No dia 13 de maio foi lançado o livro Manual de Internação Psiquiátrica, que reúne textos de diversos especialistas que compõem o Serviço de Psiquiatria da PUCRS, em atividade há mais de 40 anos. Os autores principais foram Lucas Spanemberg e Marco Pacheco, ambos professores da Escola de Medicina da PUCRS, além de duas alunas da especialização em Psiquiatria da Universidade (Alícia Souza de Andrade e Kyuana Azeredo de Lima). Como coautores colaboraram professores e médicos vinculados à PUCRS, bem como a outros hospitais e universidades.
Até a publicação dessa obra, não havia nenhuma outra nacional exclusivamente voltada para o cenário de internação psiquiátrica. Assim, o livro intenciona cobrir uma lacuna e oferecer a especialistas em saúde mental, professores, alunos de graduação da área da saúde, residentes em saúde mental e psiquiatria, um compilado de conteúdos voltado a capacitar e esclarecer sobre patologias, situações e circunstâncias relacionadas à internação psiquiátrica. O livro se propõe a ser um guia prático, tendo como objetivo se tornar referência literária sobre o estado de arte da internação psiquiátrica, atualizando a literatura pertinente nas suas diversas seções.
A internação psiquiátrica é o local onde frequentemente situações dramáticas e graves encontram uma oportunidade de mudança de trajetória e correção de rumos. É também um ambiente único, diferente dos cenários de atenção primária e ambulatórios especializados, onde o próprio ambiente é uma variável fundamental. Por isso, pensar esse ambiente e as práticas que o regem torna-se algo fundamental aos médicos psiquiatras, para que esses possibilitem o melhor tratamento a seus pacientes.
O livro físico pode ser adquirido no site da editora Manole, por meio da qual a publicação foi realizada, além disso, o formato Kindle está disponível para compra na Amazon.
A internação psiquiátrica no Brasil começou a mudar na década de 1940, com a médica Nise Silveira, que atuou no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Até o momento, as técnicas empregadas nos pacientes eram agressivas e a eles eram atribuídas funções como limpar a unidade em que estavam internados. Silveira se opôs a tratamentos como eletrochoques, insulinoterapia e lobotomia e criou ateliês de pintura para que os pacientes pudessem realizar suas manifestações artísticas, algo que pode ser vantajoso no tratamento psiquiátrico.
Na década de 1970 iniciou-se, efetivamente, o Movimento da Reforma Psiquiátrica no País e há 34 anos aconteceu a primeira Conferência Nacional de Saúde Mental no Brasil, no dia 18 de maio, atualmente considerado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Esses esforços não foram em vão, seu resultado veio no ano de 2001, quando o então presidente, Fernando Henrique Cardoso, sancionou a lei Paulo Delgado (Lei 10.216 de 2001), conhecida como lei da reforma psiquiátrica.
O período posterior ao sancionamento da lei foi marcado pela redução dos manicômios e hospícios no País, visando encontrar formas de assistência em liberdade, com ambientes substitutivos aos manicomiais, e defendendo os direitos dos pacientes. Também foi essa lei que criou os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) no Sistema Único de Saúde (SUS), tornando o acesso a tratamentos maior e mais democrático.
Atualmente, a internação psiquiátrica tem como objetivo ser um ambiente humanizado, que respeita os direitos dos internados e não os discrimina em nenhum aspecto. Dessa forma, torna-se extremamente necessário um manual que oriente essas práticas e possibilite a atualização dos psiquiatras quanto às mudanças ocorridas na área. Além disso, a pandemia causada pelo coronavírus e o consequente isolamento social, afetaram a saúde mental da população, conforme demonstrado pela pesquisa Covid-19 e Saúde Mental, realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), tornando evidente a necessidade da ação de psiquiatras, que devem ter subsídios para orientar suas condutas profissionais. Para tornar o manual ainda mais atualizado, os autores da publicação trouxeram informações referentes à internação psiquiátrica durante a pandemia de Covid-19.