Fotos por: Thamires Rocha
A discente Ana Carolina Pinheiro de Oliveira, da Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos (PUCRS), defendeu nesta quarta-feira (30/4) sua dissertação de mestrado intitulada Como as ruas falam: um estudo sobre as práticas jornalísticas do Jornal Boca de Rua. A pesquisa foi aprovada pela banca avaliadora.
Com orientação da Prof.ª Dr.ª Márcia Veiga da Silva, o trabalho teve como objetivo descrever as práticas jornalísticas do Jornal Boca de Rua, entendendo-o como um ponto de contato entre o jornalismo hegemônico e o saber das ruas.
“A pesquisa foi construída coletivamente com os integrantes do Boca, que participaram de todas as etapas. Este estudo surgiu se propondo a olhar como o coletivo pratica o jornalismo no seu dia a dia e como uma forma de responder às perguntas que eles mais escutam: ‘São vocês mesmos que fazem o jornal?’ e ‘Como vocês fazem?’. Então, delimitamos como objetivo descrever estas práticas do Boca de Rua, entendendo-o como um ponto de contato entre o jornalismo hegemônico e o saber das ruas (a Ruaologia), e analisar em que medida ele se apropria e/ou subverte práticas oriundas deste jornalismo, que é regido por normativas positivistas, masculinistas, racistas e classistas (VEIGA DA SILVA, 2015), na produção de um jornal que tem um lado claro: o do povo da rua”, afirmou Ana.
O Boca de Rua surgiu do encontro de duas jornalistas com um grupo de jovens em situação de rua, que estavam cansados de não se verem representados nas páginas dos jornais. Na contramão de um jornalismo míope, que os invisibiliza, o Boca de Rua emerge como uma proposta de ruptura paradigmática com o jornalismo hegemônico — que os relega à condição de Outro — ao negar a ideia de isenção e propor um jornalismo guiado pelo Nós.
“Também foi possível perceber que, no Boca de Rua, não há hierarquia entre as duas funções estabelecidas pelos integrantes: a de repórter e a de vendedor. Uma é condicionante e interfere diretamente na outra. Por isso, optei por chamá-los pelo termo ‘repórter-vendedor’. Para concluir, também foi possível perceber que o Boca de Rua, único jornal do mundo feito e vendido por pessoas em situação de rua, é um veículo que denuncia sua realidade, conta sua própria história e a dos seus — e revela para todos uma realidade que não estamos acostumados a ver”, complementou.
A banca de avaliação foi composta pelo Prof. Dr. Juremir Machado da Silva (PUCRS) e pelo Prof. Dr. Roberto Villar (UniRitter).
“Ao longo de toda a construção deste estudo, o PPGCom sempre foi um espaço aberto para olharmos, reconhecermos e debatermos outras formas de pensar a comunicação, como foi o caso específico deste estudo, que tinha como foco as práticas jornalísticas de um jornal produzido por pessoas em situação de rua. Foi muito emocionante contar com a presença dos integrantes do Boca de Rua na banca de defesa — e mais ainda poder ouvi-los logo depois de mim, como coautores da pesquisa”, finalizou Ana.