Pesquisa

38% dos adolescentes já experienciaram violência no namoro, aponta pesquisa da PUCRS

terça-feira, 26 de março | 2024

Artigo publicado na revista internacional Current Psychology teve como foco investigar fatores de risco para a ocorrência da violência no namoro, considerando adolescentes de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero

A violência no namoro entre adolescentes é um grave problema de saúde pública e uma temática de grande relevância a nível nacional e internacional, exigindo atenção especial de pesquisadores. Trata-se de uma expressão de violência que pode acarretar diversos prejuízos ao desenvolvimento, bem como efeitos negativos para saúde física e psicológica.

A pesquisa Dating violence victimization among sexual and gender diverse adolescents in Brazil (Vitimização de violência no namoro entre adolescentes de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero no Brasil) foi conduzida pelo Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e fez parte do mestrado da aluna Thaís Arnoud, orientada pela professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Luísa Fernanda Habigzang.

A pesquisa foi desenvolvida entre 2021 e 2022 e o artigo foi publicado na revista Current Psychology em novembro de 2023. A revista apresenta qualis A1 e visa disseminar estudos internacionais de diferentes áreas da Psicologia. Isadora Zirbes Linhares, também aluna do PPG, e Gabriel dos Reis Rodrigues, egresso da UFRGS, colaboraram na produção do artigo.

Prevalência da violência

O estudo identificou que 38% dos adolescentes já haviam experienciado violência em alguma relação afetiva/sexual. A pesquisa investigou diferentes expressões da violência no namoro, sendo elas: stalking, agressões físicas, agressões verbais, agressões psicológicas e agressões sexuais.

Uma das principais contribuições do estudo foi não incluir apenas adolescentes cisgêneros e heterossexuais, contando com uma amostra brasileira composta também por adolescentes que fazem parte da comunidade LGBTQ+. Encontrou-se que adolescentes bissexuais e não cisgêneros apresentaram maiores chances de sofrer violência nas suas relações de namoro. Além disso, baixa renda familiar e exposição à violência doméstica também foram preditores de maiores riscos de vitimização.

Os resultados do estudo denunciam o caráter multifatorial da violência e apontam possíveis caminhos para trabalhos de prevenção e enfrentamento. Estratégias de sensibilização e intervenções na adolescência devem, necessariamente, considerar uma perspectiva inclusiva para todas as orientações sexuais e identidades de gênero, considerando suas especificidades. Ainda, políticas sociais de redução de iniquidades socioeconômicas são essenciais para a prevenção da violência no namoro entre adolescentes brasileiros.

A pesquisa foi finalizada e, a partir dela, outras ações foram desenvolvidas pelo grupo de pesquisa. Os resultados encontrados subsidiaram uma intervenção grupal com caráter preventivo que foi realizada com adolescentes entre 15 e 19 anos na região de Porto Alegre. Desenvolveu-se também uma cartilha com o objetivo de sensibilizar sobre a temática em linguagem acessível e fornecer informações sobre possíveis locais de acolhimento e atendimento para adolescentes em situação de violência.