A radiação solar é essencial para a vida no planeta. Ficar muito tempo sem se expor à luz do sol pode acabar colaborando para o surgimento de uma série de doenças físicas e psiquiátricas, e alguns desses problemas estão relacionados à falta de vitamina D no corpo. Durante o período de distanciamento social provocado pela pandemia da Covid-19, ao ficar longos períodos em lugares fechados, além do usual, esse é um cuidado que precisar ser dobrado.
“A maior parte da vitamina D é produzida pela pele, sendo mais de 90% pela exposição solar habitual, importante para sintetizar essa vitamina. Ela é um nutriente com função de hormônio e pode ajudar a melhorar o sistema imunológico”, explica Maria Zanella, professora e coordenadora do Curso de Medicina da Escola de Medicina da PUCRS.
Além de ficar um tempo ao sol, existem outras formas de aumentar os níveis de vitamina D no sangue. “As principais fontes nutricionais de vitamina D são alimentos ricos em gordura, como ovos, peixes, leite integral, fígado, queijo, iogurte, manteiga, suco de laranja, entre outros. No entanto, a dieta sozinha raramente fornece as doses diárias recomendadas”, destaca Thais Grazziotin, também professora Escola de Medicina e coordenadora da Residência de Dermatologia da PUCRS.
As principais medidas de promoção da saúde nesse momento são a adoção de uma alimentação balanceada, manter atividades físicas regulares e a exposição solar possível dentro das atividades domésticas, como através das janelas abertas da casa (já que o vidro bloqueia o UVB). Em alguns casos, pode haver suplementação oral, sob orientação médica.
Para todos os grupos populacionais, o ideal é que a exposição ao sol ocorra até as 10h e após as 15h. Fora desse período, a incidência solar pode ser crítica para a ocorrência de doenças de pele, incluindo o câncer. “Uma dica para tomar sol de forma leve é ficar com a palma da mão virada para o sol em torno de cinco a dez minutos no máximo, em uma janela. Sentiu que a palma da mão está quente, já está sintetizando vitamina D”, conta Maria Zanella.
Quando a radiação solar atinge a pele, ela estimula a produção de vitamina D. Esse hormônio ajuda na absorção do cálcio e fortalece os ossos. Algumas doenças já foram associadas à deficiência dessa substância, como o câncer, doenças autoimunes (esclerose múltipla e artrite reumatoide), doenças infecciosas (tuberculose e viroses, por exemplo), doenças neurológicas, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, diabetes e problemas na saúde reprodutiva.
Não existe nenhum protocolo de uso da exposição solar como fonte confiável de reposição de vitamina D, porque seus resultados são imprevisíveis. A radiação ultravioleta produz efeitos prejudiciais, como o aumento de risco de câncer de pele e o fotoenvelhecimento cutâneo, processo que torna a pele espessada, áspera e manchada. Por isso, a proteção solar com o uso de filtros e demais medidas de fotoproteção são importantes na redução da produção de radicais livres, alterações morfológicas e carcinogênese.
Quando há exposição solar habitual, a síntese de vitamina D não é prejudicada pela aplicação do protetor. O metabolismo dessa vitamina é complexo e depende de individualidades como extensão da pele em contato com a luz, quantidade de melanina, fototipo e dose de radiação ultravioleta A (UVA) e ultravioleta B (UVB). As ondas UVB tendem a desencadear uma maior produção de vitamina D, mas também têm mais chances de causarem queimaduras e risco de câncer de pele. Já as ondas UVA, mais longas, também aumentam o risco de câncer de pele e são as principais envolvidas no envelhecimento precoce da pele. Ambas provocam dano no DNA das células e efeitos cumulativos na pele.
Até o momento, não existem evidências científicas suficientes para afirmar que a ingestão de vitamina D tenha efeito preventivo ou curativo em relação à Covid-19. O uso excessivo de vitamina D pode levar a complicações graves, especialmente renais. Existe coincidência de fatores de risco para Covid-19 e para hipovitaminose D, não sendo possível determinar que níveis baixos de vitamina D sejam um fator de risco independente ou que haja qualquer benefício de suplementação irrestrita de vitamina D para prevenção de Covid-19.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) recomenda a manutenção da adesão à restrição social, reforço às medidas de higiene e testagem sistemática de sintomáticos e seus contatos como forma de prevenção a novos casos da Covid-19.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) lançou uma Nota de Esclarecimento, onde afirma “total repudio às recomendações para uso de altas doses de colecalciferol (vitamina D3) como estratégia de otimização de imunidade frente ao novo coronavírus (COVID-19)”.