Definido como o Dia Internacional da Mulher, a data de 8 de março representa a busca por igualdade de direitos e de oportunidades. Apesar de ser uma luta centenária, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas apenas em 1975.
Entre as principais reivindicações durante as manifestações feministas no século 20 estavam melhores condições de trabalho, salários mais justos e a equidade de oportunidades no mercado. Porém, mais de 100 anos após iniciado o protagonismo das mulheres na luta por seus direitos, as desigualdades continuam acentuadas e se mantêm mesmo para aquelas que procuram pela autonomia de serem donas do próprio negócio.
Segundo dados de 2021 do Relatório de Empreendedorismo Feminino: Prosperando na Crise, do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), as mulheres representam 5,6% de proprietários/as de empresas no mundo. O estudo também aponta que em países de baixa e média renda, 17% das mulheres já são empreendedoras e 35% desejam iniciar o próprio negócio. O GEM destaca que os dados reforçam que mais da metade das mulheres nos países em desenvolvimento veem o empreendedorismo como um caminho para um futuro melhor.
No Brasil, 48,7% dos empreendedores são mulheres, somando mais de 30 milhões de donas de negócios. O País é a sétima economia com maior número de mulheres empreendedoras, segundo levantamentos do Global Entrepreneurship Monitor. Dados de 2019 do Instituto Rede Mulher Empreendedora apontam que os negócios são a principal fonte de renda familiar para 38% das mulheres.
“O empreendedorismo feminino é, basicamente, feito por necessidade. Ou seja, a mulher empreende não porque enxerga uma oportunidade de negócio, mas sim porque tem a necessidade de uma renda complementar. E, muitas vezes, essa procura por independência financeira está relacionada à tentativa de se libertar de violências sofridas nos relacionamentos. Então o empreendedorismo também é uma ferramenta de empoderamento para superar situações de vulnerabilidade”, explica a consultora em inovação Gabriela Ferreira, professora da Escola de Negócios da PUCRS.
O levantamento Empreendedorismo Feminino no Brasil, divulgado em 2021, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), aponta que as donas de negócios possuem maior escolaridade comparada aos homens, porém ainda recebem menos. 61% das mulheres empreendedoras têm rendimento de até um salário-mínimo mensal.
A professora Ionara Rech, coordenadora do curso de Administração: Inovação e Empreendedorismo da Escola de Negócios e uma das organizadoras do livro Empreendedorismo Feminino: protagonistas em ação, frisa que para ampliar a equidade nos negócios é preciso atuar em todas as áreas.
“Estamos evoluindo, mudando o cenário externo, mas as mudanças precisam ser graduais e em diversos âmbitos. Parte desde a forma como educamos as meninas: para que tipo de atividade elas são preparadas nas famílias e até mesmo nas escolas? É a partir daqui que são construídas as perspectivas, para que, quando elas cheguem a vida adulta, sintam-se fortalecidas e capazes de competir de igual para igual em qualquer área”, argumenta.
Para Gabriela, os papeis sociais atribuídos às mulheres também reproduzem as desigualdades. “O empreendedorismo feminino não é incentivado pela sociedade porque ainda há questões implícitas, como ‘se a mulher trabalhar, quem irá cuidar das crianças?’. E isso pode ser visto através da própria licença maternidade, que é muito mais longa do que a licença para o homem. É claro que, nesse contexto, entra a amamentação, mas já há países em que o tempo de licença é único e compartilhado, assim os casais podem decidir de que forma os dias serão utilizados por cada um”, comenta.
A consultora em inovação também destaca que as competências necessárias no empreendedorismo estão presentes, principalmente, nas mulheres, mas reforça que a toda diversidade é essencial para o sucesso dos negócios. De acordo com a professora, é primordial que as organizações representem o ambiente e a sociedade em que elas estão inseridas, e isso passa não só pela diversidade de gênero, mas de raça, orientação sexual e de condições sociais.
“Empresas que possuem essas diferentes perspectivas conseguem atuar mais assertivamente para os diferentes públicos. Porém, infelizmente, essa realidade ainda não está presente na maioria das organizações. Todas as competências referentes à inovação são habilidades femininas, o que não quer dizer que apenas as mulheres possuam. São competências como trabalho em equipe, resiliência, criatividade, visão sistêmica e tolerância. Então, a diversidade tem um papel fundamental no empreendedorismo”, afirma Gabriela.
Durante o mês de março, serão publicados conteúdos sobre a trajetória de empreendedoras que fazem parte do ecossistema da PUCRS. Entre elas estão mulheres que passaram por diferentes cursos de graduação da Universidade, pesquisadoras e líderes de startups presentes no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). Acompanhe!
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