Habilidades essenciais para o desenvolvimento humano, a leitura e a escrita estão diretamente relacionadas ao processo de alfabetização. A construção dessas competências auxilia na formação socioemocional e sociocultural e, principalmente na infância, depende de estímulos externos, geralmente de pais e professores. Celebrado na última terça-feira, 8 de setembro, o Dia Internacional da Alfabetização busca refletir sobre a importância desse aprendizado para a formação.
Em mensagem publicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Audrey Azoulay enfatizou direito à alfabetização. “Ao celebrarmos essa data, lembramos o direito fundamental de todas as pessoas de desenvolver as habilidades básicas para ler o mundo e escrever seu futuro. Porque, como disse Kofi Annan, ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, a alfabetização é a chave para realizar o potencial de cada ser humano, a chave para alcançar um mundo cheio de liberdade e esperança”, destacou a Diretora–Geral da Unesco.
De acordo com o pesquisador do Instituto do Cérebro (InsCer) Augusto Buchweitz, professor da Escola de Medicina da PUCRS, alfabetização envolve o desenvolvimento da capacidade de associar os sons da língua aos símbolos (associar fonemas e grafemas). “Os estudos da neurociência cognitiva mostram que o aprendizado da leitura envolve adaptação de redes do cérebro, originalmente programadas para a linguagem oral e processos visuais. Em crianças em idade de alfabetização e em adultos, a adaptação de partes do cérebro para novas funções e a unificação entre processos de compreensão na leitura e na oralidade representam marcos de aprendizagem”, aponta.
Segundo o pesquisador do InsCer, a leitura exige um processo cognitivo não natural para o cérebro, necessitando de estímulos externos constantes. “A criança, em qualquer cultura, naturalmente balbucia, engatinha, começa a andar e falar, reconhece pistas de visuais, orais que traduzem emoções, e assim por diante. Em suma, algumas habilidades se desenvolvem naturalmente; mas ler e escrever, não”, comenta Buchweitz.
Para a professora Rochele Fonseca, docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, uma das principais formas de estímulos à leitura e escrita está relacionada a inspiração entre as gerações. “A influência ou modelagem oportunizada pelos pais ou avós é fundamental para que os hábitos de leitura e de escrita sejam experimentados, adquiridos e depois enraizados nas crianças. O livro deve ser introduzido junto com os demais brinquedos como mais um objeto de prazer, de exploração do mundo, sendo assim emparelhado com todas as possibilidades de se divertir e de conhecer o mundo”, orienta.
A professora ainda salienta que ler é uma atividade cognitiva complexa e desafiadora. Por isso, em geral, se os pais não incentivarem, poucas serão as crianças e os adolescentes que espontaneamente terão “o gosto” pela leitura. “Todos hábitos que demandam maior motivação intrínseca e tarefas mais difíceis deve ser repetido mais vezes até que seja dominado”, reforça.
Única pesquisadora brasileira a revisar e ser consultora técnico-científica do Programa Conta pra mim, promovido pelo Ministério da Educação, Rochele aponta que a interação gerada pela leitura em família é benéfica para o cérebro. “Ler em conjunto com as crianças é o melhor remédio para dificuldades cognitivas e/ou socioemocionais. Ao ler e contar histórias para seus filhos, netos ou sobrinhos, estará ajudando a criança a desenvolver linguagem (vocabulário), inteligência, abstração, imaginação, criatividade, habilidade de teoria da mente (se colocar no lugar do outro e mudar seu jeito de pensar, sentir e agir pelo outro), entre outros tantos ganhos cada vez mais evidenciados por pesquisas”, enfatiza.
Coordenadora do Grupo Neuropsicologia Clínico-Experimental e Escolar (GNCE), Rochele destaca que os dados e estudos demonstram o potencial do hábito de leitura como um neuroprotetor. “Crianças, adolescentes, adultos e idosos que leem/escrevem com maior frequência têm menos impacto ou consequências cognitivas e socioemocionais de quadros clínicos como depressão, transtorno bipolar, comprometimento cognitivo leve a demência do tipo Alzheimer, dificuldades de aprendizagem”.
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A estudante Laura Machado, de 10 anos, aluna do Colégio Marista Rosário, é uma leitora ativa. Para ela, ler é uma forma de aprender e se divertir. “Eu gosto de ler sobre curiosidades do mundo. Acho muito divertido, porque eu aprendo palavras e desenvolvo a fala e a escrita”, conta.
A estudante também comenta sobre os benefícios da leitura em família. “Me sinto muito bem quando os meus pais leem para mim, porque eu aprendo a ouvir. Na escola, por exemplo, temos que saber ouvir os professores e os colegas, mas tem gente que não sabe fazer isso. Escutando os meus pais lendo eu aprendo isso”.
Além de Laura, o pequeno Inácio Machado, de 7 anos, também aluno do Colégio Marista Rosário, adora se aventurar nos livros. “Ler me ensina coisas, como matemática para saber o número de páginas que faltam, e me ajuda a escrever certo”, relata Inácio.