Foto: Camila Cunha

Brandelli, Soraia e Favaretto / Foto: Camila Cunha

Uma tecnologia capaz de detectar, por meio de sequência de vídeos, traços da personalidade, emoções e até mesmo a origem cultural de um grupo de pessoas. O que parece roteiro de filme de ficção científica é resultado da ampla investigação interdisciplinar em parceria dos pesquisadores Soraia Raupp Musse, da Escola Politécnica, Angelo Brandelli, da Escola de Ciências da Saúde, e o doutorando em Ciência da Computação, Rodolfo Favaretto, responsável pelo desenvolvimento do software GeoMind.

A tese, realizada nos últimos quatro anos, utilizou dados geométricos, como a posição e o distanciamento entre uma pessoa e outra, para obter respostas a questões que, na psicologia, são alcançadas por meio de resposta a questionários ou observações. O projeto demonstra, entre suas propostas, que a personalidade de uma pessoa não diz respeito apenas a como ela se autoavalia, mas também em como ela se desloca no espaço em relação às outras. E isso tudo levando em conta a cultura de origem do indivíduo, seja ele brasileiro, alemão ou indiano.

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TRENDS PUCRS, Pesquisa, PROPESQ, Internacionalização

Odir Dellagostim, presidente da Fapergs, abriu o evento / Foto: Bruno Todeschini

O Trends PUCRS, em sua edição de abertura do segundo semestre, apresentou como tema central os rumos da pesquisa e da pós-graduação no Brasil, abordando especialmente o cenário de incertezas frente à redução de verbas de fomento à investigação científica e cortes de bolsas. Durante o evento realizado nesta quarta-feira, 28 de agosto, no auditório do Living 360°, os palestrantes reconheceram as dificuldades, relataram situações adversas vivenciadas no passado e recomendaram persistência e foco à plateia formada por alunos, professores e pesquisadores.

O diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do RS (Fapergs), Odir Dellagostim, abriu o encontro traçando um panorama da agência de fomento gaúcha, a segunda a ser criada no País, há mais de 50 anos. Lembrou que os orçamentos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) sofreram cortes, comprometendo bolsas e o custeio de pesquisas. De acordo com o gestor, 10% da verba disponibilizada por essas duas agências vêm para o Rio Grande do Sul, e o estado honra os valores recebidos, apresentando resultados relevantes para a sociedade. “O RS tem 2.500 doutores, a maior densidade no Brasil, com uma relação de 123 doutores para cada 100 mil habitantes, sendo superior a São Paulo”, relatou. Ele ainda disse que, embora seja baixo (cerca de 0,5% da receita líquida estadual), o orçamento da Fapergs é cumprido.

TRENDS PUCRS, Pesquisa, PROPESQ, Internacionalização

Augusto Buchweitz, do Instituto do Cérebro / Foto: Bruno Todeschini

Entre os retornos sobre os investimentos em pesquisa, Dellagostim citou que estado conta 65 programas de pós-graduação em nível de excelência internacional (notas 6 e 7 na Capes), e que um terço dos alunos estão nesses programas. O RS também ocupa o 4º lugar em volume de publicações científicas no Brasil, contribuindo com mais de 11% de todos os artigos produzidos nacionalmente. O diretor-presidente assinalou que 10% de toda a produção científica gaúcha provém da PUCRS, que abriga dois dos nove Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) do RS.

Internacionalização

O professor Augusto Buchweitz, especialista em Neuroimagem da Cognição Humana e pesquisador do Instituto do Cérebro (InsCer), trouxe experiências pessoais e profissionais ao abordar a importância da internacionalização da carreira acadêmica. Reconheceu que as incertezas atuais dificultam trabalho de pesquisa e de pós-graduação, mas destacou a conquista do PUCRS PrInt, programa que tem garantido forte intercâmbio de conhecimento com universidades de outros países. O docente foi crítico em relação à permanente cobrança por impacto das pesquisas e relembrou uma frase do Global Research Council, na qual vale mais demonstrar a importância de um projeto para as pessoas do que tentar adivinhar o seu impacto.

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Professora Soraia Raupp Musse, da Escola Politécnica / Foto: Bruno Todeschini

“Somos cobrados por impacto, mas devemos repensar isso, ponderando as diferenças entre pesquisa básica e aplicada. É importante não se frustrar com a imprevisibilidade e os pareceres dos avaliadores, especialmente os estudantes. Manter a curiosidade, ser sistemático e buscar pessoas que possam nos apoiar são as melhores iniciativas”, recomendou. Buchweitz também recordou sua trajetória acadêmica, relatando que durante o doutorado sanduíche ficou seis meses no exterior sem receber sua bolsa. No entanto, estreitou relacionamentos e abriu portas para o pós-doutorado. Hoje, vê seus orientados sendo aprovados em concursos pelo Brasil.

Da bolsa de IC à docência

A terceira palestrante foi Soraia Raupp Musse, especialista em Computação Gráfica, Processamento de Imagens, Realidade Virtual e Interação Humano Computador, além de pesquisadora e professora da Escola Politécnica. Inspirada em vinhetas televisivas nos anos 1980, ingressou como caloura de Ciência da Computação na PUCRS, em 1986. Solicitou – e conquistou – uma bolsa de Iniciação Científica (IC), principiando na carreira de pesquisadora. Durante o mestrado, cursado no início dos anos 1990, contou que precisava aplicar o valor da bolsa para não desvalorizar no período de um mês, tamanha era a inflação registrada à época. Nesse período, o meio científico também foi impactado com o fechamento da Capes pelo governo Fernando Collor. A reabertura ocorreu tempos depois.

O doutorado realizado na Suíça – após ser selecionada como a única mulher entre 40 candidatos – abriu as portas para novas possibilidades profissionais. Graças ao tema crowd simulation (simulação de multidões), indicado pelo seu orientador, conquistou espaços importantes no meio científico internacional como pesquisadora. Além de ter defendido a primeira tese no mundo sobre o assunto, desde seu retorno ao Brasil, no ano 2000, dedica-se à área, com orientações de mestrado e doutorado, além de diversas publicações. Atualmente, é a segunda pessoa mais citada na área, tendo publicado livros e artigos a respeito.

TRENDS PUCRS, Pesquisa, PROPESQ, Internacionalização

Foto: Bruno Todeschini

Sobre o momento atual, prefere manter uma atitude otimista. “Quero crer que vai dar certo, pois a sociedade está se mobilizando e manifestando em relação aos cortes de verbas para a pesquisa e a pós-graduação”, comentou. Soraia ainda aconselhou aos integrantes da plateia a captarem recursos para seus projetos em diferentes fontes, não esperando apenas por órgãos de fomento oficiais.

Trends

O professor Christian Kristensen, diretor de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq), ressaltou que o evento resultou de solicitações dos alunos de mestrado e doutorado e dos debates internos dos gestores da área. O objetivo foi refletir e trazer perspectivas para docentes e discentes. Até o final do ano estão previstas novas edições do Trends, colocando em pauta temas de interesse da sociedade.