Quem são e como vivem as mulheres brasileiras descendentes de povos historicamente explorados? A partir de narrativas biográficas, os projetos Herdeiras Negras e Herdeiras Indígenas contarão as histórias de três gerações de mulheres negras de regiões com economia originalmente escravagista e de mulheres indígenas de diferentes etnias após o contato com outras civilizações não-indígenas.
Os estudos são liderados pelo professor Hermílio Santos, coordenador do Grupo de Pesquisa em Narrativas Biográficas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS (PPGCS). Ambos foram contemplados pelo edital de financiamento da Fapergs/BPA-PUCRS e o estudo da herança da escravidão concorre a um edital da DFG, instituição alemã de fomento à pesquisa.
O professor Steve William Tonah, do Departamento de Sociologia da University of Ghana, na África, abordará o panorama global, como a riqueza das culturas das nações africanas e a captura forçada de pessoas negras no período anterior à abolição.
Uma das principais referências internacionais no desenvolvimento da análise reconstrutiva de narrativas biográficas também participará do estudo: a professora Gabriele Rosenthal, da Universität Göttingen, na Alemanha.
O projeto Herdeiras Negras investigará a memória da escravidão e da economia canavieira, em Olinda (PE); da exploração de diamantes, em Diamantina (MG); e de charque, em Pelotas (RS). “Queremos mostrar o ponto de vista dessas mulheres que experienciam as consequências do longo período de escravidão que aconteceu nessas regiões entre os séculos 14 e 19”, explica o pesquisador.
Já o projeto Herdeiras Indígenas acompanhará mulheres das etnias Kaigangue e Xokleng e Bóe-Bororo (no Rio Grande do Sul, com contato iniciado há mais de 100 anos), Panará e Enawenê-nawê (com 40 anos de contato) e Yawalapiti e Kamayurá (em torno de 80 anos de contato), todas do estado de Mato Grosso. O objetivo do estudo é entender como mulheres de diferentes etnias interpretam e vivenciam o contato com a cultura não-indígena.
Os resultados das pesquisas, que ainda estão em desenvolvimento, serão transformados em uma série documental de acesso livre. A produção contará com a parceria de curadoras como Watatakalu Yawalapiti, uma das lideranças do movimento de mulheres indígenas no Xingu, em Mato Grosso.
Estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado do PPGCS, em sua maioria bolsistas, criaram duas páginas online com materiais próprios e curadoria de conteúdos audiovisuais e bibliográficos sobre os temas dos projetos. Confira: Herdeiras Indígenas e Herdeiras Negras.
O grupo também recebe participantes de outras cidades e países, como o Padre Talis Pagot, doutorando da Pontificia Università Gregoriana, em Roma.
No dia 17 de junho, o professor Hermílio mediará o evento Povos indígenas por eles mesmos, com representantes de sete etnias indígenas. O bate-papo é uma oportunidade para que o grupo compartilhe experiências para além da visão acadêmica, propondo reflexões sobre os distintos contextos e experiências indígenas no País.
Popularmente conhecido como o Dia do Índio, o dia 19 de abril marca a data do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, que aconteceu em 1940, no México. O encontro teve o propósito de discutir pautas a respeito da situação dos povos indígenas nas Américas e reuniu diversas lideranças do movimento.
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Eles são alguns dos povos mais antigos que existem, mas ainda se sabe muito pouco ao seu respeito. Só na Amazônia Legal, constam cerca de 115 registros de grupos indígenas que vivem em isolamento. Em parceria com profissionais, ativistas e órgãos indigenistas, o professor e pesquisador Hermílio Santos lidera ações e um estudo sobre diferentes etnias da população indígena no País, por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS (PPGCS).
Para entender melhor as heranças do contato da população indígena com outras civilizações e o contexto dos povos isolados, Santos mantém contato com várias etnias, por meio do WhatsApp. Entre elas, as da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), em Mato Grosso, que representa 16 povos que vivem no território: Aweti, Ikpeng, Kalapalo, Kamaiurá, Kawaiweté, Kisêdjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Tapayuna, Trumai, Wauja, Yawalapiti, Yudja.
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Sua pesquisa recentemente aprovada no Programa de Bolsas BPA irá estudar seis etnias, divididas em três grupos, de acordo com o período do primeiro contato: Terena e Bóe-Bororo (Mato Grosso, mais de 100 anos), Panará e Enawenê-nawê (há 40 anos) e Yawalapiti e Kamayurá (Mato Grosso, em torno de 80 anos). Serão realizadas entrevistas biográficas com três gerações de mulheres dessas etnias para entender os seus processos históricos.
No dia 18 de março, às 16h30min, o docente mediará um encontro virtual sobre Povos indígenas isolados no Brasil. Participarão do evento José Assunção Castilhos, especialista no tema que atua na Funai e Antenor Vaz, sertanista e consultor em Sistemas de proteção para povos isolados e de recente contato na América do Sul. Para acessar, acesse o link ou utilize o ID 95413237630 e a senha 457164.
A equipe, composta por estudantes do PPGCS, também tem elaborado ações de integração e recuperação da ancestralidade indígena. Por meio de uma das suas orientandas, que é filha de Tite, o técnico da seleção brasileira, o professor está organizando um campeonato de futebol com a Atix. “Eles gostam muito de futebol e o Tite, além de aceitar nos acompanhar, incluiu a CBF. Estamos em tratativa dos detalhes finais, mas deve acontecer após a pandemia”, explica Hermílio Santos.
E para marcar a contribuição da cultura indígena para a sociedade brasileira, está sendo planejada uma exposição com itens que foram levados para o exterior. No século 19, o primeiro contato com os povos do Xingu foi feito pelo pesquisador e explorador alemão Karl von den Steinen, que recolheu mais de mil objetos do local. Os itens fazem parte de um acervo etnográfico em Berlim, desde 1884.
“A ideia é trazer esses objetos para serem expostos no Xingu, no Senado Federal, e aqui na PUCRS, com o apoio de curadoras como Watatakalu Yawalapiti, uma das lideranças do movimento de mulheres indígenas no Xingu”, acrescenta sobre o projeto chamado Xingu 22, que deve ser parte das comemorações do bicentenário da independência.
Os povos isolados têm uma dependência muito maior do meio ambiente. “Se as florestas estão deterioradas, se a água fica contaminada ou se há contato desprotegido com a população não-indígena, eles podem facilmente ficar doentes. O que para nós é apenas um resfriado, para eles pode ser fatal. As ameaças vêm de muito tempo, mas com a intensificação das ações irregulares e a impunidade as consequências têm sido muito mais graves”, explica o pesquisador.
“Esses povos são patrimônio da humanidade. São brasileiros, mas ancestrais e originários dessa terra”, HERMÍLIO SANTOS.
A partir de leis indigenistas, foram criados espaços exclusivos para que esses grupos possam utilizar a terra sem deteriorá-la. Eles costumam viver como nômades ou seminômades e por isso precisam de áreas vastas. A primeira foi Massaco, em Rondônia, e existem cerca de outras 23 no País.
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Segundo dados divulgados pelo Instituto Socioambiental (Isa), baseados em relatórios da Fundação Nacional do Índio (Funai), apenas 28 dos registros de povos isolados foram confirmados. Além deles, o último censo do IBGE mostra que mais de 817 mil pessoas no brasil são indígenas, com 305 etnias e 274 línguas, representando apenas 0,4% da população total.
De 1500 até a década de 1970 muitos povos foram extintos. Outros fatores como autodeclaração e a dificuldade de contato com os povos isolados também influenciam para o número ser tão pequeno. Do total, mais de 502 mil vivem em zonas rurais e 315 mil habitam áreas urbanas.
As regiões com menor número de indígenas são a Sudeste e a Sul, enquanto a maior concentração está no Norte. O povo Tikuna, residente no Amazonas, apresenta o maior número de integrantes.