Além da tensão envolvida nos exames em si, a escolha de carreira é motivo de muita ansiedade entre os jovens
quarta-feira, 04 de setembro | 2024Além da tensão envolvida nos exames em si, a escolha de carreira é motivo de muita ansiedade entre os jovens
Milene acompanhou a filha Helena durante as atividades da última edição do Pré-Grad, evento onde estudantes do Ensino Médio vivenciam uma semana de atividades no Campus da PUCRS. / Foto: Giordano Toldo
Quando os filhos são crianças, a questão “o que você quer ser quando crescer?” é parte comum dos diálogos, e é geralmente levada de forma leve. No entanto, quando eles crescem e chega a hora de tomar decisões importantes, como a escolha de um curso superior, essa pergunta passa a exigir uma resposta séria — o que mexe com a ansiedade e as emoções de muitos jovens. É neste momento que as certezas se dissolvem e podem surgir sentimentos de insegurança, de se sentir perdido e de não saber o que fazer. Por isso, o apoio da família é fundamental.
Para Andreia Mendes, professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, a escolha profissional é um assunto que, além de surgir muito cedo no ambiente familiar, também é carregado de fantasias, idealizações e projeções. “Há um desejo (inconsciente) do adulto de que a criança seja sua melhor versão, ou até de que ela seja melhor que ele”, explica a docente. A escolha de um curso muitas vezes é encarada como uma opção para toda a vida, mas muitas vezes não é assim.
“Uma escolha não pode ser confundida com uma certeza e muito menos considerada como prenúncio de sucesso profissional. Além disso, as profissões têm se modificado muito e não raro não precisam ser genuínas; ou seja, hoje os profissionais se fazem por meio de trilhas e escolhas que vão construindo a sua profissionalidade. Mas, enquanto jovens, nossos filhos ainda não sabem disso”.
Nesse momento tão marcante e intenso na vida de muitos adolescentes, a presença da família como rede de apoio é crucial. No entanto, Andreia alerta: isso não deve ser confundido com superproteção, mas sim ser um efetivo encorajamento. Além disso, essa postura dos pais não deve se dar apenas no momento da escolha do curso, pois se esse movimento já vem sendo recorrente durante todo o desenvolvimento e crescimento do indivíduo, essa e outras decisões podem ser enfrentadas de forma mais tranquila.
Trocas, vínculos e confiança familiar: estes elementos são o alicerce para o diálogo e um componente fundamental para famílias funcionais. Claro que, como em qualquer relação, haverá discordâncias e conflitos, mas também sempre haverá o respeito. É neste ambiente de diálogo que os medos e inseguranças do jovem podem ser compartilhados, vistos e dissipados de forma saudável. É papel da família buscar respostas a estes questionamentos, tirando dúvidas, buscando outras informações e apoiando. Além disso, é essencial que se passe ao indivíduo a noção de que escolhas são apostas – mas também que, se ao conhecer mais profundamente o curso ele se der conta de que não é bem isso, sempre existirá o apoio da família.
“Pais são as primeiras referências dos filhos. Sentir ressonância de suas dúvidas no apoio da família é fundamental para superar estas inseguranças naturais, uma vez que demandam escolhas com impacto no futuro. Os pais não são responsáveis em dar as respostas aos filhos, pelo contrário: não devem escolher por eles, mas mostrarem-se fortes o suficiente e respeitosos por suas escolhas”, pontua Andreia.
Ela ainda destaca que o apoio dos pais, nos dias dos exames, pode vir também de formas práticas, como uma carona, um bom café da manhã e um lanche para ser consumido durante ou após as provas. “Outro aspecto importante é evitar conflitos nestes dias, ou próximo deles. O estudante deve estar concentrado na tarefa”, ressalta ela. E, claro, a motivação e o encorajamento também são importantes, como um “não faz mal”, se as coisas não saírem como planejadas. Todo apoio é muito positivo!
As maiores intempéries emocionais que os adolescentes enfrentam em época de vestibular são a insegurança e a ansiedade – e ambas estão interligadas. Esses sentimentos desorganizam a mente, podendo nos paralisar e criar rotas de fuga. Há algumas formas de identificar sinais dessa confusão mental, segundo a professora Andreia:
“Normalmente a agitação, crises de choro e agressividade são sinais de que algo não vai bem. Mas o silêncio, a apatia e o desinteresse também são indicativos importantes”.
Nesse contexto, a melhor maneira para os pais contribuírem é criando um ambiente positivo, valorizando seus filhos e deixando claro que a aprovação não é um compromisso e enfatizando todas as suas conquistas anteriores – essas atitudes de suporte fazem toda a diferença. Algumas estratégias para construir um ambiente de apoio eficaz em casa são a tranquilidade, a atenção às rotinas e, claro, o suporte emocional. Descansar, criar momentos de lazer e relaxar também são fundamentais para criar uma atmosfera positiva – mas sem deixar de lado a revisão de conteúdos, que pode ser uma boa atitude.
Andreia dá algumas dicas de como os pais podem criar um plano de estudos equilibrado para os filhos, tendo consciência de que eles não são mais crianças, tomam decisões (como a escolha profissional), devem ter autonomia e possuem uma ampla experiência anterior de vida escolar.
“O familiar deve dar suporte ao estudante, no entanto, é fundamental que esta organização faça sentido ao próprio vestibulando. Por exemplo, algumas pessoas preferem estudar a noite, outras dormem cedo e acordam também cedo para revisar os conteúdos. Qual o melhor modelo para o estudante? Esta é a pergunta principal. A partir disso, podemos organizar o ambiente, preparar materiais de apoio e garantir um contexto tranquilo para o estudo. Caso o jovem não esteja conseguindo se organizar sozinho, sempre junto dele, o adulto pode discutir possibilidades, seja na organização de um plano, onde dias, horários e conteúdos são contemplados; disponibilizar provas anteriores para que ele faça exercícios, entre outros”, explica.
Por fim, a docente alerta sobre os riscos de os pais pressionarem demais os filhos durante a época de vestibular: isso pode desencadear um aumento da ansiedade e da insegurança, que por sua vez pode ativar mecanismos de fuga, como o “apagão” ou rotas de fuga – como não acordar no horário ou perder o ônibus, por exemplo. Apesar de ser normal que os pais anseiem pelo futuro dos filhos, os próprios adolescentes também estão nervosos nesse momento. Por isso, a conversa na família é essencial.
“São os pais que têm, nesse momento, melhores condições de acompanhar o jovem. Não tome o assunto vestibular como a única pauta da família, e não esqueça de se mostrar totalmente disponível se o jovem quiser conversar ou precisar de algum auxílio. O carinho é fundamental. Esteja junto, mesmo que em silêncio; disponível – mesmo se estiver muito ocupado – e atento! Valorize, mostre quantos desafios já foram superados, e apoie seu filho!”, finaliza.
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