficiências do Estado. A meritocracia só seria viável em democracias.

Leia a reportagem completa na Revista PUCRS nº 177, páginas 12, 13 e 14.