Ensino

Gilles Lipovetsky explora a autenticidade em conferência na Escola de Comunicação da PUCRS

A atividade faz parte das comemorações dos 30 anos do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom) da Escola

quinta-feira, 04 de julho | 2024

A atividade faz parte das comemorações dos 30 anos do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom) da Escola 

A palestra de Gilles Lipovetsky contou com a mediação coordenador do PPGCOM, Juremir Machado da Silva. / Foto: Felipe Silva Teixeira

O filósofo francês Gilles Lipovetsky esteve na Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos da PUCRS para participar da II Mostra de Pesquisa, que celebra os 30 anos do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom) da Famecos. O evento ocorreu em 3 de julho, quarta-feira. Durante sua conferência, Lipovetsky abordou a temática “Seja você mesmo: o triunfo da autenticidade na sociedade do efêmero”. A seguir, destacamos algumas caminhos possíveis de reflexões sobre a autenticidade.  

De que autenticidade estamos falando?

Segundo Lipovetsky, autenticidade é afirmar a verdadeira essência de si mesmo. Isso significa seguir os próprios desejos e vontades, sem se deixar influenciar pelas expectativas dos outros. Embora pareça simples à primeira vista, na prática é uma questão complexa. Esse ideal caracteriza o individualismo contemporâneo, em que a autenticidade se tornou uma obsessão da nossa era, atingindo consensualmente várias esferas: social, individual, econômica, midiática, familiar, educacional, religiosa e política. 

A incerteza e a desconfiança típicas da contemporaneidade alimentam a disseminação dessa autenticidade, legitimando a busca pela autoafirmação individual através do princípio de “seja você mesmo” ou, como popularmente se diz, “be yourself”.

Leia também: Estudantes do curso de História desenvolvem pesquisa com o acervo da PUCRS

O direito de ser quem somos 

Segundo Lipovetsky, a angústia é algo que todos tentam evitar, surgindo quando nos sentimos incapazes de ser verdadeiramente nós mesmos. Muitas vezes, buscamos a orientação de coaches para nos auxiliar a descobrir nossa essência genuína, a pessoa que realmente somos. No passado, o ideal de autenticidade foi propagado como universal, mas na prática, isso nem sempre se concretizava. Lipovetsky exemplifica que o reconhecimento das identidades trans era impensável em épocas anteriores da sociedade. Com o tempo, a busca por ser genuinamente si mesmo atinge seu ápice, tornando-se um dos princípios fundamentais de nossa existência.

O direito de ser quem somos, a ideologia da autenticidade, emerge como um valor poderoso que transformou não apenas nossa visão de nós mesmos, mas também a maneira como vemos os outros. Essa ideologia não está mais apenas no plano das ideias abstratas; ela se tornou um agente transformador antropológico, alterando nossa percepção do mundo e de nossas interações.

No auditório lotado, Lipovetsky enfatizou que não podemos perder a bússola do social, do científico e do crítico. / Foto: Felipe Silva Teixeira

Outros caminhos possíveis para compreender a autenticidade

O filósofo exemplifica como a forma como nos apresentamos nas redes sociais mudou ao longo do tempo. Anteriormente, falar de si mesmo e descrever o próprio perfil eram práticas reservadas aos diários íntimos, usadas para refletir sobre o passado, entender melhor a si mesmo e buscar aprimoramento moral. Atualmente, porém, essa dinâmica evoluiu significativamente. Nas redes sociais, tendemos a mostrar apenas o nosso lado mais positivo, refletindo uma cultura que valoriza constantemente a autoimagem através de fotos, exposições e promoções pessoais.

Também relembra que a autenticidade não deve ser usada para ignorar as desigualdades sociais, questões políticas ou ameaças à democracia. Destacando que é perigoso cair na armadilha de glorificar líderes populistas simplesmente por serem autênticos. Esse pode ser um dos fatores que explicam o sucesso desses líderes: eles se apresentam como autênticos, expressando suas opiniões sem filtro, agindo como dizem ser, muitas vezes insultando pessoas e alimentando divisões, mas sendo percebidos como honestos. Devemos estar cientes do risco de idealizar a autenticidade dessa maneira. É um campo complexo em que ainda estamos navegando. Para finalizar, complementou: “Não podemos perder a bússola do social, do científico e do crítico” ao discutir e entender a autenticidade.

 A conferência pode ser vista na íntegra no canal do YouTube da Famecos.