Por Ir. Evilázio Teixeira, reitor da PUCRS
Nos últimos dias, um movimento diferente se formou em nosso Campus. Durante a semana PUCRS Sustentável, convidamos a comunidade universitária a imergir em um tema que nos une de diferentes maneiras: a proteção dos recursos naturais e o cuidado com a nossa Casa Comum. Os painéis, debates e workshops foram ponto de encontro de pessoas com um interesse em comum: compreender como agir – individual ou coletivamente – frente aos desafios crescentes e complexos que emergem pela degradação da natureza.
Temos consciência dos riscos, da urgência, mas mesmo com alertas que anunciam que o conflito se dá por nossa sobrevivência, não nos sentimos participantes dele. A emergência climática, por exemplo, mesmo que tenha a ver com todos nós, é comumente encarada como um conflito que acontece lá longe, um conflito do qual não fazemos parte. Há quase dez anos, em 2015, o Papa Francisco publicou a encíclica Laudato Si’, uma carta em que reforça a mensagem que cientistas buscam transmitir há décadas: o que está em jogo é o futuro da humanidade, do planeta, o nosso futuro. Será que quando falamos humanidade, nos percebemos, nos compreendemos como parte?
O nome Laudato Si’ ou Louvado Sejas é uma citação do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, conhecido por seu amor a natureza, e propõe que a educação e a espiritualidade ecológica sejam capazes de impactar nossos modos de vida evidenciando a urgência de sermos menos consumistas, imediatistas, e focarmos em valores duradouros. Francisco enfatiza ainda que a crise ambiental não pode ser dissociada das crises social e econômica. Ele chama atenção para a necessidade de uma abordagem integrada que leve em consideração tanto a dignidade humana quanto a preservação do meio ambiente, pois se somos interdependentes, a consciência de agirmos em torno dessa causa, de agirmos pela vida, nos interliga mais do que nunca. Caminhamos de mãos dadas para um mesmo destino, seja ele bom, seja ele não tão bom assim.
É fato que a distância entre consciência e a sensação de realmente fazer parte do problema pode dificultar que até mesmo pessoas engajadas política e socialmente – ou seja, pessoas que querem agir – tomem uma atitude. Ao longo da história, períodos de incerteza como grandes guerras e catástrofes foram capazes de mudar, de moldar a humanidade para sempre. Quem diria que uma enchente maior do que a vivenciada em 1941 traria ao Rio Grande do Sul, no mesmo mês de maio, semanas de agonia e prejuízos sociais, psicológicos e econômicos 83 anos depois? Se o nosso futuro, como diz Edgar Morin, se chama incerteza, talvez as respostas assertivas ou as certezas que tanto aguardamos para agir nunca venham. Talvez sejamos cada vez mais convocados a agir pontualmente sob pressão, com urgência. Se isso não nos comove, o que ainda seria capaz de nos tocar para que tenhamos atitudes, tanto no âmbito individual quanto coletivamente?
Passado o susto que momentos de caos geram em todos nós, rapidamente voltamos ao nosso padrão usual, crendo que sempre iremos superar as dificuldades, independente do que fazemos no dia a dia. É urgente e necessário a esperança, mas isso nos mostra também que por mais próxima que esteja, a emergência climática ainda nos é apresentada como um evento apocalíptico, dramático, que acontece no futuro e longe de nós [no lugar de um processo crescente, consequência da ação humana na terra e que acontece ao longo do tempo]. Para agravar, uma fadiga de imaginação transborda, afinal estamos distantes disso tudo. Sabemos que tem a ver com poluição, lixo, calotas de gelo, mas a maioria de nós não saberia explicar como nosso comportamento coletivo está gerando uma movimentação de um volume de águas capaz de arrastar um cavalo para cima de um telhado.
É por isso que a crise ambiental que nos ameaça deve ser olhada em cada canto do mundo como uma forma de agir para contribuir para a resiliência local e global. Cada evento climático extremo reflete e refletirá cada vez mais a totalidade das nossas ações coletivas, da gestão ambiental na cidade, no estado, no país, no mundo, mesmo que cada local tenha as suas próprias vulnerabilidades, somos uma grande comunidade de destino. Se o todo está na parte, a crise ambiental que nos ameaça deve ser olhada pela lógica da interdependência.
Momentos como o que propusemos com a Semana PUCRS Sustentável são necessários para nos unir em esperança e ação. Nos unir enquanto Universidade que tem projetos, ações e compromissos e enquanto cidadãos e cidadãs com disposição para compreender a sua parte no todo e agir. Meu agradecimento especial a quem se envolveu e participou.
Vamos em frente mirando um futuro possível que seja melhor para todos e todas.
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