O psicanalista e cronista italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris foi o conferencista da noite desta segunda-feira, 21 de outubro, no Fronteiras do Pensamento, na noite dedicada à PUCRS, apoiadora cultural do projeto. O evento ocorreu no Centro de Eventos da Universidade e contou com a abertura do grupo de percussão do Centro Social Marista (Cesmar). Calligaris permeou a exposição com histórias de sua vida, sempre na presença do pai, um médico cardiologista italiano.
Durante a sua infância, a família tinha uma biblioteca em casa e, diante dela, o pai lhe disse que há livros que são escritos para tapar buracos na estante e outros para preservar estes espaços. “Nunca parei de me perguntar quais são os livros que tapam e quais preservam os buracos na estante”, afirmou. Usando esta metáfora, o psicanalista disse que essa ideia – de que sempre faltará um livro para preencher o buraco na estante – nos move, pois nunca encontramos um caminho-mestre que tape esse buraco, em busca de um sentido para a vida.
Estudioso de temas como cultura e psicanálise, em especial sobre a suposta obrigatoriedade da felicidade, do gozo, da beleza e dos excessos, o conferencista afirmou que existe hoje uma crítica ao hedonismo, quando se coloca o prazer acima de tudo: “Para aproveitar os ditos prazeres da vida, é preciso atenção. Somos uma cultura bastante desatenta”, alertou, lembrando da importância de se apreciar a vida concreta, pequenos momentos da rotina. Mais adiante em sua exposição, exemplificou acrescentando que, ao visitar museus, elege três obras para apreciar. Durante algumas horas, fica observando aqueles exemplares e não visita outros dentro do mesmo local, não perdendo assim o foco do que realmente importa para ele.
Mas afinal, qual o sentido da vida? Em busca dessa resposta, observou que a única verdadeira obra de arte de cada um é a própria vida. O indivíduo tenta reprimir suas dúvidas quando duvida de suas certezas. “O que responde ao medo da liberdade é a boçalidade. Ser boçal é reprimir no outro a liberdade que me apavora”. E concluiu: “o sentido da vida é a própria vida concreta. A que vivemos e da qual morrer faz parte”. Ao final, o psicanalista participou de um bate-papo com o professor da Escola de Humanidades Luciano Marques de Jesus, com mediação do jornalista Daniel Scola.
Sobre Contardo Calligaris
A trajetória de Contardo Calligaris é marcada pela reflexão sobre a existência humana. No consultório de psicanálise ou em seus textos e livros, Calligaris aborda as questões da adolescência e as angústias provocadas pelos desafios contemporâneos. Em 1985, veio ao Brasil para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma. Posteriormente, acabou fixando residência no País, onde mora até hoje. Publicou diversos livros, incluindo romances e uma peça teatral. Também criou a série de televisão intitulada Psi, exibida no canal a cabo HBO.
Doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provence, iniciou seus estudos nas áreas das letras e da filosofia. Em 1975, foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, onde morou até 1989. Lecionou na Universidade Paris 8 e teve aulas com os filósofos franceses Roland Barthes e Michel Foucault, além de acompanhar os seminários ministrados pelo psicanalista francês Jacques Lacan, uma grande influência em sua formação. Além de atender nos seus consultórios em São Paulo e Nova York, é colunista da Folha de S.Paulo.
Fronteiras do Pensamento
Esta foi a 7ª conferência do Fronteiras do Pensamento neste ano, cujo tema principal é Sentidos da Vida. A última edição terá o filósofo Luc Ferry, dia 11 de novembro.