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Foto: Camila Cunha

As atitudes dos jovens foram transformadas com a crise econômica e política com que o Brasil convive desde 2014. Deste modo, nota-se, de um lado, a busca por estabilidade em termos profissionais e, por outro, a ideia de que o futuro do País não passa por uma ditadura (apenas 5,9% são a favor), mas, isso sim, por uma reforma política e por um presidencialismo dotado de mais representatividade e democracia (59,8% dos jovens se manifestam neste sentido). Este estudo intitulado Modelo de País é a 4ª edição nacional do Projeto 18/34, conduzido pelo Núcleo de Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência, vinculado à Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos da PUCRS.

Coordenada pelo professor Ilton Teitelbaum, a pesquisa teve início em março de 2017 com a busca de dados disponíveis e a etapa qualitativa, sendo concluída em outubro do mesmo ano. Após a coleta de dados secundários, foram realizadas cinco entrevistas com especialistas, sendo eles das áreas de administração, comunicação e psicologia. Em uma segunda etapa, dois jovens de 18 a 24 anos e quatro jovens de 25 a 34 anos participaram de entrevistas de profundidade. A etapa final e quantitativa contou com a participação de 1.620 respondentes de 18 a 34 anos, separados proporcionalmente pelas regiões brasileiras, de acordo com as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Estabilidade financeira

Segundo o estudo, a estabilidade financeira é uma das ambições da juventude, trabalhar mais cedo acabou se tornando uma necessidade. Isso se deve a outros fatos demonstrados pela pesquisa: a diminuição da faixa salarial da amostra e o aumento na quantidade de jovens desempregados (que subiu 6 pontos percentuais desde a pesquisa de 2013). Assim, como o jovem precisou ir trabalhar, também, para ajudar nas contas de casa, o reflexo de tudo isso é o aumento da quantidade de jovens que trabalham e estudam em 5,7 pontos percentuais.

A crise também gera certa insegurança a respeito do futuro, fazendo com que 72,7% prefiram trabalhar com carteira assinada para garantir seus direitos. Além disso, 75% deles se sentem sobrecarregados, principalmente devido aos estudos, ao trabalho e aos projetos pessoais. E, deste modo 36% fazem ou já fizeram tratamento psicológico, enquanto outros 36% gostariam de fazê-lo. Já com relação ao uso de medicamentos, ainda que os números sejam menores, a ansiedade mostra seus efeitos: mais de 17% recorrem ou já recorreram a este recurso.

 

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Foto: Camila Cunha

Contexto econômico

O contexto econômico atual tem forte influência neste resultado, uma vez que as dificuldades geradas pela crise de 2014 impactaram e conscientizaram os jovens. Assim, a necessidade gera mudanças e, no pós-crise, ser feliz no trabalho perdeu importância para uma ideia de trabalhar e ganhar bem. Neste sentido, é possível observar uma visão mais ampla de felicidade, com o jovem compreendendo que ela se encaixa em diversas áreas da vida e que a estabilidade financeira, por sua vez, tem grande importância, inclusive no futuro. Aliás, mais de 50% aceitam se aposentar mais tarde, mesmo renunciando a alguns direitos, para garantir a manutenção do sistema previdenciário.

Neste sentido, nota-se que mais de 80% dos jovens estão preocupados com o futuro do Brasil, e, para eles, os maiores culpados são os políticos. Para melhorar a situação do país, a reforma política imediata e o investimento em educação são vistos como fundamentais. Falando de interesses e comunicação, a política continua em terceiro lugar, com uma pequena baixa de 3 pontos percentuais de 2016 para 2017. Com base em seus interesses, os jovens buscam informações principalmente através da internet e as debatem on-line e off-line.

 

Finanças pessoais

Outro item que chamou atenção nesta edição foi a atitude quanto às finanças pessoais – com relação às despesas, mais de 65% dos jovens se consideram moderados, alguém que equilibra os gastos e ganhos. E, ao serem questionados sobre por que economizam, dizem ser para ter uma reserva financeira no futuro, bem como para ter dinheiro para emergências e para as contas do dia a dia.

Além passarem até 8h por dia online, os “bebês digitais” estão cada vez mais realizando compras nesse meio, com um aumento de 7 pontos percentuais em relação a 2013. Os itens de consumo preferidos deles são streaming, livros e eletroeletrônicos – ficando clara a importância da tecnologia para eles.

Jovens no Campus, imagem desfocada

Foto: Camila Cunha – Ascom/PUCRS

O interesse do jovem na política foi um dos temas abordados durante a pesquisa O Jovem Brasileiro e o Futuro do País, realizada pelo Núcleo de Tendências e Pesquisa da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (Famecos). Entre os entrevistados de 18 a 34 anos, 47,4% têm política como interesse na hora da busca de informação e 70,24% procuram se informar diariamente. A faixa de 25 a 34 anos está mais interessada em conteúdos voltados ao assunto. O material é mais uma edição do Projeto 18/34, conduzido por alunos atuantes no núcleo do Espaço Experiência. Para o coordenador do projeto, professor Ilton Teitelbaum, esse despertar para a política pode ser justificado tanto pela crise política quanto pela econômica, que afeta 73,77% dos respondentes. “2013 foi um ano muito importante nesse sentido, que acabou desencadeando, junto com todo o contexto de crise e de uma sociedade muito digitalizada, quase que uma necessidade de se manter por dentro do assunto”, acredita Teitelbaum.

Mais de 60% dos entrevistados disse estar engajado ou já ter se engajado em causas sociais, mas 85,82% acreditam que os outros falam mais do que fazem ao usar o engajamento como forma de autopromoção. Para construir sua posição política, por mais que se informe diariamente através de meios digitais, como redes sociais (84,5%) e sites e blogs Informativos (82,8%), eles levam em conta principalmente sua experiência de vida (70,22%) na hora da decisão. A tendência à esquerda política soma 46,59% da amostra, enquanto a preferência pela direita chega a 15,76%. O coordenador do projeto identificou maior envolvimento virtual com as causas, do que nas ruas.

Quando indagados sobre a solução dos problemas do Brasil, 52,71% dos participantes da pesquisa acreditam que a responsabilidade é da população. Por outro lado, apesar de acreditar na construção de um futuro de forma coletiva, o jovem demonstra confiar apenas em si. “Isso talvez seja uma das grandes dificuldades que estamos vivendo, a falta de confiança no outro. Só há um caminho para ir para frente: as pessoas mais jovens escutarem as mais velhas e as mais velhas escutarem as mais jovens, e quem defende um lado aprenda a ouvir o outro”, disse Teitelbaum.

Ao mesmo tempo que o público participante se mostrou preocupado com as questões políticas, o estudo revelou que há pouco orgulho desse grupo pelo País. Dessa forma, 36,55% não se veem no Brasil daqui a 10 anos. O grupo responsável pela pesquisa, formado por sete alunos de Publicidade e Propaganda e um de Relações Públicas, acredita que um dos motivos para esse alto índice é o atual momento do País, visto que 79,41% dos jovens consideram-no razoavelmente ou totalmente negativo. No entanto, fatores básicos como sistema de educação (61,12%), segurança (48,18%) e sistema de saúde (36,06%) foram considerados deficientes. “O jovem se orgulha muito do brasileiro, mas as questões de estruturas básicas e o sistema político são muito criticados”. Ainda para os próximos 10 anos, segundo os resultados, o jovem busca estabilidade (83,53%), espera estar empregado (63,18%) e em um compromisso/relacionamento (85,35%). Porém, o empreendedorismo está muito presente, não apenas para abertura de um negócio próprio, mas também como atitude em uma estrutura empresarial já consolidada. Pouco mais de 48% se veem empreendendo e 88% poupando, possíveis sinais de aprendizado com a crise econômica. O que surpreende é a parcela de entrevistados que não desejam ter filhos (49,76%).

 

Quem é esse jovem?

A pesquisa teve início em dezembro de 2015 com a busca de dados disponíveis e a Etapa Qualitativa. Sua etapa final e quantitativa foi realizada durante o primeiro semestre de 2016, quando 1,7 mil pessoas de todas as regiões brasileiras, com idade entre 18 a 34 anos, responderam aos questionamentos. Cerca de 25% dos jovens entrevistados se declararam como os primeiros universitários da família. O item Sexualidade traz mais uma quebra da visão tradicional, pois há um indício de liberdade sexual na parcela de 9,35% dos jovens que se declaram Bissexuais e nos 2,41% que revelam não ter interesse por gênero algum. Mais de 23% declararam ter fé, mas não acreditam em nenhuma instituição religiosa.

Captura de tela do Fantástico de 2/10/2016 - Ilton TeitelbaumClique aqui para ver a matéria veiculada no Fantástico em 2 de outubro