A viagem minuciosamente planejada que precisou ser adiada, a perda inesperada de um emprego, o relacionamento que terminou após o convívio extremo. Nem todos perderam familiares, amigos ou colegas para o coronavírus, mas a maioria de nós sofreu alguma perda desde o início da pandemia. No mínimo, perdemos o dia a dia como era antes.
Com mais de 420 mil mortes no Brasil e 3,3 milhões em todo o mundo, quem não se infectou ou precisou lidar com a perda de alguém querido pode até se sentir protegido ou privilegiado. Mas isso não significa que não esteja lidando com outras perdas e lutos profundos. A pandemia trouxe muitas alterações na vida de cada um de nós, causando impactos significativos e necessidade de adaptações.
Consciente da importância de acolher e dar suporte aos estudantes, o Centro de Apoio Discente da PUCRS criou o Grupo de Apoio Emocional na Pandemia. A iniciativa – com inscrições abertas até sexta-feira, dia 14/05 –, visa a promoção de um espaço para que estudantes de graduação e pós-graduação que estejam vivenciando perdas ocasionadas pelo atual contexto possam compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento. Nos encontros, que iniciam no dia 17 de maio e ocorrem na modalidade online, via Zoom, os participantes também terão acesso ao suporte de profissionais capacitados em técnicas de aconselhamento do luto.
A Universidade está sempre atenta à saúde mental e ao bem-estar dos estudantes, oferecendo serviços de apoio, atenção e cuidado. Durante a pandemia, esse movimento foi ampliado, oferecendo uma série de serviços e ações. Além do grupo de apoio emocional, o Centro de Apoio Discente oferece, por meio de uma equipe multidisciplinar, escuta e acompanhamento (nesse momento no modelo remoto) para as diferentes formas de sofrimento psíquico, acompanhamento aos estudantes com deficiência e/ou necessidades educacionais específicas e oferta permanente de monitorias que auxiliam no processo de aprendizagem e por consequência na saúde do estudante.
Para participar o estudante deve sinalizar interesse escrevendo para [email protected]. É preciso enviar o nome completo, curso, matrícula, telefone, CPF e RG para a reserva de uma das 20 vagas disponíveis. Não há pré-requisitos para a inscrição, mas é importante que a pessoa tenha a percepção de ter tido perdas decorrentes da pandemia. Assim, quem sente que teve alguma perda real ou simbólica está apto a participar.
Ao se inscrever, o estudante deve responder com que tipo de perda ele identifica: projetos pessoais, projetos profissionais, liberdade, alteração no relacionamento com familiares, amigos, colegas, professores, namorado(a), morte de alguém significativo. Para os estudantes que estiverem em luto, será criado um grupo para suporte emocional.
Como o grupo é aberto, o estudante pode participar apenas dos encontros que sentir necessidade, não havendo obrigação de continuar. A cada encontro, as psicólogas responsáveis irão abordar o tema do luto/perdas, visando informar sobre o processo normal e incentivando o compartilhamento de experiências entre os participantes. Na modalidade grupal, cada integrante recebe feedbacks e tem interações com diferentes pessoas, percebendo que não é o único a passar por situações difíceis.
“A troca de experiências permite que os participantes se identifiquem e compartilhem vivências e estratégias de enfrentamento já experimentadas por outras pessoas, gerando segurança para lidar com as próprias dificuldades e evidenciando que não estamos sozinhos”, destaca a professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e coordenadora do Centro de Apoio Discente da PUCRS, Rita Petrarca.
Segundo ela, praticamente todas as pessoas tiveram algum tipo de perda no contexto da pandemia, seja da rotina, dos planos e projetos pessoais e profissionais, dos contatos presenciais com amigos e familiares, entre outras perdas reais ou simbólicas. Ela explica que como resposta a esta situação, um processo de luto é desencadeado, pois estas perdas precisam ser compreendidas e não somente a perda por morte, pois o luto ocorre e é vivenciado frente a diferentes vivências. “Algumas reações como, medo, insegurança, ansiedade, desmotivação, alterações no apetite, no sono e mudanças de humor, entre outras respostas, são comuns em um contexto de crise como este”, destaca.
A coordenadora do Centro de Apoio Discente ressalta que, de forma contraditória, o tempo prolongado de pandemia trouxe uma redução do medo da morte porque fomos aprendendo mais sobre as formas de contágio e de prevenção. Por outro lado, cresceram os sentimentos de impotência, cansaço e desesperança, trazendo dificuldades para perceber os próprios sentimentos, manter a motivação no trabalho e nos projetos de vida. “Não podemos negar o que está acontecendo, mas não podemos desistir de fazer planos e ter metas. Nesse momento temos que postergar muitos desejos, mas não desistir deles. Pelo contrário, temos que ir criando condições internas e externas para que eles possam acontecer assim que for possível”, aconselha.
Ninguém estava preparado para enfrentar uma pandemia, muito menos por tanto tempo e com todas as alterações que ela provocou. A professora Rita destaca que é importante aprender a identificar o que sentimos e poder nomear os sentimentos. “É uma forma de reduzir a intensa carga emocional. Reconhecer os próprios sentimentos gera autoconhecimento e maior capacidade de fazer escolhas e tomar decisões saudáveis para si e para outros. E nesse momento isso é fundamental!”, afirma.
Grupo de Apoio Emocional na Pandemia
Inscrições pelo e-mail: [email protected] até 14/05.
É necessário informar nome completo, curso, matrícula, telefone, CPF e RG.
Início dos encontros: segunda-feira (17/05), das 18h às 19h15.
Modalidade: online, via Zoom.