onça-pintada, Vagalume

Foto: Rodrigo Teixeira/Divulgação

Com a participação de especialistas de sete países, a PUCRS liderou o sequenciamento do genoma da onça-pintada, o maior felino das Américas, que está ameaçado de extinção. Hoje restrito a menos da metade da área original, ainda ocorre com certa abundância na Amazônia e no Pantanal, mas está criticamente ameaçado de desaparecer da Mata Atlântica. Os dados foram comparados aos genomas de outros quatro grandes felinos (tigre, leão, leopardo-das-neves e leopardo), todos do gênero Panthera. A análise dessa enorme gama de informações foi feita durante cinco anos, sob a coordenação do professor da Faculdade de Biociências da PUCRS Eduardo Eizirik, e resultou na publicação de artigo na revista Science Advances nesta quarta-feira, dia 19 de julho.

Vagalume

O primeiro genoma da onça-pintada foi obtido do macho Vagalume (foto), que vivia no Zoológico de Sorocaba (SP). Nascido na região do Pantanal em 1997 e pesando 94 quilos quando adulto, foi deixado no local quando filhote, após a morte da mãe. “Procurei um animal de cativeiro, para facilitar a coleta de amostras, mas que fosse originário da natureza”, comenta Eizirik.

Cruzamentos entre os felinos

Há 4,6 milhões de anos, os cinco grandes felinos tinham um ancestral comum, que era parecido com o atual leopardo. Ele deu origem às espécies atuais e também a outras já extintas, que a partir da Ásia se espalharam por quase todo o planeta. O estudo revela que houve diversos tipos de cruzamentos entre essas espécies ao longo de sua evolução, o que pode ter contribuído para a sua sobrevivência até o presente. “Esses animais não têm um número estável. Como predadores de topo, são suscetíveis a mudanças ambientais, como a diminuição das presas, declinando rapidamente e perdendo a variabilidade genética”, explica o professor.

Um dos casos detectados de hibridação (cruzamento entre diferentes espécies) ocorreu entre a onça-pintada e o leão, e provavelmente foi vantajoso para a primeira. Os pesquisadores descobriram que ela herdou dois genes envolvidos na formação do nervo óptico, que após a hibridação sofreram seleção natural positiva (ou seja, foram importantes para a adaptação da espécie).

O estudo também aponta outros genes com evidência de seleção natural que mostram adaptação das espécies às novas condições ambientais. Isso pode explicar por que a onça tem a mordida mais forte entre os grandes felinos, conseguindo predar jacarés e tartarugas, com seus cascos duros. Outro exemplo é o fato de o leopardo-das-neves suportar mais a falta de oxigênio. Ele vive nos Himalaias, a mais alta cadeia montanhosa do mundo, e no Tibete, na Ásia.

Tigre, leão e leopardo-das-neves já tinham o genoma sequenciado. O grupo de William Murphy, da Texas A&M University, contribuiu com o sequenciamento do leopardo, permitindo a análise feita para o artigo, que pela primeira vez inclui genomas de todas as espécies desse grupo. Então aluno de doutorado em Zoologia pela PUCRS Henrique Figueiró, orientado por Eizirik, trabalhou nos dados sobre o sequenciamento do maior felino das Américas.

Conservação da espécie

“A partir das descobertas, nosso grupo e colaboradores no Brasil e em outros países estamos conduzindo estudos genômicos ainda mais detalhados das onças-pintadas, envolvendo múltiplos indivíduos de diferentes regiões, o que será importante para aprimorar as estratégias atuais para a conservação dessa espécie”, afirma o professor.