Expectativa é que o Brasil bata novos recordes
terça-feira, 03 de setembro | 2024Expectativa é que o Brasil bata novos recordes
Nadadora Carol Santiago conquistou cinco medalhas individuais nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. / Foto: Ana Patrícia Almeida/CPB
Além de ter recebido os Jogos Olímpicos de Verão de 2024, Paris também está sediando os Jogos Paralímpicos até o dia 8 de setembro, com competições em 22 modalidades. Do Brasil, são 254 atletas de todas as modalidades, com mais 17 atletas-guia (16 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros (ajudantes) da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo.
O Brasil é uma grade potência no esporte e na modalidade paralímpica, com 373 medalhas conquistadas, sendo 109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze. Na última edição dos Jogos Paralímpicos, o país conquistou 72 medalhas. Cinco dessas medalhas foram ganhas individualmente pela nadadora Carol Santiago, que busca mais pódios neste ano.
“Entendo que a gente avança cada vez mais, numa perspectiva de dar mais visibilidade aos jogos paralímpicos e aos seus atletas. Há ainda uma diferença muito grande entre a visibilidade dos dois eventos, principalmente porque ainda envolve muitas dificuldades em patrocínios, reconhecimento e investimentos. Temos atletas fantásticos, o nosso quadro de medalhas paralímpico sempre é superpositivo, os nossos atletas brasileiros têm sempre muitas chances de estar entre os principais colocados, mas ainda é preciso que isso esteja ao alcance do público, que as pessoas possam assistir às competições e conhecer os atletas”, enfatiza a professora Fernanda Faggiani, docente da disciplina de Esporte Adaptado na Universidade.
Um dos destaques da delegação é a mesatenista catarinense Bruna Alexandre, que não apenas disputará a competição paralímpica, mas também participou da olímpica, formando uma dupla com Giulia Takahashi. Ela é a maior medalhista paralímpica do país na modalidade, com dois bronzes nas Paralimpíadas do Rio 2016 e uma prata e um bronze em Tóquio 2020. A disputa de um mesmo atleta nas duas competições é um feito inédito para o Brasil.
Outro nome relevante, apesar de aposentado após Tóquio em 2020, é Daniel Dias, detentor do recorde mundial nas provas de 100 e 200 metros nado peito, além de 100 metros costas e 200 metros borboleta e com 27 medalhas olímpicas, sendo 14 de ouro. O maior medalhista paralímpico do país acompanhará o Time Brasil e faz grandes projeções de pódios para os brasileiros.
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Foto oficial da delegação brasileira na Vila Paralímpica, em Paris. / Foto: Alessandra Cabral/CPB
A competição sediada na França está sendo criticada por falta de preparo, desde as acomodações, até a alimentação. Isso está relacionado a tentativa francesa de promover a competição mais sustentável da história, ao não ter ar-condicionado nos quartos, as camas serem feitas de papelão e apresentar uma grande redução de carne no cardápio. A Vila Olímpica deve acomodar 8.000 paratletas, em seus 82 prédios, que depois da competição virarão moradia para os parisienses.
Com estas questões sendo discutidas, a acessibilidade desta edição dos Jogos Paralímpicos é questionada. O atleta da seleção masculina de vôlei sentado do Irã, Morteza Mehrzad é o segundo homem mais alto do mundo e o competidor paralímpico mais alto da história. O seu técnico revelou que o atleta está dormindo no chão, pois não cabe na cama da Vila Olímpica francesa. Na edição de Tóquio, foi confeccionada uma cama para acomodar o jogador.
“A preparação dos detalhes das instalações esportivas para os Jogos Paralímpicos só aconteceu após o término dos Jogos Olímpicos, no intervalo entre as duas competições. Mas, além disso, estando em Paris deu para perceber que a cidade não tem acessibilidade, é uma dificuldade para se locomover, em alguns lugares só há escadarias, é bem complicado”, comenta o professor e coordenador do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos Nelson Todt.
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Os Jogos Paralímpicos Paris 2024 estão sendo transmitidos ao vivo através do canal de YouTube do Comitê Paralímpico Internacional para muitas regiões do mundo. No Brasil, esta transmissão foi bloqueada por alguns dias e apenas o canal SporTV estava transmitindo, via assinatura paga. Após repercussão popular, a visualização no YouTube foi permitida no Brasil.
O jornalista, escritor e pessoa com deficiência física, Antonio Silva é pesquisador sobre capacitismo. Ele comenta sobre a pouca visibilidade dos Jogos Paralímpicos no Brasil, e por consequência, a falta de reconhecimento dos atletas brasileiros, que estão entre os melhores do mundo e sempre conquistam dezenas de medalhas.
“É preocupante, pois essa era uma ótima oportunidade de falar sobre, e mostrar pessoas com deficiência de uma maneira positiva e tendo resultados relevantes. Isso ajudaria a quebrar o capacitismo que diz que pessoas com deficiência são incapazes ou precisam de apoio para realizar suas atividades cotidianas. Outro ponto importante é o paradoxo que essa falta de transmissão gera, visto que justifica uma transmissão olímpica pelo fato de ter grande expectativa para a conquista de medalhas, o que geralmente não acontece. Ao contrário do esporte paralímpico, que tem grande resultado, mas não recebe a mesma visibilidade”, analisa o pesquisador.
Outro ponto levantado por parte do público e pelos próprios atletas foi a narrativa da superação, evidenciando a parte da deficiência e minimizando os esforços como atleta de elite olímpica. Nas redes sociais, ainda foi possível ver atletas de diversas nações publicando conteúdos cobrando patrocínio e audiência, o que, ainda que de forma bem-humorada, levanta a falta de acesso do público às modalidades paralímpicas e o desinteresse das marcas.
“No esporte, a gente vê uma falta de incentivo e de patrocínios. O Comitê Olímpico Brasileiro possui diversos parceiros para patrocinar os esportes e atletas específicos, o que não é visto no Comitê Paralímpico Brasileiro, com a exceção de casos isolados. Existem parceiros de anos de esportes olímpicos, como do vôlei, mas essas parcerias não são estendidas para as modalidades paralímpicas e isso acaba enfraquecendo o incentivo para que novos grandes atletas surjam. Hoje em dia talento não basta, é preciso investimento e patrocínios”, complementa o publicitário, pesquisador de políticas públicas e mestrando em Comunicação na PUCRS, Leonardo Patikowski.
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