Nora Volkow, Early Life Stress and Addiction as a Brain Disorder, InsCer, videoconferência, prédio 50, auditório

Foto: Camila Cunha

Eleita uma das cem mulheres que mais mudaram nosso mundo, de acordo com a Time Magazine, a psiquiatra Nora Volkow ministrou uma videoconferência ao vivo, direto do Estados Unidos, ao estudantes e professores da PUCRS, na tarde desta quarta-feira, 2 de outubro. A especialista lidera uma das mais importantes estruturas de estudo sobre a dependência química do mundo, o Instituto Nacional em Abuso de Drogas dos Estados Unidos (conhecido pela sigla Nida), e palestrou a convite do professor da Escola de Medicina e pesquisador do Instituto do Cérebro do RS, Rodrigo Grassi.

Em sua fala de cerca de uma hora, expôs a complexidade por trás da dependência química, que extrapola as barreiras da biologia para entrar no imenso e subjetivo campo comportamental. “Nos cinco primeiros anos de vida, o ambiente em que a criança vive é mais relevante do que a própria genética em si”, afirmou. Volkow disse que a dependência química envolve múltiplos fatores e geralmente acontece no período da adolescência, quando os jovens estão mais vulneráveis a iniciar o uso de drogas. Conforme a especialista, isso ocorre porque o cérebro dos adolescentes é diferente do de adultos.

De forma geral, quando nasce, o indivíduo tem mais neurônios, mas menos conectividade entre eles. Com o passar dos anos, diminui-se o número de neurônios, mas aumentam-se as conectividades. Se essas conexões forem sadias, o cérebro entra na fase adulta sem estar comprometido. Porém, caso se dê cedo a iniciação ao uso de drogas, por exemplo, o cérebro perde as conexões, pode sofrer modificações químicas e diminuir suas funções.

Nora Volkow, Early Life Stress and Addiction as a Brain Disorder, InsCer, videoconferência, prédio 50, auditório

Foto: Camila Cunha

Ela também tocou no controverso tema sobre o uso da maconha e, sem entrar no mérito de ser contra ou a favor da liberação da droga, afirmou existirem diversos estudos que apontam para um impacto no desenvolvimento do cérebro de pessoas dependentes, contrariando a ideia de que a maconha seja inofensiva. “Os efeitos adversos ainda não são claros, mas temos muitos estudos que apontam problemas de saúde oriundos do uso crônico da maconha”, comenta.

Ainda de acordo com a especialista, autora de mais de 500 artigos e três livros sobre o uso da neuroimagem no estudo dos transtornos psiquiátricos e aditivos, o tratamento medicamentoso só existe para dependentes de nicotina, álcool e opióides (remédio para dor). Para todas as demais drogas não existe um tratamento que cure a dependência. É necessária uma rede de apoio e suporte da família, dos amigos, do ambiente em que o indivíduo transita, que iniba também aspectos comportamentais, não apenas biológicos.

Sobre o Nida

O National Institute on Drug Abuse (Nida) tem por missão promover a ciência sobre as causas e consequências do uso e dependência de drogas e aplicar esse conhecimento para melhorar a saúde individual e pública. Isso envolve apoiar e conduzir estrategicamente pesquisas básicas e clínicas sobre o uso de drogas (incluindo nicotina), suas consequências e os mecanismos neurobiológicos, comportamentais e sociais subjacentes envolvidos; garantir a tradução, implementação e disseminação eficazes de descobertas de pesquisas científicas para melhorar a prevenção e o tratamento de transtornos por uso de substâncias; e aumentar a conscientização pública sobre o vício como um distúrbio cerebral.

 

Nora Volkow, Nida, EUA

Foto: Divulgação

No dia 2 de outubro, às 16h, a PUCRS promove uma videoconferência a diretora do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA (Nida, na sigla em inglês), Nora Volkow. A atividade ocorre no auditório térreo do prédio 50, com o tema Addiction as a brain disorder, em inglês, sem tradução. Inscrições gratuitas pelo site do evento.

A neurocientista e psiquiatra nascida no México e naturalizada norte-americana é pioneira no uso da tomografia para investigar o efeito das drogas. Seus estudos documentaram mudanças no sistema de dopamina, afetando, entre outras, as funções das regiões frontais do cérebro envolvidas com a motivação e o prazer. Também fez contribuições para a neurobiologia da obesidade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e envelhecimento.

Nora Volkow participa da videoconferência a convite do professor Rodrigo Grassi de Oliveira, da Escola de Medicina e do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul. Nos últimos 30 anos, Nora Volkow publicou mais de 770 artigos revisados por especialistas, além de 95 capítulos de livros, editou quatro livros sobre imagens cerebrais e dependência química e coeditou uma enciclopédia sobre Neurociência. Ela recebeu vários prêmios, incluindo a participação na Academia Nacional de Medicina, em 2000, e o Prêmio Internacional de Ciência do Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica, em 2009. Foi nomeada uma das Top 100 Pessoas que moldam o nosso mundo, da revista Time, em 2007.

Parceria internacional

No mesmo dia, mais de 20 especialistas brasileiros em estresse precoce e drogadição participam de um simpósio pela manhã. Uma comitiva vem dos EUA como parte do acordo de cooperação internacional entre a PUCRS e a Universidade do Texas para um estudo inédito sobre dependência à cocaína tipo crack, liderado por Grassi e pelas professoras Joy Schmitz e Consuelo Walss Bass e com recursos do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (2,6 milhões de dólares). Além delas, estarão na Universidade Nicholas Gilpin (Universidade de Louisiana) e Gabriel Fries (Universidade do Texas).

Acompanhado de Grassi, o grupo irá a São Paulo conhecer a cracolândia e presenciar o uso coletivo de drogas, a convite da professora Clarice Madruga, da Universidade Federal de São Paulo. Da PUCRS, também irão o professor Thiago Viola e a aluna Aline Zaparte.