Ensino

Artigo: Educação, jornada contínua

Por Ir. Evilázio Teixeira, reitor da PUCRS

sábado, 27 de abril | 2024

Por Ir. Evilázio Teixeira, reitor da PUCRS

Foto: Giordano Toldo

Platão em uma de suas obras chamada As Leis afirmava que: “O homem pode converter-se no mais divino dos animais, sempre que se o eduque corretamente; converte-se na criatura mais selvagem de todas as criaturas que habitam a terra, em caso de ser mal-educado”.  Tal afirmação segue atual, não apenas considerando-se educação como herança cultural, como também possibilidade aberta num tempo em que indivíduos adultos podem buscar educação continuada ao longo de toda a vida.  De cursos pagos a gratuitos, do presencial ao online, de cursos longos a curtos, certificados e não certificados. Há opções variadas, o que ratifica a ideia de que educação é uma jornada contínua.

A educação é feita por meio de pessoas e não de métodos. Os métodos facilitam o caminho, mas não garantem a finalidade em si. A educação é essencialmente relação. Portanto, nada mais óbvio que compreendermos que a responsabilidade educacional recai sobre formar pessoas plenas e satisfeitas em sua autonomia e liberdade, pessoas preparadas para a vida presente e futura, qual seja fazê-la dona de si, educá-la de modo que consiga rapidamente o governo completo e rápido de todas as suas capacidades.

O fundamento do conhecimento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir. Aprender para conhecer supõe primeiramente aprender a aprender. Educar implica numa atitude de escuta para o clamor que vem do outro. E mais do que nunca, a educação parece ter por finalidade essencial conferir a todos os humanos a liberdade de pensamento, de julgamento, sentimento, e imaginação no sentido de ajudar a pessoa a expandir seus talentos e tornar-se também, tanto quanto possível, mestre de seu destino.  

Não é possível nem mesmo apropriado que cada indivíduo acumule ao longo de sua vida apenas um estoque de conhecimento. Será preciso, sobretudo, que seja ao longo se sua vida capaz de aprofundar, enriquecer este conhecimento e se adaptar em um mundo em mudança. A educação deve ser permanente: é uma construção contínua da pessoa humana, de seu saber e de suas aptidões, mas também de sua faculdade de julgamento e da ação. A educação deve permitir que a pessoa tenha consciência dela mesma e de seu desenvolvimento. A educação ao longo de toda a vida diz respeito, portanto, a conhecimento – aptidões – valores – atitudes.

Todo o ser humano de certa forma é medido graças à educação que recebeu na sua infância e na sua juventude – uma boa educação nestas duas etapas vai permitir que o indivíduo se constitua como um pensamento autônomo e crítico, capaz de forjar seu próprio julgamento, e determinar por ele mesmo aquilo que estima que deva fazer nas diferentes circunstâncias da vida. Tem por objetivo o crescimento completo do ser humano em toda a sua riqueza e complexidade de expressões e de engajamentos: indivíduo, membro de uma família e de uma coletividade, cidadão e produtor; inventor de técnicas e produtor de sonhos. Educar implica numa atitude de escuta para escutar o clamor que vem do outro.

A novidade contemporânea é a convicção de que a necessidade da educação permanente não se encerra com os ciclos formais, como escola e universidade. A rapidez das mudanças e as perguntas cada vez mais incidentes e velozes que a vida nos coloca, incitam a assumirmos aquele lema do filósofo: “Nada que é humano me é estranho”. Ou seja, temos de ser estudiosos dos mais embaraçosos problemas modernos, estudioso das civilizações, da sociedade, do humano, das relações e, sobretudo, negociadores entre identidades e diversidades.

Como vivemos numa época de grandes transformações e inúmeros desafios, nunca, como agora, fomos convidados a dar uma resposta significativa e eficaz à problemática da vida. Somos interpelados a responder e acolher as interrogações da existência, para que, renovados pelo processo educativo, sejamos capazes de nos transformarmos e transformarmos assim toda a humanidade.

Por fim, e não menos importante, é a associação existente entre educação e liberdade. Nas relações com o outro, a pessoa deve buscar sua autonomia sem destruir a autonomia do outro. A liberdade de que a pessoa humana é dotada está limitada pela existência e pela presença do outro. Quanto mais a pessoa se harmoniza em seu interior, tanto mais é capaz de construir laços significativos, porque mais se aproxima do outro, mais realiza sua natureza constitutiva, e mais capaz se torna se conviver com o outro. A relação educativa e pedagógica é basicamente uma relação do “eu” e o “outro”. Se equilibrada e madura, provoca o crescimento. Se desequilibrada, imatura e conflituosa, haverá o predomínio de um sobre o outro e tira a chance de proporcionar reais condições para o crescimento de ambos.

A sede de conhecer é insaciável no ser humano. A dinâmica deste querer conhecer revela-se nas constantes perguntas que o homem faz sobre a natureza das coisas, mas, mormente, sobre si mesmo, seu fazer e o sentido de sua vida. O homem busca o Infinito, procura insaciavelmente descobrir o mistério de sua existência. Essa busca não se dá por saltos. Ela é gradativa. É educativa! O percurso do desenvolvimento humano dá-se em forma de espiral, isto é, volta para trás em direção ao ponto de partida, mas não retorna precisamente ao mesmo ponto.

No fundo de cada ser humano existe o desejo e o chamado de realizar plenamente todas as potencialidades de sua natureza. Entre as necessidades fundamentais do homem, a mais importante é a da realização: um contínuo impulso a aproveitar os próprios talentos para metas que têm significado. O ser humano, por sua natureza, é alguém que se interroga. É inquieto. O homem é ser aberto e não fechado sobre si próprio. É inato no homem o querer conhecer: conhecer as leis que governam a natureza, o cosmos; conhecer a si próprio, buscar o sentido de sua existência. O homem se revela como um ser em busca de um sentido, em busca de ser educado ao seu tempo e educador de gerações futuras.

*Conteúdo publicado originalmente em GZH.