A conferência de encerramento do 10º Congresso Ibero-americano de Docência Universitária (CIDU) teve como protagonista o agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, professor Miguel Zabalza, da Universidade Santiago de Compostela (Espanha). A apresentação, ocorrida em 1º de novembro, no Salão de Atos da PUCRS, teve como tema Coreografías didácticas y Engagement, na qual as universidades foram abordadas numa evolução, desde a fase de centros de ensino, passando pela etapa de contextos de aprendizagem até serem vistas como espaços de vida.
Zabalza centrou boa parte da sua fala na importância da qualidade de vida no ambiente acadêmico frente às constantes cobranças, tanto para discentes quanto para docentes. Relatou que o reitor da Universidade Politécnica de Madri questionou-se em um evento de dirigentes universitários se a instituição está realmente cumprindo seu papel e se está oferecendo aos alunos o que realmente eles precisam. “Sem qualidade de vida é difícil pedir desempenho às pessoas. O desempenho não pode ser obtido num contexto de desgaste e estresse”, refletiu.
O professor espanhol ressaltou que é necessário falar de felicidade na universidade, e que esse tema não deve estar restrito a programas de entretenimento na TV. “Precisamos superar esse tabu”, asseverou. Para exemplificar, citou documento da Unesco, de 2011, que aponta a felicidade como objetivo fundamental da vida humana. Também trouxe os casos da Universidade de Yale, nos EUA, com a disciplina Psicologia e Boa Vida, que lançada este ano foi a mais procurada da história da instituição, com 1.182 estudantes inscritos; mencionou as cadeiras similares na também norte-americana Universidade de Stanford, além da Universidade de Brasília. A respeito de Yale, lembrou que a nova oferta resultou de um levantamento em 2013 no qual metade da comunidade acadêmica buscou auxílio relacionado à saúde mental. Zabalza associa a felicidade ao engajamento estudantil, assunto que norteou o 10º CIDU. “O tema do engajamento deve ter uma leitura institucional. É preciso a universidade aprender a lidar e estabelecer novos vínculos”, analisou.
O criador do CIDU assinalou que nos EUA começam a despontar novos tipos de rankings, que em vez de medir desempenho acadêmico por prêmios Nobel, artigos científicos ou registro de patentes, valorizam a qualidade de vida no campus. “Esses rankings, nos quais os alunos dão sua opinião, não se parece em nada com os tradicionais”, disse Zabalza. Ao concluir a palestra, frisou que “o engajamento e a felicidade não são questões individuais. A instituição universitária tem que participar desse processo. Todos nós temos o compromisso de melhorar as condições que aí estão”.
Durante os dias 31 e 30 de outubro e 1º de novembro o 10º CIDU serviu de abrigo para debates sobre a qualidade da docência universitária, o envolvimento dos alunos com as instituições de ensino superior, o relacionamento entre professores, a importância da revisão de currículos estáticos e baseados unicamente na técnica, além de apontar para propostas de valorização da vida no ambiente acadêmico. Entre cada mesa e conferência houve apresentações culturais de música e dança (confira a galeria de imagens abaixo), resultado de parcerias com outras instituições.
No desfecho do evento, a professora Maria Inês Corte Vitória, presidente da Comissão Organizadora do 10º CIDU, avaliou que o encontro promoveu “três dias de profícua construção de conhecimento, relações interpessoais e intercâmbio de ideias”. Lembrou que “não são só os livros que nos fazem felizes, mas as relações estabelecidas a partir da interpretação deles”. Ela ainda saudou os congressistas que participaram dos simpósios e mesas redondas, além dos pesquisadores internacionais e representantes de 15 países, entre eles México, Peru, Chile, El Salvador, EUA e República Dominicana.
Desde 1999, na Universidade de Santiago de Compostela, os Congressos Ibero-americanos de Docência Universitária, promovidos pela AIDU, têm ocorrido em diferentes sedes e sobre diversos temas de interesse comum da docência universitária. O 10º CIDU foi organizado pela PUCRS com o apoio do Centro de Estudos em Educação Superior da PUCRS (CEES) e promovido pela Associação Ibero-americana de Docência Universitária (AIDU).