“A proteção do meio ambiente, em sentido amplo, é a única forma de garantirmos a sobrevivência da espécie humana para o futuro”. A declaração do professor Nelson Fontoura, diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS (IMA), é um alerta cada vez mais atual e necessário. O Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho, marca o início da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas e o apelo pela preservação e revitalização da biodiversidade.
Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o movimento tem como objetivo deter a degradação e tornar os ecossistemas mais saudáveis, inclusive para a manutenção da vida humana. De acordo com a plataforma World Environment Day, o bem-estar de pelo menos 3,2 bilhões de pessoas (40% da população mundial) já está sendo afetado pela degradação dos ecossistemas.
Os dados também apontam que 10 milhões de hectares de florestas são perdidas todos os anos no mundo e formas de degradação, como a erosão dos solos, estão custando ao mundo mais de US$ 6 trilhões por ano em perda de produção de alimentos e outros serviços ecossistêmicos. Como consequência, até 2040 podemos vivenciar o aumento de até 30% nos preços dos alimentos devido a uma redução global de produtividade.
“Muitas áreas foram alteradas de forma muito significativa. Florestas e campos nativos que se transformaram em áreas agrícolas. Rios tiveram seus ciclos de vazão alterados, foram interrompidos por barramentos, e tiveram a qualidade de água comprometida. Áreas marítimas sofreram com escassez de oxigênio, fruto do lançamento de poluentes orgânicos e fertilizantes. De forma geral, esses ecossistemas não só perderam a biodiversidade original, como também se tornaram economicamente improdutivos pelo esgotamento de nutrientes, pela salinização do solo, ou mesmo a desertificação”, ressalta Fontoura.
O diretor do IMA ainda salienta que a recuperação de ecossistemas degradados é capaz de trazer não apenas ganhos ambientais, por meio da preservação da biodiversidade, mas também ganhos econômicos e sociais através dos serviços ecossistêmicos (segurança hídrica e climática, por exemplo), melhoria das condições de saúde da população e aumento da perspectiva de renda decorrente de um ambiente íntegro.
Para Fontoura, as mudanças ambientais, principalmente o incremento do aquecimento global, são especialmente preocupantes pela velocidade em que estão ocorrendo. O professor explica que o último ápice glacial ocorreu há 22 mil anos, com o aquecimento gradativo de cerca de 6°C ao longo de 17 mil anos e ápice de temperaturas há cerca de 5 mil anos. “Neste período, a taxa média de aquecimento foi de 0,35°C a cada mil anos. Por outro lado, no ano de 2020 as temperaturas foram em média 1,2°C acima das temperaturas pré-industriais (1880), representando uma taxa de aumento de temperatura 24 vezes maior do que no término da última glaciação. Ou seja, o problema não é apenas a mudança, mas principalmente a velocidade da mudança”, aponta.
O professor ainda relembra que devido ao distanciamento social causado pela pandemia, em abril de 2020 verificou-se uma redução de 17% nas emissões globais de CO², com média de 7% para o todo o ano passado, mas que os níveis estão sendo recuperadas gradativamente, e hoje as emissões já são similares aos momentos pré-pandemia. “Aparentemente o saldo ambiental da pandemia foi ruim. Entretanto, verifica-se que houve uma mudança de cultura nas relações de trabalho, e o home office veio definitivamente para ficar. Isso por si só já é capaz de determinar ganhos ambientais futuros decorrentes da diminuição do transporte diário de pessoas, e este talvez seja o ponto mais positivo”, pondera o diretor do IMA.
A PUCRS administra uma área de conservação ambiental com aproximadamente 2.400 hectares: a Reserva Particular do Patrimônio Natural Pró-Mata, maior RPPN do Rio Grande do Sul. Localizada no Município de São Francisco de Paula, no Bioma Mata Atlântica, a reserva constitui-se como uma unidade de proteção integral, em que é possível encontrar espécies ameaçadas como o puma, a jaguatirica e o tamanduá-mirim, dentre uma fauna e flora muito diversificada.
A Universidade também integra um consórcio com 14 universidades europeias e latino-americanas que tem como objetivo melhorar a gestão ambiental das instituições. O projeto é financiado pela Comunidade Europeia, através do programa Erasmus+.
Desde o início de 2020, professores e pesquisadores da PUCRS integram uma equipe interdisciplinar que visa a estruturação e implementação de Laboratórios de Inovação Social para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O projeto faz parte da iniciativa Climate Labs, reunindo instituições da América Latina e Europa para o fortalecimento das capacidades de pesquisa e inovação. Na PUCRS, a ação é coordenada pelo professor da Escola de Negócios Lucas Roldan.
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