Estamos em plena transformação do modelo de sociedade que vivemos. Não estamos mais falando sobre o que acontecerá e, sim, o que já está acontecendo. O futuro chegou, os desafios estão postos e muitos países, como o Brasil, não se prepararam minimamente para essa realidade. Agora, correm atrás do prejuízo. O susto, a preocupação, as dúvidas com relação ao emprego e ao trabalho são fruto da falta de planejamento, de uma visão de futuro de lideranças que não souberam ler as dinâmicas que estavam transformando a sociedade desde o final do século passado.
Neste ano, quando milhões de jovens iniciarem seus cursos de graduação em todo o mundo, teremos a primeira geração de estudantes universitários que nasceram neste milênio. Estudos mostram que mais de 60% deles trabalharão em áreas que não existem hoje. Atuarão sob os paradigmas da quarta revolução industrial, na qual as tecnologias em diferentes áreas criam um novo modo de viver e trabalhar, rompendo as barreiras entre os mundos físicos e virtuais.
Evento no Tecnopuc debate o futuro do trabalho
Esse processo de mudança potencializa um crescimento exponencial das tecnologias e suas aplicações, que envolve a interação entre as tecnologias, as novas abordagens de sistemas inteligentes (smart systems) e o uso intensivo de inteligência artificial e machine learning. É essa conjunção de fatores que está mudando a forma de trabalho que conhecemos. Muitas tarefas, pessoais e profissionais, repetitivas e previsíveis, serão substituídas por artefatos e processos gerados por tecnologias. Isso representa milhões de vagas de trabalho que seguirão desaparecendo em ritmo crescente, mesmo que de forma assimétrica no mundo todo.
“Muitas tarefas, pessoais e profissionais, repetitivas e previsíveis, serão substituídas por artefatos e processos gerados por tecnologias. Por outro lado, milhões de novas oportunidades surgirão, envolvendo a criação e o avanço dessas mesmas tecnologias.”
Por outro lado, milhões de novas oportunidades surgirão, envolvendo a criação e o avanço dessas mesmas tecnologias. E aí está a grande oportunidade. Oportunidade para pessoas talentosas e qualificadas. Para os profissionais da sociedade do conhecimento do século 21. Pessoas que desenvolvam continuamente suas capacidades de aprender a aprender e suas habilidades e atitudes empreendedoras. Se o que marca a sociedade moderna é o conhecimento, cada vez mais a capacidade de aprender se tornará um diferencial competitivo relevante, tanto para as pessoas como para as organizações.
As habilidades que emergem nesse cenário envolvem mais do que conhecimentos técnicos e específicos. Os soft skills tornam-se fatores determinantes do desenvolvimento profissional. Habilidades como resolução de problemas complexos, visão sistêmica, trabalho em equipe, inteligência emocional, negociação, aprendizagem ativa, expressão oral e escrita, pensamento crítico, flexibilidade cognitiva, criatividade e pensamento lógico e matemático despontam como algumas habilidades importantes a serem desenvolvidas e aprimoradas. A educação continuada se torna um imperativo.
“Esse mundo das startups e da alta tecnologia se desenvolve, no mundo todo, em ecossistemas de inovação em que a qualidade do trabalho é parte de uma visão mais ampla de qualidade de vida, preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade.”
O presente do trabalho (não o futuro) já mostra com clareza que estamos vivendo uma transição no mundo empresarial com consequências imediatas e crescentes no mercado de trabalho. São novas dinâmicas geradas por um novo contexto das empresas em processo de transformação. As grandes companhias estão sendo desafiadas e superadas por menores, muitas delas startups de alto impacto, atuando em rede em projetos compartilhados.
Esse mundo das startups e da alta tecnologia se desenvolve, no mundo todo, em ecossistemas de inovação em que a qualidade do trabalho é parte de uma visão mais ampla de qualidade de vida, preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade, com a necessária diversidade que gera a criatividade que os profissionais do século 21 incorporam como valores relevantes nas suas vidas. Basta observar atentamente: são pessoas talentosas, cidadãs de um mundo global e colaborativo.
Esse mundo existe em segmentos da sociedade brasileira, em nichos de desenvolvimento pleno em todos os rincões de nosso país. Mas são exceções, são a expressão mais clara da assimetria gerada por uma sociedade que mantém 16% de seus jovens entre 18 e 25 anos na educação superior, que demostra pouca ou nenhuma preocupação efetiva em propiciar uma educação básica de qualidade à totalidade dos jovens. Mudar essa realidade está nas nossas mãos, investir em educação de qualidade e excelência, para formar jovens autônomos e globais, que tragam o país diretamente do século 19, onde aparentemente estamos hoje, para o século 21. Jovens preparados para uma nova sociedade, global, conectada e repleta de oportunidades. Que possam oferecer mais sentido, propósito, para as pessoas e redefina não só o conceito de trabalho, mas também o de vida e o papel de todos em um processo de desenvolvimento menos assimétrico e mais justo a todos.
Esse artigo integra o projeto Ideias para o Futuro, do portal Gaúcha ZH. No dia 24 de abril, a PUCRS e o Grupo RBS promovem evento sobre o futuro do trabalho, no Tecnopuc Crialab.