A média da renda domiciliar per capita do trabalho voltou a cair na região metropolitana de Porto Alegre, alcançando o valor de R$ 1.519 no primeiro trimestre de 2022 – uma queda de 1,3% em relação ao final de 2021. Essa foi a terceira queda consecutiva, desde que a média era de R$ 1.633, no segundo trimestre de 2021. Desde então a queda da renda foi de 7%. Quando comparamos com o período anterior à pandemia, no entanto, a diminuição da renda é ainda maior. Em relação ao primeiro trimestre de 2020, quando a média era de R$ 1.663, a redução é de 8,7%.
As informações estão na oitava edição do Boletim – Desigualdade nas Metrópoles, produzido em parceria pela PUCRS, o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Os dados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita do trabalho, incluindo o setor informal. Todos os dados estão deflacionados para o primeiro trimestre de 2022, de acordo com o IPCA.
De acordo com os dados apresentados pelo levantamento, no último trimestre a tendência de recuperação da renda dos mais pobres – ocorrida depois de uma queda brutal de quase 40% de seus rendimentos no início da pandemia – perdeu força. Entre o final de 2020 e o início de 2021 a renda média do estrato inferior ficou praticamente estagnada, subindo apenas 0,22% e chegando ao valor de R$260. Antes da pandemia, no início de 2020, essa cifra era de R$302. Desse modo, comparando com período de dois anos atrás, a renda dos mais pobres hoje é ainda 13,8% menor.
Segundo Andre Salata, professor da Escola de Humanidades e um dos coordenadores do estudo, a alta da inflação é o principal fator prejudicando a recuperação da renda geral e dos mais pobres em particular. “Em um cenário hipotético de inflação zero, a média de renda na grande Porto Alegre teria aumentado no último ano, assim como a renda dos mais pobres teria tido um acréscimo significativo no início de 2022”.
Além disso, Salata pondera que a recuperação do mercado de trabalho tem sido mais lenta do que o desejado, com uma taxa de desocupação ainda alta, superior a 10%, o que não permite uma plena recuperação em relação ao período pré-pandêmico.
Como consequência desse cenário, o estudo mostra que o percentual de pessoas vivendo em domicílios com renda per capta de até um quarto do valor do salário-mínimo voltou a subir depois de seis trimestres de queda. Entre o final de 2021 e o início de 2022, o percentual foi de 21,4% (927 mil pessoas) para 22,2% (963 mil pessoas), o que, em termos absolutos, representa um acréscimo de 36,5 mil indivíduos vivendo nesta condição na grande Porto Alegre. Antes a pandemia, no início de 2020, essa proporção era de 19%, ou 819 mil pessoas.
Segundo Andre Salata, a desigualdade diminuiu em relação ao pico da pandemia, mas em meio a uma população mais empobrecida. “As medidas de desigualdade, que passaram por um pico ao longo da pandemia, regrediram. No entanto, isso ocorreu em um cenário onde todos ficaram mais pobres. E, o que é ainda mais preocupante, os dados dos últimos trimestres mostram que a recuperação da renda perdeu fôlego”.