Exposição sobre o ostensório jesuíta de 300 anos

Foto: Divulgação

Após seis meses de pesquisa, foi confirmado que o ostensório/esplendor do Divino Espírito Santo, que está na Catedral Diocesana de Cruz Alta, trata-se de uma obra missioneira, arte jesuíta com cerca de 300 anos. A autenticação foi concluída no início de dezembro, pelo professor e pesquisador Edison Hüttner, da Escola de Humanidades da PUCRS, e seu orientando de doutorado, professor Cláudio Lopes. 

A peça, já de volta à Catedral, fará parte de uma exposição neste domingo, 13 de dezembro. “Vi as fotos enviadas e percebi que poderia ser do período e da arte sacra Jesuítico-Guarani. Mas, para comprovar sua identidade, era necessário levar a obra para iniciar um longo estudo em Porto Alegre”, conta Hüttner sobre o item, que é uma raridade. 

Segundo a pesquisa, a idade estimada do ostensório é de 280 a 300 anos. Trata-se de uma peça da arte sacra barroca jesuítica dos séculos 17 e 18.Temos alguns elementos importantes desta escultura, como os detalhes em policromia, que era uma técnica muito utilizada pelos jesuítas, em gesso, com cores amarela, azul e vermelha, que são aspectos dessa tradição. Além dos cravos missioneiros, que são característicos do período”, destaca Hüttner. 

Tecnologia a favor da pesquisa 

Pesquisador da PUCRS confirma que ostensório jesuíta tem quase 300 anos

Ostensório no aparelho de Luz Ultravioleta C / Foto: Divullgação

Para preservar a obra e a saúde dos pesquisadores, a descontaminação da obra foi feita em um aparelho de Luz Ultravioleta C (UV-C) Huttech Tower II, com duas lâmpadas UV-C. O dispositivo foi desenvolvido pelo dentista Eder Abreu Hüttner, coordenador da Startup Huttech, sediada no Parque Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), e irmão do pesquisador. 

A importância da relíquia para o turismo religioso 

O item, que foi encontrado durante a reforma da catedral, deve impactar na procura de turistas que se interessam por temas religiosos. Segundo o padre Márcio Laufer, pároco da catedral, “além de um espaço litúrgico, a catedral está se tornando um local atrativo pela arte sacra, alicerçando o turismo religioso na cidade.

Imagem de São Nicolau

Foto: Bruno Todeschini

Neste mês de novembro, a comunidade pode conferir uma exposição que mostra o resgate da história das Reduções Jesuíticas, nos séculos 17 e 18. O destaque será uma imagem de São Nicolau, o Papai Noel missioneiro, de 95 centímetros de altura e 38 de largura. Trata-se da maior peça do santo com origem na região dos Sete Povos. “No mapa da arte sacra nacional, é como se achassem uma obra de Aleijadinho em Ouro Preto”, destaca o irmão Édison Hüttner, coordenador do Projeto de Arte Sacra Jesuítico-Guarani e professor da Escola de Humanidades.

A exposição será no térreo da Biblioteca Central Ir. José Otão, após as catracas. O acesso se dá pelo cartão de aluno ou crachá de funcionário. Visitantes podem se cadastrar na recepção. O horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 7h35min às 22h50min, e aos sábados, das 7h35min às 17h30min.

Objeto raro

A estátua, feita em madeira, deve ter pertencido à Redução de São Nicolau, a primeira estabelecida onde hoje é o Rio Grande do Sul. Foi produzida pelo jesuíta José Brasanelli, escultor na Redução de São Borja de 1696 a 1706, com a ajuda dos indígenas. Estava no ateliê do Colégio Marista Santa Maria, quando o irmão Roque Salet chamou Hüttner para identificação. Logo observou o prego da base, um cravo missioneiro, idêntico aos encontrados na Redução de São João Batista. As técnicas de encaixe dos braços e os sapatos também são comuns no período, assim como as características dos olhos. A arte em policromia se repete. Apesar de quase apagadas pelo tempo, se notam as cores na escultura e inclusive uma cobertura com pó de ouro.

O coordenador do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas do curso de História, Klaus Hilbert, considera a estátua muito bem elaborada e impressionante. “Trata-se de um objeto raro, pois São Nicolau não é representado com frequência, especialmente naquele contexto”, afirma o professor, que supervisiona o estágio pós-doutoral de Hüttner.

Tomografia computadorizada feita no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul mostrou que é maciça. “A tecnologia trouxe uma nova perspectiva para a arte missioneira antiga”, afirma o pesquisador Éder Hüttner, que introduziu essa ferramenta nos estudos.

Lunário jesuíta

Lunário Jesuíta de 1730-1740

Foto: Ir. Édison Hüttner

Na segunda quinzena de novembro, também será mostrado ao público na exposição um livro publicado de 1730 a 1740, em espanhol e latim. Trata-se de um manuscrito organizado pelo primeiro astrônomo sul-americano, o padre argentino Buenaventura Suárez. Traz as coordenadas geográficas (tábua de latitude e longitude) das 30 reduções da Província Jesuítica do Paraguai, determinando a distância de cada uma. Também um almanaque, o manuscrito reúne assuntos variados, como história dos reinos da China e do Japão, o trabalho de evangelização nesses locais, informações sobre Espanha e Portugal, além de curiosidades culturais.

Édison Hüttner foi procurado por Andréa Sinnemann, sobrinha de Liane Janke, de Panambi (cidade a 373 km de Porto Alegre), que possui o livro. Apesar de algumas páginas terem se perdido e de não haver título, deduz que se trata de um lunário pelo tipo de caligrafia e conteúdo. “Com várias temáticas, era destinado ao ensino da cultura geral dos jesuítas e índios”, afirma.

Saiba mais sobre o assunto em reportagem da Revista PUCRS.