O médico educador e agente de inovação

Leonardo Araujo Pinto / Foto: Bruno Todeschini

Em 1796 o inovador médico britânico Edward Jenner extraiu uma secreção de uma mulher com varíola bovina e inoculou em um menino saudável, James Phipps. O menino contraiu apenas uma forma leve da doença. Cerca de 2 meses após, James Phipps foi exposto a varíola humana e não contraiu a doença. As ideias inovadoras de Jenner levaram ao desenvolvimento da vacina que erradicou a varíola e abriu espaço para outras imunizações que mudaram, para melhor, a história da medicina e da humanidade. 

Neste momento de pandemia, o papel dos médicos e das instituições de ensino vai além da função mais essencial de dar assistência e salvar vidas. É preciso inovar na busca de soluções para problemas cada vez mais complexos. Tem se trabalhado intensamente no desenvolvimento de uma vacina que traga esperança e segurança. 

Universidades e fundações de pesquisa historicamente prestam benefícios à população. A Escola de Medicina da PUCRS, que está completando 50 anos em 2020, tem contribuído muito ao longo da sua história: são mais de três mil médicos formados e um grande número de pesquisadores que estão hoje espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Há uma rede de Alumni trabalhando em algumas das mais renomadas instituições da Europa e da América do Norte e, frequentemente, mantendo colaborações com a PUCRS ou outras universidades brasileiras. 

Entretanto, o desafio agora vai além. É cada vez mais necessário traduzir conquistas da medicina e da ciência sem ruídos ou mal-entendidos. Nós, médicos, temos uma missão essencial na educação para saúde e divulgação da ciência de forma compreensível e clara. A evolução da pandemia e o medo levaram à disseminação de soluções fáceis e falsas, que prejudicam. Em contrapartida, existe um potencial enorme de cooperação entre médicos, pesquisadores e a imprensa para facilitar informações novas, confiáveis e que possam, além de beneficiar a saúde da população, gerar aprendizados sobre o que estamos vivenciando 

Uma das profissões mais evidenciadas pela pandemia provocada pelo novo coronavírus, médicos e médicas têm atuado heroicamente na linha de frente do combate à Covid-19. Celebrado neste domingo, 18 de outubro, o Dia do Médico é uma homenagem àqueles que se dedicam a salvar vidas, desenvolver soluções para os problemas de saúde e promover impactos sociais positivos para a população. 

Decano da Escola de Medicina da PUCRS, o médico Leonardo Pinto ressalta o papel fundamental da Universidade para a formação de profissionais. “A Escola de Medicina, que completa 50 anos em 2020, tem contribuído muito ao longo da sua história: são mais de três mil médicos formados e um grande número de pesquisadores que estão hoje espalhados pelo Brasil e pelo mundo”, destaca. 

Para o decano, o atual momento tem apresentado novos desafios, exigindo que os profissionais trabalhem com problemas cada vez mais complexos e interdisciplinares. Além da atuação prática, Pinto salienta que os médicos possuem a missão de contribuir em temas como a educação para a saúde e a divulgação da ciência. 

Formação para o presente e futuro 

estudante do 8º semestre do curso de Medicina, Rafael Vianna Behr, ressalta que a presença de temas como empreendedorismo e inovação no currículo da graduação favorecem o contato dos estudantes com áreas crescentes no cenário da saúde.  “Eventos como a Maratona de Inovação da PUCRS são oportunidades para que possamos atuar no desenvolvimento de soluções para os problemas que observamos existirem na prática diária da medicina”, comenta Behr. 

Participante da 1ª edição da Maratona, o estudante integrou a equipe que desenvolveu o Cardiac Glove, luva que permite controlar parâmetros da compressão durante o atendimento às paradas cardiorrespiratórias. A ideia foi a vencedora no desafio Multiverso da Saúde ao propor uma forma de tornar a massagem cardíaca mais eficiente, aprimorando o atendimento de pacientes. 

“Em um cenário de tanto avanço científico e tecnológico, é essencial que nós, futuros médicos, possamos estar em contato com essas áreas, seja para atuarmos nelas ou para nos tornamos profissionais mais completos, com olhar interdisciplinar”, salienta o estudante. 

Celebração com debates atuais 

Os 50 anos da Escola de Medicina da PUCRS traduzem uma história escrita por muitas mãos. Cada colaborador/a, professor/a, aluno/a e paciente contribuiu para chegarmos até aqui. Temos um imenso orgulho de todos os feitos que conquistamos e de sermos um dos melhores cursos de medicina do País. Em comemoração à essa trajetória, uma série de atividades estão sendo oferecidas gratuitamente. Confira a programação dos próximos eventos clicando aqui.

Foto: Camila Cunha

Em um acordo com a Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Saúde do Município (SMS), a PUCRS assinou um termo de colaboração para a execução de atividades na Unidade de Saúde Vila Fátima. Com investimento da operação a cargo da Universidade, a iniciativa permite a continuidade e a ampliação dos serviços para o atendimento de pessoas com vulnerabilidade social. “Neste modelo assistencial, via Sistema Único de Saúde (SUS), é possível aumentar a equipe, a cobertura de atendimento e as atividades de ensino, extensão e pesquisa da Universidade”, comenta Ir. Manuir Mentges, pró-reitor de Graduação e Educação Continuada da PUCRS.   

Dentro da Unidade está presente o Centro de Extensão Universitária, que já desenvolveu profissionais de diversos segmentos. Neste ambiente, atuam, em atividades de ensino-serviço, alunos de graduação dos cursos de Direito, Educação, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Medicina, Odontologia, Psicologia e Serviço Social; além dos estudantes de pós-graduação do Hospital São Lucas. “O Centro é um serviço que presta atenção à saúde da população há 40 anos no bairro Bom Jesus. É um importante espaço para formação de estudantes”, enfatiza Ir. Marcelo Bonhemberger, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da PUCRS.   

Foto: Camila Cunha

As diversas áreas de atuação   

Com o termo de colaboração, a unidade de saúde poderá ampliar campanhas de vacinação, atendimento clínico remoto e de telemedicina e regulação dos pacientes como forma de aumento da resolutividade dos atendimentos. Também aumentará ações de promoção de saúde envolvendo prática de atividade física, incentivo à alimentação saudável e cessação do tabagismo; atendimentos individuais médicos, odontológicos e de enfermagem; entre outras.   

Uma história com a saúde da cidade   

Criado em 1980, o Centro de Extensão Universitária Vila Fátima da PUCRS interage com uma comunidade que fica nas proximidades do campus da Universidade. Com serviços nas áreas de educação, direito, assistência à saúde e assistência e desenvolvimento social, o ambiente oferece aos alunos estágios eminentemente práticos, em contato com a realidade.  

Guia educacional ajuda a lidar com a saúde mental de adolescentes e jovens A educação tem papel fundamental na formação das pessoas, tanto em aspectos técnicos, quanto emocionais, psicológicos e mentais. O guia Saúde mental de adolescentes e jovens em contextos educativos: relações de cuidado humano foi pensado e projetado buscando coerência com o que propõe. O objetivo é apresentar um olhar informativo e interventivo, dedicado ao cuidado com a vida de adolescentes e jovens que possam se sentir impactados e impactadas pelo contexto contemporâneo.  

A saúde mental ainda é um tema tabu para grande parte da sociedade. Saber lidar com situações de transtornos depressivos, ansiedade e adoecimento mental é um desafio. O guia apresenta uma construção didático-pedagógica para que pessoas das áreas da educação ou que atuam com adolescentes e jovens, em diferentes realidades, possam somar esforços em redes de apoio e de cuidado. 

Leia também: Pesquisa analisa impacto traumático da Covid-19 na população brasileira

Sobre a construção do guia 

“Essa publicação surge a partir das pesquisas e ações realizadas com jovens. A análise do fenômeno social, somada às proposições de gestores e colaboradores dos empreendimentos maristas, evidenciavam que a contribuição de um subsídio com tom informativo e empático ofereceria mais segurança na tomada de decisões às pessoas que atuam em contextos juvenis”, explica a coordenadora do Observatório Juventudes, Patrícia Teixeira  

A elaboração do material foi feita por uma equipe multidisciplinar formada por profissionais da psiquiatria, psicologia, psicopedagogia e pedagogia. A organização geral do documento foi realizada pelo Observatório Juventudes PUCRS/Rede Marista, com o apoio de profissionais da Assessoria de Proteção à Criança e ao Adolescente, Gerência Educacional dos Colégios da Rede Marista  e Núcleo de Apoio Psicossocial da PUCRS.   

Cuidados em tempos de isolamento social    

O guia está dividido em cinco eixos temáticos que abordam propostas de forma informativa e interventiva. O eixo número quatro apresenta reflexões sobre como a pandemia está impactando na saúde mental.   

Em uma situação de crise, as pessoas reagem de formas diferentes. Algumas se sentirão sobrecarregadas, confusas, desorientadas, amedrontadas, ansiosas, anestesiadas ou insensíveis. Entre os aspectos apresentados pelo guia, a proposta é que, como sociedade, seja possível olhar para as novas gerações, criando redes de apoio, entendendo a condição humana e buscando a empatia, a solidariedade e a compaixão para o cuidado com a saúde mental.   

Leia também: Cuidados com a saúde mental em tempos de isolamento social

Setembro amarelo  

Máscaras personalizadas reforçam a campanha de valorização da vida

Máscaras personalizadas reforçam a campanha de valorização da vida

Além do lançamento do guia, a Rede Marista também apoia outras iniciativas relacionadas a valorização da vida, em especial no mês de setembro, quando diferentes iniciativas são realizadas como uma forma de prevenir o suicídio. Entre as principais ações, estão: o apoio a campanha do Centro de Valorização da Vida (CVV) com a divulgação dos canais de contato da instituição em nossos espaços de missão. 

Como uma forma de trazer uma mensagem de reflexão sobre essa temática, o episódio 98 do Minuto Farol de Esperança apresenta aspectos importantes sobre saúde mental relacionando corpo, mente e espírito. Confira o áudio aqui.   

Na Ilha Grande dos Marinheiros, as educandas e animadoras da Pastoral Juvenil Marista (PJM) do Centro Social Marista Aparecida das Águas conversaram com os colegas sobre a campanha Setembro Amarelo, durante a entrega de cestas básicas realizada na Escola Marista Tia Jussara. As educandas Tainá Popioleki e Mônica Brasil distribuíram máscaras personalizadas e a violeta marista, que mudou de cor este mês buscando sensibilizar a comunidade para a valorização da vida. 

Além disso, a instituição também promove, ao longo do mês, webinars e podcasts para tratar da temática com os colaboradores maristas. 

Quero saber mais 

Se houver interesse em formações sobre o assunto entre em contato com o Observatório Juventudes PUCRS/Rede Marista pelo e-mail: [email protected].

Programa ajuda na reabilitação de pacientes com sequelas da Covid-19

Centro de Reabilitaçaõ da PUCRS / Foto: Bruno Todeschini

Entre as principais sequelas identificadas em pacientes que se recuperaram do novo coronavírus, estão as motoras, pulmonares e nutricionais. Pensando nisso, o Centro de Reabilitação e o Parque Esportivo da PUCRS prepararam o Programa de Reabilitação Pós-Covid-19, que oferece atendimento particular. A equipe multidisciplinar é composta por médicos/as fisiatras, fisioterapeutas, nutricionistas e educares/as físicos. 

Para participar é necessário respeitar o período de segurança de 14 dias após realizar o teste para Covid-19, em caso de resultado negativo, ou 30 dias, quando o resultado é positivo. Quem tiver interesse no serviço pode entrar em contato pelo telefone do Centro de Reabilitação (51) 3320-3596 ou pelo WhatsApp (51) 83480180, de segunda a sexta-feira, das 08h às 18h. 

O principal objetivo do Programa é readquirir a independência funcional e qualidade de vida a quem se recuperou do coronavírus, através de atendimento multidisciplinar, com um olhar individualizado e acompanhamento progressivo”, explica Pedro Henrique Deon, coordenador do Centro de Reabilitação e professor do curso de Fisioterapia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS. 

A cura não resolve o problema 

Uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA) mostrou que, mesmo meses após estarem curados/as da Covid-19, 87% disseram ter um ou mais sintomas da doença, como cansaço e problemas respiratórios. Entre as 143 pessoas que participaram do estudo, apenas 12,6% haviam sido internadas em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). 

Além de atingir o pulmão, considerado “marco zero” para o vírus, outros órgãos também podem ser afetados, como coração, rins, intestino, sistema vascular e até mesmo o cérebro. 

Leandro Firme Foto: Camila Cunha

Leandro Firme / Foto: Camila Cunha

O primeiro semestre de 2020 passou e levou muito de todos nós. Planos, experiências e as condições de vida com as quais estávamos acostumados. Rápido, silencioso e doloroso, levou também a nossa saúde, mental e física, por vezes em definitivo. Mas a tristeza nos fez seguir adiante, com a missão de encontrar saídas para uma crise global de saúde nunca antes sentida na contemporaneidade.

Os efeitos de tudo isso têm intensidades diferentes em cada um. Embora isso nos preocupe do ponto de vista social, chama a atenção a forma com que nos aproximamos enquanto seres humanos. Sim, a vida foi posta em jogo. E quando nos vimos impactados por um turbilhão de fatos negativos, não conseguimos recorrer como gostaríamos àqueles que amamos. O abraço entrou em compasso de espera.

Viver a experiência de enfrentar uma pandemia dentro de um complexo hospitalar é algo que não se esquece. Além da batalha contra a Covid-19, as demais doenças não param. O reflexo está nos rostos do dia a dia, que carregam medo, insegurança e incerteza. Mas não é só isso. Também emerge dos ambientes clínicos um chamado ainda maior à vida. Está nas mãos, mentes e sobretudo corações dos profissionais da saúde, que na assistência, no atendimento clínico ou na pesquisa se tornam ainda mais fundamentais. Nesses momentos, percebemos que juntos somos mais fortes.

Se os primeiros meses do ano foram de luta, o último semestre nos encoraja a colher o resultado de tanto esforço. É tempo de se fazer presente, reunir forças e alimentar a esperança de que podemos alcançar nosso resultado. Nosso ponto de partida é a testagem da vacina contra o coronavirus, que iniciará nas próximas semanas em nosso centro de pesquisa. Estaremos em sintonia com todos, sobretudo os gaúchos, para que em breve seja possível retomar o normal que conhecemos.

Sabemos que essa luta tem diversas frentes. Por isso, até que a vacina seja eficaz e possa ser distribuída, precisamos seguir com todos os cuidados de prevenção e distanciamento, sempre refletindo sobre como as nossas atitudes podem impactar o outro. Por mais que muitas vezes a vida esteja sob cuidado dos médicos, até chegar a eles, a responsabilidade é de todos nós.

Referência na área da saúde, Lapafi adquire equipamento de biomecânica - Novo sistema do laboratório veio da Itália e complementa a estrutura de estudo do movimento humano da PUCRS

Foto: Braden Collum/Unsplash

Além de prestar suporte às aulas práticas de diferentes cursos com foco na área da saúde, pesquisas e testes científicos e clínicos são realizados por meio do uso compartilhado dos recursos do Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Atividade Física da PUCRS (Lapafi). O laboratório existe, oficialmente, desde 2010. No entanto, a estrutura de biomecânica que começou a ser construída há cerca de quatro anos, hoje conta com um serviço complexo de equipamentos, incluindo a nova aquisição: um sistema de cinemática. Com o dispositivo é possível realizar análises do movimento humano em alta resolução, com diferentes aplicações, como a avaliação de atletas e pessoas com problemas de locomoção, por exemplo.

As possibilidades práticas do sistema são inúmeras, desde os estudos fundamentais na área da biomecânica, até as investigações aplicadas ao esporte e à saúde cinético-funcional. “É possível trabalhar visando melhorar o desempenho esportivo e reduzir o risco de lesões. Assim como avaliar a caminhada e a marcha das pessoas, seja de forma natural ou com o uso de dispositivos tecnológicos”, explica o professor Régis Gemerasca Mestriner, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, e coordenador de projetos na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCRS (Propesq).

Nova estrutura, novas possibilidades

O sistema adquirido se soma aos demais equipamentos disponíveis no laboratório, fazendo do Lapafi um ambiente completo para o ensino, pesquisa, inovação e desenvolvimento de novas tecnologias na área do movimento humano. “A aquisição tem um impacto muito positivo na vida dos alunos e alunas, qualificando as aulas, trabalhos de Graduação e Pós, além de auxiliar na qualificação do ensino na forma de service learning, em parceria com empresas. Ou seja, o potencial é muito grande e em diferentes níveis”, conta Rafael Baptista, também professor da Universidade e coordenador do Lapafi.

Por meio da técnica de avaliação em biomecânica conhecida como cinemática, o sistema de captura de movimentos opera em alta velocidade, garantindo a captura de pontos que permitem a modelagem e reconstrução da trajetória em diferentes condições.

Sobre o sistema de cinemática

equipamento foi adquirido por meio de um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e faz parte de um projeto para melhoria da estrutura de equipamentos multiusuários da PUCRS, conduzido pela Propesq. Outros/as docentes da Universidade também participaram da articulação do projeto. O investimento em equipamentos especializados do laboratório gira em torno de R$ 2 milhões, conforme a fabricante BTS Bioengineering.

Inteligência Artificial ajuda a estimar quantos leitos são necessários na pandemia - Pesquisadores da PUCRS desenvolvem tecnologia que pode ajudar na avaliação e nas ações dos órgãos de saúde

Foto: Unsplash

Em março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia de Covid-19, doença causada pela SARS-Cov-2. A infecção pelo vírus resulta em uma síndrome que leva, em alguns casos, a uma condição respiratória de cuidados intensivos, que muitas vezes requer manejo especializado em unidades de terapia intensiva (UTIs). Com a ajuda de Inteligência Artificial (IA) e uma equipe multidisciplinar, o professor da Escola de Medicina da PUCRS e pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Bruno Hochhegger está desenvolvendo um método que deve estimar a quantidade de leitos necessários para pacientes com a doença.

Semelhante a outros patógenos respiratórios virais, o novo coronavírus apresenta, na maioria dos casos, um curso rapidamente progressivo de febre, tosse e falta de ar, além de leucopenia e síndrome respiratória aguda grave, que já eram fatores de ameaça à saúde pública. “Os algoritmos de IA, em especial o aprendizado profundo (do inglês deep learning), demonstraram um progresso notável com os algoritmos tradicionais e exibiram desempenho atraente em relação à classificação de doenças pulmonares”, explica Hochhegger.

Tecnologia a favor de um futuro mais saudável

Em resposta à pandemia, os hospitais devem entender sua capacidade para cuidar de pacientes com doenças graves, como a síndrome respiratória aguda, explica o pesquisador. Através do uso de IA na avaliação dos exames de tomografia computadorizada de pacientes, é possível fornecer uma projeção robusta para o sistema de saúde como um todo sobre a ocupação dos leitos. Além disso, a avaliação antecipada e os prognósticos contribuem na busca de potenciais tratamentos e cursos da doença.

Sobre a pesquisa

Com auxílio de IA aplicada à tomografia computadorizada de tórax, a partir da evolução da doença, a equipe de pesquisadores consegue obter respostas mais completas. São utilizados parâmetros bastante complexos que ajudam a estimar a quantidade de leitos necessários para o tratamento de pacientes. Confira os principais objetivos:

O estudo tem foco retrospectivo. Por meio da verificação do registro médico eletrônico, serão incluídos atendimentos realizados no Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) e em outros hospitais do País. Também serão revisadas as imagens de tomografia computadorizada, assim como o histórico dos pacientes, incluindo vacinas, antecedentes pessoais, histórico familiar e hábitos de vida.

A mortalidade da Covid-19 em números

Inteligência Artificial ajuda a estimar quantos leitos são necessários na pandemia - Pesquisadores da PUCRS desenvolvem tecnologia que pode ajudar na avaliação e nas ações dos órgãos de saúde

Foto: Markus Spiske/Unsplash

“Estudo recente realizado pelo Imperial College de Londres e assinado por 50 das maiores autoridades em infectologia e epidemiologia do mundo indicou estimativas catastróficas em relação à mortalidade da Covid-19″, destaca Bruno Hochhegger. De acordo com a publicação, que analisou o impacto da doença em 202 países, caso nenhuma medida de controle da doença for realizada, haverá um total de sete bilhões de infectados e 40 milhões de mortes no mundo inteiro até o final de 2020.

Segundo a projeção dos cientistas, caso medidas rigorosas de controle da doença sejam implementadas (testes diagnósticos em larga escala, distanciamento social, entre outros), a mortalidade pode ser reduzida em até 95%, explica o pesquisador. No entanto, caso não houver nenhuma intervenção, é prevista a morte de 1.15 milhões de brasileiros, caindo para 44.2 mil com a implementação da supressão rígida.

Hochhegger alerta que, mesmo com medidas de controle ativas, a doença acarretará um colapso no Sistema de Saúde Mundial, principalmente em países subdesenvolvidos, onde existe escassez nos recursos destinados à saúde.

Sobre a Covid-19

A síndrome respiratória aguda grave (SARS, do inglês severe acute respiratory syndrome) foi reconhecida pela primeira vez como uma ameaça global em meados de março de 2003. Nessa época, a epidemia causou perturbações sociais e econômicas significativas em áreas com transmissão local sustentada de SARS e na indústria de viagens internacionalmente, além do impacto diretamente nos serviços de saúde.

Sobre o pesquisador

Além de professor de Diagnóstico por Imagem da Escola de Medicina da PUCRS, Bruno Hochhegger é coordenador médico do Centro de Imagem do HSL e do Centro de Imagem Molecular do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer). É membro da European Respiratory Society, American Roentgen Ray Society, Radiological Society of North America e da Sociedade Gaúcha de Radiologia.

Uma equipe multidisciplinar

Participam da pesquisa: Jaderson Costa da Costa, Fabiano Ramos, Graciane Radaelli, Gabriele Carra Forte, Denise Cantareli Machado, Fernanda Majolo, Gabriele Goulart Zanirati, Nathalia Bianchini Esper, Moraes Cadaval Junior, Gutierre Oliveira, Marcio Sarroglia Pinho, Rodrigo Coelho Barros, Rafael Heitor Bordini, Felipe Rech Meneguzzi, Duncan Dubugras Alcoba Ruiz, Isabel Harb Manssour, Renata Vieira e Andressa Barros.

Reprodução HSL

Reprodução de vídeo

Passando por um reposicionamento, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) já vinha em busca de dar respostas para necessidades de saúde da população que se apresentam a partir do novo contexto demográfico global e das projeções para os próximos anos, como o crescimento da demanda na oncologia, por exemplo. Com a chegada do coronavírus, uma redução significativa no fluxo de atendimento a pacientes com doenças que costumavam ser as mais comuns nos corredores, como câncer e cardiopatias, preocupa os médicos.

Mesmo tendo adotado protocolos de segurança específicos, a instituição acredita que a principal hipótese para a redução no fluxo de tratamentos que são urgentes e muito importantes para a não evolução das doenças, é o medo de contaminação pela Covid-19. Em contrapartida, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM), no Rio Grande do Sul, 21,76% das mortes são causadas pelo câncer. Em Porto Alegre, o índice chega a 23,11%, números muito superiores à média nacional que é de 16,29%.

Para reforçar aos pacientes que ninguém deve correr riscos desnecessários – nem de contaminação pelo vírus, nem por adiar situações de emergência que oferecem, em alguns casos, até um maior risco à vida – , o HSL criou um vídeo que reforça a preocupação da instituição em manter um ambiente seguro para as equipes, os pacientes e seus familiares.

A produção mostra que o hospital está preparado para atender as necessidades da população. “Trabalhamos rigorosamente para que o ambiente do São Lucas seja seguro para as equipes e pacientes. As nossas taxas demonstram isso.  Toda equipe que está na operação Covid foi treinada e é dedicada somente aos casos sintomáticos. Os demais pacientes que precisem realizar exames, cirurgias, consultas ou qualquer tipo de procedimento, são encaminhados para um outro fluxo, totalmente livre de contato com os sintomáticos”, ressalta o diretor-geral do HSL, Leandro Firme.

Na entrada da instituição é realizada uma triagem de sintomas para todos os pacientes e acompanhantes. A recomendação básica é que pacientes oncológicos, cardiopatas e outros que precisem ir às dependências do hospital, sigam os protocolos estabelecidos pelos médicos e pelos órgãos de Saúde responsáveis. Medidas como a utilização de máscara, protetores faciais e a higienização frequente das mãos e dos ambientes já fazem parte da rotina e são intensificadas diariamente.

Cabe lembrar que algumas doenças se agravam com o tempo e, quanto mais precoce o tratamento, maior a chance de recuperação.

O que não pode ser adiado nos tratamentos

Uma pesquisa realizada pelo site Angioplasty.Org, mostrou que o fenômeno é comum também em outros países. Em Nova Iorque (Estados Unidos), por exemplo, o número de pessoas que morreram em casa, de ataque cardíaco, entre 30 de março e 5 de abril, foi 800% vezes maior do que o mesmo período em 2019.

O levantamento ainda revelou que no período houve uma queda de 50% ou mais no número de pessoas tratadas nas emergências de hospitais para o mesmo tipo de problema. Se essas paradas cardíacas tiveram algo a ver com o coronavírus, não se sabe. Mas a pesquisa afirma que muitos dos casos poderiam ter sido tratados prontamente, salvando essas vidas.

Outros sintomas sérios e sugestivos de doenças que exigem tratamento rápido, como infarto, AVC, reações alérgicas severas, não devem ser ignorados.

Assista ao vídeo informativo: 

Docentes da PUCRS integram projeto de atenção em saúde mental por teleatendimento - Iniciativa visa apoiar profissionais de saúde do SUS, oferecendo consultas virtuais com psicólogos

Foto: Marcus Aurelius/Pexels

Profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) que sentem estresse, ansiedade, depressão ou irritabilidade agora poderão contar com apoio psicológico por teleatendimento. O projeto TelePSI é uma iniciativa do Ministério da Saúde em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e tem a expectativa de atender pelo menos 10 mil profissionais da área da saúde. A ação subsidiará o maior projeto de pesquisa desta natureza já realizado no País e um dos maiores do mundo.

Os professores Christian Kristensen, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, e Lucas Spanemberg, da Escola de Medicina, integram o projeto e estão atendendo de forma virtual os profissionais de saúde. Luis Souza Motta, médico psiquiatra e membro do Serviço de Psiquiatria do Hospital São Lucas da PUCRS, também faz parte do projeto.

Avaliação online

As teleconsultas serão feitas por videochamada. No primeiro contato, os casos são avaliados para definir a melhor abordagem e tratamento para os atendimentos. Se identificado algum potencial risco ou sintomas intensos de sofrimento psíquico, os pacientes serão encaminhados para avaliação psiquiátrica.

Os profissionais de saúde terão à disposição materiais e vídeos produzidos pela equipe, em parceria com diversas instituições da sociedade. Os terapeutas contarão com manuais de modelo de atendimento terapêutico desenhados no projeto, videoaulas e sessões simuladas.

Apoio necessário

Kristensen explica que os efeitos adversos à saúde mental dos profissionais que atuam no enfrentamento de pandemias foram bem documentados por conta do surto de SARS-CoV nos anos de 2002 e 2003; e por estudos recentes relacionados à pandemia da Covid-19, publicados neste ano. Problemas relacionados a ansiedade, depressão, reações pós-traumáticas ou mesmo sintomas de exaustão emocional (como caracterizado na síndrome de Burnout) se apresentam de forma frequente nestes profissionais, agravados também pelo distanciamento ou afastamento de seu grupo de apoio.

“Em nosso País, à medida que aumentam os casos de Covid-19 que necessitam hospitalização, cada vez mais será necessária a atenção à saúde mental dos profissionais que atuam na linha de frente no combate à pandemia”, explica o docente.

Spanemberg comenta que, mesmo fora do contexto da pandemia, profissionais de saúde já apresentam uma prevalência aumentada destes transtornos, muitas vezes subdiagnosticados e subtratados, com alta prevalência de afastamento laboral, prejuízo na qualidade de vida e aumento do risco de suicídio. O médico conta que as estratégias de telepsicoterapia ajudam os profissionais a lidar com as ansiedades, os conflitos e os dilemas relacionados a esse momento difícil. “Em geral, a maioria dos participantes considera que as intervenções são muito efetivas, com alívio importante dos sintomas”, comenta.

Sobre o projeto

O projeto também é um grande estudo que randomiza os participantes em diferentes grupos. Dessa forma é possível validar e comparar os tratamentos, como o atendimento remoto ainda é uma modalidade relativamente recente.

A participação dos docentes da PUCRS se iniciou através de um edital para realização de estágio pós-doutoral neste projeto, conciliando as atividades de pesquisa com a atenção à saúde mental pública. O estágio é orientado pelo professor Giovanni Salum.

A central telefônica para primeiro contato funcionará das 8h às 20h, de segunda a sexta-feira, pelo número 0800 644 6543. Podem acessar o canal profissionais do SUS das 14 categorias de saúde.