Felipe Barrueco Costa, de 40 anos, conta que está gostando muito das aulas. / Foto: Giordano Toldo
A primeira turma do Somar Aprendiz, programa de aprendizagem para pessoas com deficiência lançado em agosto pela PUCRS, em parceria com o Senac, iniciou as atividades neste mês de outubro. Para esta primeira edição, foram selecionadas quinze pessoas com idade mínima de 16 anos. Com duração de um ano, o curso oferta uma formação teórico-profissional focada no desenvolvimento de habilidades técnicas e pessoais. De acordo com Bruna Bernardes, analista de Diversidade e Inclusão da Gerência de Gestão de Pessoas da PUCRS, esta é uma oportunidade de transformar a vida do aprendiz, da família e da comunidade ao redor.
“É uma forma de combater a exclusão que muitas pessoas com deficiência sofrem diariamente na sociedade. Ao receber formação e se desenvolver pessoal e profissionalmente, fica mais fácil encontrar oportunidades e se sair melhor em processos seletivos para conseguir a tão sonhada vaga efetiva”, destaca Bruna.
O grupo de aprendizes que compõe a turma de estreia do programa se destaca pela diversidade: adolescentes e adultos, dos mais tímidos aos mais comunicativos, reúnem-se todos os dias da semana, de segunda a sexta-feira, para aprender e se desenvolver juntos. Felipe Barrueco Costa, de 40 anos, é um daqueles estudantes que transparece seriedade e entusiasmo. Por já ter experiência de mercado, entende a importância de se aprofundar na área em que deseja atuar.
“Eu estou gostando muito de estudar aqui no Senac e pretendo fazer um bom trabalho lá na PUCRS. A área administrativa é a que mais estou gostando de aprender, pois já trabalhei na área e também com telemarketing. Mesmo sendo o mais maduro da turma, eu sempre estou pronto para aprender”, conta o aprendiz.
O sonho de Pamela Ferraz da Conceição, de 17 anos, é ser juíza. / Foto: Giordano Toldo
O aprendizado que Pamela Ferraz da Conceição, de 17 anos, está vivenciando no curso já tem repercutido no seu entorno. “Disseram que fiquei mais madura. E eu concordo, acho que a gente já está com outra postura, cara de trabalhadora”, conta entusiasmada. O curso tem impactado também na forma como a aprendiz enxerga seu futuro. Moradora de uma casa de acolhimento na Zona Sul de Porto Alegre, Pamela testemunha diariamente a importância do trabalho realizado pelas profissionais que atendem o espaço e, hoje, fala com convicção sobre a carreira que deseja seguir:
“Eu quero ser juíza na Vara da Infância. Eu vejo o trabalho que a juíza faz por nós, e quero poder ajudar as crianças”, diz.
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A vivacidade de Joao Vitor Maria dos Santos (16) chama atenção por onde ele passa. Aprendiz mais jovem da turma, ele se desdobra para conciliar o curso com suas outras tantas atividades: colégio, futebol, aula de religião, dança, capoeira… ufa! João também é bastante engajado com a família — costuma fazer companhia para a avó e para o irmão mais novo. E, pela noite, reserva um tempo para atualizar a mãe sobre tudo o que aprendeu no dia.
“Eu converso com a minha mãe, digo tudo. Ela me pergunta: como foi teu dia? E eu conto o que vimos na aula. Hoje foi sobre o uso incessante do celular, que pode ser prejudicial também no trabalho. Para mim foi bom saber disso, pois eu uso bastante, jogo, vejo vídeos e vejo filme”, conta João.
Maira da Trindade Maria, a mãe do João, confirma: “Todos os dias ele fala como foram as aulas, está muito motivado e realizado”. Para ela, o projeto causou um impacto muito positivo na vida do filho, que tem se mostrado mais responsável e feliz. Segundo ela, João sonha em ingressar no mercado de trabalho desde os dez anos:
“Acredito que essa oportunidade o fez expandir os horizontes. Sentir seu crescimento e autonomia em um período tão curto é incrível. Ele hoje demonstra uma responsabilidade e um amadurecimento que eu não acreditava que ele teria. E saber que ele se sente capaz nos tranquiliza como família, acho que como mãe um dos nossos maiores receios é como nossos filhos ficarão na vida adulta, e essa oportunidade vai ajudar a criar caminhos para que ele desenvolva a sua autonomia como cidadão”, comenta realizada.
João Vitor Maria dos Santos, de 16 anos, é o aprendiz mais jovem e sonha em cursar Gastronomia. / Foto: Giordano Toldo
O caminho citado por Maira não é nada simples. Atualmente, pessoas com deficiência têm maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho e acesso à educação, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa revela que, no fim de 2022, apenas 26% das pessoas com deficiência estavam no mercado de trabalho. Entre as pessoas sem deficiência, eram 60%. O levantamento destaca também a desigualdades na educação: a taxa de analfabetismo é quase cinco vezes maior entre pessoas com deficiência. Apenas 25% concluíram pelo menos o Ensino Médio.
Para Bruna Bernardes, a aprendizagem inclusiva é fundamental para que pessoas com deficiência possam receber uma formação e, ao mesmo tempo, colocar em prática os aprendizados. Para o início de 2024, a PUCRS já planeja a formação da próxima turma do Somar Aprendiz. E, enquanto isso, os/as aprendizes da turma da Pamela, do Felipe e do João seguem realizando as aulas teóricas no Senac e práticas em alguns espaços da Universidade — como o Museu de Ciências e Tecnologia, o Living 360°, a Biblioteca e o Parque Esportivo.
“A inclusão é importante para quem está sendo incluído e para quem inclui. Quem inclui aprende e se desenvolve enquanto ser humano e, consequentemente, se torna um profissional melhor. O exercício da empatia, da compreensão, do acolhimento e da paciência são fundamentais para um ambiente inclusivo e acessível. Na inclusão todos ganham”, finaliza.
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