Mais um Natal e uma nova aurora abre as portas para o início de um ano. A fé cristã tem a ousadia e, ao mesmo tempo, a simplicidade de confessar a história deste menino Joshua, conhecido pelo nome de Jesus, como alfa e ômega de toda a criação, para quem tudo converge. Ele é a fonte de todo o saber e de todo o ser, a representação verdadeira da vida, da beleza e da bondade. Num mundo pluralista, de muitas cosmovisões e pontos de vista, onde há quem acredita e não acredita, esta afirmação é demasiadamente simples, e por sua vez, complexa.
Nosso tempo tem dificuldade em conceber grandes narrativas que pretendam absorver em torno de si a pluralidade dos mundos e das verdades. No entanto, a fé cristã não possui, nem pode pretender outro critério de compreensão das coisas, senão Jesus. O Natal, desde a perspectiva do menino, revela que Deus se faz pequeno e frágil como uma criança, para dar espaço às suas criaturas. É verdade, porém, que vivemos numa época na qual nos sentimos mais débeis e frágeis. Estamos mais tentados a ficar na solidão de nossos egoísmos, cada um cuidando de seu mundo privado.
O Natal, então, nos convida a experimentarmos, desde a simplicidade, um Deus amoroso e próximo, que faz história conosco. Qual é a grande pergunta que habita o centro do nosso coração? “Fizeste o nosso coração para Ti e ele está inquieto enquanto não descansar em ti”, Agostinho assim fala, abrindo suas Confissões. A verdadeira pergunta que todos trazemos no fundo do nosso coração é, na realidade, a questão pela infinita dor do mundo, a questão da dor e da morte. O Natal, portanto, está intimamente ligado ao mistério pascal. Compreender o Menino e acolhê-lo no coração passa pela manhã da Páscoa: da paixão, morte e ressureição desde mesmo Jesus. O Natal, sem a Páscoa, pode reduzir-se à lembrança de uma infância perdida, de uma inocência que não volta mais, ou afogar-se no consumismo, numa tentativa de compensação. Pensemos o Natal à luz do domingo de Páscoa, e celebremos a festa da proximidade de Deus, do sol que começa a surgir no meio da noite do mundo.