Prêmio de Tese Fulbright-Capes

Waldemar em Washington, durante a realização da pesquisa/Foto: acervo pessoal

O doutor pelo programa de Pós-Graduação em História da PUCRS, Waldemar Dalenogare Neto, foi o vencedor do Prêmio Fulbright-Capes de Tese, com a pesquisa Os Estados Unidos e a Operação Condor, realizada sob orientação do professor Helder Gordim da Silveira. Para concorrer à honraria, o departamento de cada Universidade seleciona seus melhores trabalhos e os submete ao prêmio. Os vencedores a nível nacional, como Waldemar, recebem uma bolsa de pós-doutorado nos EUA.  

Para Helder, orientador da tese, essa premiação é importante por representar o reconhecimento nacional e internacional da qualidade e da relevância dos trabalhos de pesquisa desenvolvidos na Pós-Graduação da PUCRS 

Saiba mais sobre a tese 

A Operação Condor foi uma campanha promovida pelos Estados Unidos que esteve intimamente relacionada com as ditaduras militares do Cone Sul, como a brasileira, a chilena e a argentina, promovendo ações de terrorismo de Estado. Embora seja um tema já conhecido, a tese de Waldemar possui um ineditismo:  

“Por muitos anos esses arquivos que utilizei (da CIA, do Departamento de Estado e das embaixadas) ficaram fechados para acesso e eu consegui essa liberação, através de um processo que iniciei já na minha pesquisa de mestrado. Foi um planejamento a longo prazo”, afirma o pesquisador. 

A ideia de Waldemar é realizar um comparativo entre as gestões de diferentes presidentes dos Estados Unidos: os conservadores Richard Nixon e Gerald Ford, que tiveram Henry Kissinger como secretário de Estado, e o governo do democrata Jimmy Carter, que apresentou uma pauta voltada aos Direitos Humanos.  

O pesquisador acredita que sua pesquisa poderá auxiliar nos debates historiográficos na Argentina, no Chile e no Brasil, em especial em relação aos crimes cometidos durante as ditaduras e sobre o papel dos Estados Unidos nesses regimes: “Por muitos anos, a administração dos presidentes Nixon e Ford, em especial o secretário Kissinger, afirmaram nunca ter cometido crime algum nesses países. A partir dessas primeiras descobertas, e existe material para mais pesquisas, outros acadêmicos poderão ser motivados a estudar esse assunto”.  

“É um avanço significativo no conhecimento sobre um tema de enorme importância científica e social para todo o continente americano e para o Ocidente”, complementa o orientador, professor Helder. 

A próxima tese vencedora pode ser a sua! 

Waldemar realizou toda a sua trajetória acadêmica na PUCRS: a graduação, em que obteve láurea acadêmica, o mestrado e o doutorado, ambos obtidos com louvor. “Eu sempre tive apoio da Universidade em todos os meus projetos. Fiz várias viagens para os Estados Unidos durante minha pós-graduação e sempre contei com o apoio da equipe da pós-graduação para conseguir realizá-las. Só tenho coisas boas a falar sobre a instituição que me possibilitou um grande crescimento profissional”, comenta.  

Projeto Institucional de Internacionalização da PUCRS é voltado para estudantes da Pós-Graduação que desejam realizar seus estudos no exterior. Ele possui três temas prioritários que contam com a participação de professores de diferentes áreas do conhecimento: Saúde no Desenvolvimento HumanoMundo em Movimento: Indivíduos e Sociedade e Tecnologia e Biodiversidade: Sustentabilidade, Energia e Meio Ambiente. Com ele, é possível ter uma experiência internacional, ampliando ainda mais os conhecimentos envolvidos em uma pesquisa.  

Se você se interessa por História e, assim como o Waldemar, deseja realizar mestrado e/ou doutorado na área, as inscrições para o programa de Pós-Graduação em História vão até o dia 12 de novembro!  

Leia também: De estudante ProUni em medicina a PhD no exterior, conheça a história de Gustavo Dalto 

Pesquisa biográfica aborda memórias sobre a escravidão

Foto: Pexels

A pesquisa biográfica Memórias individuais e coletivas da escravidão e do comércio de escravos: uma comparação contrastiva de diferentes comunidades, gerações e agrupamentos em Gana e no Brasil, desenvolvida, no Brasil, pelo professor Hermílio Santos e pelas estudantes Raphaela Pereira Dellazeri e Giorgia Moreira, será financiada pela Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG), a principal agência alemã de fomento à pesquisa.  

Conheça o projeto de pesquisa biográfica 

O estudo é realizado utilizando métodos das sociologias do conhecimento e da figuração para reconstruir as interrelações entre diferentes práticas de memória, a individual e a coletiva. O objetivo é comparar a memória sobre a escravidão em diferentes regiões, gerações e agrupamentos em Gana e no Brasil. Para isso, serão realizadas entrevistas familiares (se possível, com várias gerações de uma mesma família), discussões em grupo e entrevistas temáticas ou etnográficas com visitantes e guias em espaços de memória. O projeto, que será realizado entre 2022 e 2025, conta com uma equipe de pesquisadores de diferentes países:  

No Brasil e em Gana, as memórias sobre a escravidão estão presentes tanto a nível individual quanto coletivo, com muitas pessoas conhecedoras do fato de que seus ancestrais foram escravizadores ou escravizados. No entanto, dentro de cada país, as atitudes em relação a essa história são muito diferentes e, por vezes, controversas. Contrastando essas narrativas, é possível examinar de perto essas diferenças e mostrar como elas se devem a diferentes trajetórias históricas e configurações sociais em mudança.  

Como recorte geográfico, são estudadas as cidades ganesas de Elmina e Cape Coast, de onde partiam os navios negreiros, e duas regiões do norte do país, onde pessoas foram capturadas e vendidas no mercado de escravos. Já no Brasil, o trabalho focará na região litorânea de Salvador, na Bahia, em que a maioria dos atuais habitantes são descendentes de ex-escravizados, e na região de Pelotas, onde a população descende, em sua maioria, de europeus.  

Como tudo começou  

Hermílio Santos

Professor Hermílio Santos/Foto: Bruno Todeschini – Ascom/PUCRS

O projeto aprovado para o financiamento da DFG teve origem em uma parceria entre o professor Hermílio (PUCRS) e a professora Gabriele (Universität Göttingen) em uma iniciativa de internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, com financiamento da Fapergs que tem como objetivo a difusão na sociologia brasileira da abordagem reconstrutiva de pesquisa biográfica. Fazem parte dessa iniciativa, além do projeto que receberá o financiamento alemão, a pesquisa Herdeiras: Narrativas Biográficas de Três Gerações de Mulheres Pretas e a produção da série Herdeiras 

Leia também: Projeto Herdeiras: as consequências da exploração dos povos negros e indígenas 

Parceria Brasil e Alemanha

A PUCRS participa de diversos programas de internacionalização em cooperação com universidades alemãs. Inclusive, em parceria com a UFRGS, é sede do Centro de Estudos Europeus e AlemãesEm relação à Universität Göttingen, o acordo de cooperação é mantido desde 2014. Desde esse ano, a PUCRS tem recebido anualmente estudantes de pós-graduação em Ciências Sociais e encaminhado doutorandos para participar de atividades de treinamento no método de narrativas biográficas. Além disso, estudantes da graduação também tiveram a oportunidade de realizar mobilidade acadêmica com financiamento da Universidade alemã.  

Os pesquisadores do projeto agraciado com o financiamento da DFG também fazem parte dessa história. Hermílio já foi pesquisador visitante na instituição no exterior e Gabriele já esteve presente na PUCRS proferindo paletras, seminários e como professora visitante junto ao PPGCS. Ela já publicou duas obras pela Edipucrs, ambas com apresentação e revisão técnica da tradução realizadas por Hermílio. 

Saiba mais sobre internacionalização no site da PUCRS Internacional. 

Teve início nessa segunda-feira, dia 4 de outubro, a 22ª edição do Salão de Iniciação Científica da PUCRS. Neste ano, 686 estudantes participarão da semana de socialização de atividades de pesquisa que segue até a próxima sexta-feira, dia 8. A cerimônia de abertura foi conduzida pelo coordenador de Iniciação Científica Júlio César Bicca-Marques e contou com a palestra Avaliando percepção em faces: Uma abordagem computacional, apresentada pela professora da Escola Politécnica Soraia Raupp Musse. 

O encontro contou com a participação do vice-reitor Ir. Manuir Mentges; do pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Carlos Eduardo Lobo e Silva; da coordenadora de Programas Acadêmicos do CNPq, Lucimar Batista de Almeida; e do presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Fapergs), Odir Dellagostin. 

Em sua fala de acolhimento, o vice-reitor da PUCRS reforçou a importância da iniciação científica como caminho para a inovação e o empreendedorismo, levando ao desenvolvimento do estudante enquanto pesquisador. Mentges afirmou ainda que a partir da vivência, o aluno tem a oportunidade de atuar na geração de soluções para problemas concretos da sociedade. 

O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Carlos Eduardo Lobo e Silva agradeceu o apoio da Fapergs e do CNPq no desenvolvimento dos futuros cientistas e reforçou a relevância do evento para o Rio Grande do Sul como oportunidade de compartilhamento de conhecimento e momento de formação para a geração futura de cientistas. Além disso, apresentou o Programa G+1, nova iniciativa da Universidade para que o aluno possa viver a experiência do mestrado durante a graduação. Por meio da novidade, o estudante poderá concluir o mestrado com apenas mais um ano de estudo após o término da graduação. Para isso, ele precisa ter cursado, pelo menos, 50% dos créditos do seu curso de graduação e cumprir com os requisitos previstos no edital de seleção do Programa de Pós-Graduação de seu interesse. 

Leia também: Integra Pós possibilita que estudantes concluam a pós-graduação um ano após se formarem 

Simulação e humanos virtuais 

Professora da Escola Politécnica Soraia Musse palestrou na abertura do evento

Na palestra de abertura, a professora Soraia Raupp Musse apresentou algumas pesquisas conduzidas no Laboratório de Visualização de Humanos Virtuais (VHLab). Soraia destacou a presença de bolsistas de Iniciação Científica que integram os projetos de pesquisa do grupo. 

O VHLab se interessa por problemas de simulação e de percepção de humanos virtuais. “Se por um lado queremos simular a fim de criar cenários que não existem, por outro lado queremos entender como essas imagens são percebidas e compreendidas por nós”, explica a pesquisadora. Indo do reconhecimento facial ao reconhecimento de emoções, os projetos desenvolvidos buscam relacionar os estilos faciais com características emocionais e como isso tem sido trabalhado na área da computação gráfica. 

Sobre o Salão de Iniciação Científica 

encontro é voltado a bolsistas de Iniciação Científica e seus orientadores, vinculados a instituições de ensino de todo o Brasil. O evento busca proporcionar o intercâmbio de conhecimentos e dos resultados das pesquisas desenvolvidas pelos bolsistas de Iniciação Científica em projetos orientados por pesquisadores. Além de promover a divulgação da pesquisa no âmbito da graduação da Universidade e da comunidade científica e acadêmica em geral, e incentivar a participação dos alunos de graduação em programas de Iniciação Científica. 

Na sexta-feira, dia 8 de outubro, às 18h30min, acontece a cerimônia de encerramento com a palestra Quais deveriam ser os conselhos de Cajal para jovens pesquisadorxs em 2021?, conduzida pelo professor da Escola de Medicina Rodrigo Grassi de Oliveira. Neste encontro também serão divulgados os destaques do evento deste ano. Saiba mais no site do evento.

Pressão estética e mídias sociais
Com as mídias sociais, as mulheres passaram a se analisar mais/Foto: Pexels

Que mulher nunca quis ter o corpo dos sonhos? A pressão estética afeta mulheres desde a infância, fazendo com que passem a viver relações complexas com seus próprios corpos. As redes sociais estampam a vida perfeita: imagens editadas semelham a vida real e é cada vez mais difícil ver pessoas sem filtros. De que forma isso impacta na percepção do gênero feminino sobre si mesma? Tentando encontrar essas respostas, estudantes do curso de Publicidade e Propaganda elaboraram a pesquisa Mídias Sociais e a Relação das Mulheres com a sua Aparência 

Instagram: a nova capa de revista 

Se anteriormente o ideal de corpo era de modelos que estampavam as capas de revista, hoje em dia os influenciadores das redes sociais ocupam esse papel. “Recebo pacientes que chegam com fotos de si mesmos com filtro e falam ‘eu quero ficar com a boca assim’. Em muitos casos, são bocas impossíveis de serem feitas”, comenta a cirurgiã plástica Renata Vidal, em entrevista à revista Elle. 

“Antes, as formas de comunicação eram muito mais tranquilas. Era uma revista, a televisão… Eram itens que faziam parte do entretenimento das pessoas, mas existia um certo afastamento, você sabia que eram celebridades. Era algo inalcançável. Hoje em dia, com acesso facilitado para a comunicação em rede, a gente percebe que a Natália, de Porto Alegre, se compara com a Kylie Jenner, que tem idade semelhante, mesmo que as realidades sejam muito diferentes, e começa a querer ser como ela”, explica Natália Manquevick, uma das responsáveis pelo estudo.  

O grupo percebeu que o Instagram é a rede social mais utilizada pelas mulheres que participaram do estudo e três pontos induzem a busca por procedimentos estéticos:  

  1. A distorção da própria imagem, potencializada por filtros e efeitos das mídias; 
  2. A facilidade e a motivação vindas de influências próximas às pessoas para a realização de procedimentos; 
  3. O período de isolamento social, em razão da pandemia.  

Embora as mulheres sigam celebridades que falam abertamente sobre os procedimentos realizados por elas, são pessoas do seu próprio ciclo social que têm a maior influência sobre as decisões. Nesse caso, pessoas famosas servem como inspiração e conhecidos que já ocuparam o posto de pacientes atuam como “especialistas por experiência”. 

A pressão estética surge em casa 

Tainá, de 34 anos, mesmo sem cirurgia, já pensou em fazer uma rinoplastia. Sua insatisfação com o nariz surgiu ainda durante a infância:  

“Minha mãe brincava de apertar o meu nariz, ela vinha ‘deixa eu apertar para afinar ele’, eu achava engraçadinho, porque era criança. Hoje em dia, percebo que desde lá já era uma negação ao aspecto da pele, da genética, das nossas origens”, conta. 

Acredita-se que as insatisfações das mulheres com a aparência e o corpo são mais expressivas pela influência e o impacto de vivências passadas na infância e na adolescência. Nessa fase, em que a pessoa ainda está desenvolvendo sua personalidade, críticas e apontamentos feitos pela família têm impactos permanentes na autoestima.  

As mídias sociais são responsáveis por expandir essas inseguranças e ampliar essa pressão estética, pois os filtros possibilitam corrigir aspectos físicos que causam incômodo e, a partir da satisfação com a imagem alterada, a possibilidade de corrigir verdadeiramente essas imperfeições se torna mais real. 

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Diferenças geracionais  

Respondentes da pesquisa acreditam que o mercado de procedimentos estéticos crescerá/Foto: Pexels

Tanto na fase qualitativa quanto na quantitativa da pesquisa participaram mulheres de 18 a 34 anos divididas em dois grupos geracionais: as mais novas, entre 18 e 24 anos, e as mais velhas, entre 25 e 34. Algumas diferenças entre ambas as faixas etárias ficaram em evidência, como:  

Alguns aspectos, no entanto, se mostraram um consenso entre a maioria das entrevistadas ou respondentes da etapa quantitativa, independentemente da idade: 

A pandemia e o futuro do mercado 

Com a pandemia, as pessoas passaram a se enxergar mais pelas telas, intermediadas por filtros, o que impactou muito na percepção das mulheres sobre si mesmas. Pesquisadores dos EUA já identificaram o que foi denominado dismorfia do Zoom, ou seja, uma ansiedade sobre a aparência individual causada pelas chamadas de vídeo.  

Além disso, a possibilidade de trabalhar de casa durante o pós-operatório foi um dos impulsionadores para que mulheres realizassem intervenções cirúrgicas para modificar o rosto ou o corpo. 

A maior parte das respondentes da etapa quantitativa da pesquisa acredita que esse mercado se expandirá no futuro, com um aumento na busca e na realização desses procedimentos. No entanto, apesar da pressão estética ser sentida pela maioria delas, a minoria das participantes do estudo realizou algum procedimento, embora as mais novas tenham pretensão de fazê-lo. A falta de desejo não é o principal agente desmotivador para essas intervenções, mas, sim, os altos valores das cirurgias e o medo de erros médicos e dos riscos.  

Mapeando comportamentos 

O estudo Mídias Sociais e a Relação das Mulheres com a sua Aparência foi elaborado no primeiro semestre de 2021 dentro na disciplina de Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda, sob orientação do professor Ilton Teitelbaum, pelas estudantes Ana Aguiar, Gabriela Machado, Maria Bitencourt e Natália Manquevick. 

Para Natália, foi importante realizar essa pesquisa para compreender que o público não é homogêneo e que cada pessoa possui sua individualidade. Ainda, complementa que um dos motivos para a escolha do tema foi que as pesquisadoras não desejavam ser coniventes com a pressão estética, tornando importante compreender de que forma ela ocorre e quais são suas consequências na sociedade. 

Após um mapeamento inicial da problemática, as estudantes realizaram a etapa qualitativa da pesquisa, que contou com entrevistas em profundidade com jovens de 18 a 34 anos com e sem procedimentos estéticos, a psicóloga Susana Gib, a cirurgiã plástica Gabrielle Adames e a “especialista por experiência” Jeane Pereira. Por fim, a etapa quantitativa teve 253 mulheres respondentes, moradoras de Porto Alegre e Região Metropolitana e pertencentes à faixa etária analisada. 

Leia também: Quando olho no espelho: a influência da pandemia no mercado de beleza 

Relacionamento na pandemia mudou

Durante a pandemia, os jovens costumam realizar encontros na sua casa ou na do parceiro/Foto: Pexels

Navegar entre diferentes fotos e descrições, arrastar perfis para o lado, encontrar pessoas que frequentam espaços próximos, utilizar filtro de localização… Essas são apenas algumas das opções para quem decide dar uma chance aos aplicativos de relacionamento. As ferramentas, que já não eram novidade e chegaram a milhões de downloads nos últimos anos, tiveram um crescimento ainda maior durante a pandemia da Covid-19. 

Para entender o que jovens de Porto Alegre de 18 a 25 anos pensam sobre as formas e possibilidades de se relacionar nesse período, estudantes da disciplina de Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos elaboraram um estudo que trouxe insights e descobertas interessantes. 

“A ideia era entender como estava a percepção dessas pessoas sobre a pandemia e de que forma o comportamento delas mudou nesse período, e nossos resultados foram muito interessantes”, comenta Phillip Peitz, um dos realizadores da pesquisa, que complementa: “Foi legal perceber, por exemplo, que mulheres e jovens mais velhos, entre 22 e 25 anos, demonstraram uma maturidade maior em relação aos relacionamentos”.  

O que mudou? 

Jovens que antes costumavam ir para bares, festas e restaurantes precisaram buscar alternativas para manter suas vidas sociais ativas durante a pandemia. Não é de se impressionar que os aplicativos de relacionamento tiveram um crescimento grande durante esse período. Tinder, uma das plataformas mais conhecidas, teve o maior número de interações da sua história no final de março de 2020. 

A maioria dos entrevistados para a pesquisa se manteve em isolamento total, saindo apenas para compromissos importantes, pelo menos nos seis primeiros meses da pandemia. Nesse período, os únicos que estiveram em contato com alguém foram os comprometidos, os quais viram seus parceiros. Entretanto, o relacionamento na pandemia seguiu um padrão diferente do habitual: eles revelaram ou passar bem mais tempo juntos ou reduzir consideravelmente as visitas.  

Jovens mudam rotina

Como alternativa aos locais que costumavam ir, jovens estão realizando reuniões na casa de amigos/Foto: Pexels

Mas por que usar um aplicativo de relacionamento? Para a maioria dos participantes, a resposta é a carência e o desejo de solucionar a falta de conversas com pessoas devido ao isolamento social.   

Quando começaram a flexibilizar a quarentena, como alternativa aos locais que costumaram frequentar, os jovens passaram a ir a postos de gasolina e realizar reuniões na casa de amigos, em sua maioria com as pessoas mais próximas, o que significou romper o contato com parte do círculo de amizades.  

Para os comprometidos, ter um relacionamento na pandemia significou um maior companheirismo e parceria, enquanto poucas pessoas identificaram um aumento nos conflitos e brigas no período. A maior parte das pessoas manteve seu status de relacionamento atual. 

O romantismo acabou? 

Comunicação, confiança, compreensão, sinceridade e abertura para conversas. Essas foram as características mais apontadas sobre o que os participantes desejam em um relacionamento sério. No entanto, romantismo, cobranças e “ficar o tempo todo grudado” já não são desejados nessas relações.  

“Eu não acho que seja tão importante romantismo toda hora. Se eu sei que uma pessoa gosta de mim, não vejo um porquê para que ela faça toda hora uma declaração excessiva. Não é algo que eu cobro e vejo que, no geral, é algo que incomoda muita gente”, comenta Eduarda, uma das entrevistadas para a pesquisa.  

Há, no entanto, uma diferença entre gerações no que diz respeito ao que buscam em um parceiro. Enquanto o público mais jovem, de 18 a 21 anos deseja alguém parceiro, confiável e engraçado, os mais maduros querem estar mais em boa companhia do que dar risadas ao lado do companheiro. 

O encontro ideal, também conhecido pelo nome em inglês, date, deve ter diversão e conversas agradáveis, trazer segurança e conforto, além de possibilitar que os jovens sejam eles mesmos. Também foi possível observar uma mudança nos locais escolhidos para essas ocasiões: 90% dos jovens que afirmaram ter participado de um encontro durante a pandemia afirmam que realizaram dates em suas casas ou na casa do parceiro.  

Os aplicativos como alternativa para o relacionamento na pandemia 

Relacionamento na pandemia

Foto: Pexels

Dos 400 respondentes da parte quantitativa da pesquisa, 71% afirmaram já ter usado algum aplicativo de relacionamento, a maior parte (98%) optou pelo Tinder. Durante a pandemia, praticamente metade do público ou manteve ou aumentou o uso desses recursos. Os principais motivos para ingressar nas plataformas são conhecer gente nova, passar o tempo, e inflar o ego ou aumentar a autoestima. Embora beijar na boca apareça em quarto lugar nas respostas gerais, é um dos três principais impulsionadores para homens utilizarem esse tipo de ferramenta.  

Os principais critérios na escolha de um eventual parceiro em aplicativos de relacionamento são a aparência, os interesses em comum e as fotosNas entrevistas em profundidade foi possível perceber que biografias criativas ou que sejam capazes de expressar como essa pessoa é e pelo que ela se interessa são os preferidos pelos usuários. Apesar dos jovens terem se tornados mais seletivos durante a pandemia, apenas as mulheres esperam ampliar a seletividade na escolha de parceiros no pós-pandemia.  

Mas o que leva alguém a usar um aplicativo de relacionamento? O conforto para conhecer pessoas novas e a facilidade para conversar foram as principais vantagens apontadas pelos usuários, enquanto não ter certeza se as pessoas expõem suas vidas reaisdeixar o papo morrer e, principalmente entre as mulheres, o medo de quem está por trás dos aplicativos foram os principais receios entre os jovens.  

Entendendo comportamentos na pandemia 

O estudo foi elaborado pelos/as estudantes Bruna Maciel, Gabriel Teixeira, Julia de Bortoli, Maria Eduarda Diehl e Phillip Peitz, da disciplina de Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda, ao longo do primeiro semestre de 2021 e com orientação do professor Ilton Teitelbaun. 

“Essa pesquisa foi importante pois fez com que saíssemos da nossa bolha, muitos dos resultados nos surpreenderam. Algo interessante é que, nesse semestre, 2021/2, temos um projeto prático e pudemos pegar como cliente uma empresa relacionada à temática da pesquisa. Os resultados também serão entregues ao aplicativo Happn, já que uma das especialistas entrevistadas era analista de Marketing da empresa”, comenta. 

Em sua etapa qualitativa, contou com sete entrevistas em profundidade, sendo três delas com especialistas e quatro com jovens de 18 a 25 anos, também foram formados dois grupos focais com oito jovens na mesma faixa etária dos entrevistados. Depois, na fase quantitativa, foram 400 respostas válidas em uma coleta feita por meio de questionário online, sendo a maioria homens e mulheres cisgêneros e heterossexuais, todos moradores de Porto Alegre ou da Região Metropolitana. 

Challenges do TikTok

Coreografias são um dos principais conteúdos produzidos no TikTok/Foto: Pexels

Que o TikTok é a rede social da pandemia todo mundo sabe, mas até quando essa onda pode durar? Qual o segredo por trás do sucesso da rede? O que o público espera da plataforma? Essas são algumas das perguntas que os estudantes do curso de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos da PUCRS, orientados pelo professor Ilton Teitelbaum, buscaram responder com a pesquisa O Crescimento do TikTok e o Impacto da Pandemia nos Usuários de Redes Sociais. 

Antes de mais nada, é importante entender o que é o TikTok e de onde ele surgiu. Trata-se de uma rede social para o compartilhamento de vídeos curtos, com até três minutos de duração, na qual os usuários contam com diferentes ferramentas de edição e podem incluir filtros, legendas, trilhas sonoras, gifs e efeitos de forma prática e intuitiva.  

Seu conteúdo é baseado em tendências e os usuários realizam challenges (desafios), dublagens, imitações e coreografias. Isso instiga a participação de outras pessoas e atrai, principalmente, o público jovem. Além disso, sua aba explorar possui um apelo para a viralização de conteúdo, fator determinante para o crescimento e o sucesso do TikTok. Foi essa característica que levou a jovem Sofia Müller, que, hoje, possui cerca de 50 mil seguidores na rede social, a produzir conteúdo para o aplicativo. 

“O TikTok oferece chance para pessoas desconhecidas viralizarem. Eu consegui fazer a minha marca de roupas crescer através da rede”, comenta.  

Aplicativo atingiu mais de dois bilhões de downloads no começo da pandemia 

Em 2017, o TikTok, ainda bem diferente do que conhecemos hoje em dia, comprou o aplicativo Musical.ly e a união de ambos é a rede social que conhecemos hoje em dia. O início da pandemia, em 2020, foi um momento marcante na história da rede, pois foi quando ultrapassou dois bilhões de downloads nas lojas de aplicativos. De acordo com levantamento realizado pela Global/WebIndex, já existem cerca de sete milhões de usuários cadastrados no Brasil, que gastam cerca de uma hora por dia no aplicativo.  

Uma das características é a monetização de seus usuários através de rubis, o dinheiro virtual do aplicativo. Os usuários podem recebê-los de sua audiência, durante lives, ou através de tarefas ou indicação de pessoas para que baixem a plataforma 

Por trás do sucesso do TikTok: o que as pessoas pensam sobre o aplicativo?  

Para o influenciador digital Lucas Ruschel, que ingressou no app no período da crise sanitária de Covid-19, o que mais chamou atenção foi o aumento repentino no número de usuários. Com mais de 150 mil seguidores, ele acredita que a pandemia tenha sido o fator decisivo para esse crescimento. Sua hipótese conta com o apoio da psicóloga Mariah Paranhos. Segundo ela, “sempre tem um aplicativo do momento que talvez venha até de uma necessidade da sociedade propriamente”. Para Mariah, a necessidade suprida pelo TikTok é a falta de contato humano durante a pandemia, período em que se popularizou no Brasil. 

Outro número que aumentou durante a pandemia foi o de pacientes de Mariah, que revela que a questão do TikTok sempre acaba se tornando pauta entre os adolescentes. No entanto, ela alerta que as redes sociais são potenciais vícios e que é importante saber de forma clara qual é o seu objetivo com o aplicativo para utilizá-lo sem preocupações.  

O potencial de viralização é outro perigo da rede ao pensar em saúde mental, pois, como apontado pela psicóloga, uma pessoa que é beneficiada pelo algoritmo em algum momento pode, rapidamente, cair no esquecimento. Isso pode gerar frustrações dependendo da personalidade e da forma com que esse indivíduo lida com as redes sociais.  

Veio para ficar?  

Challenge de maquiagem

Os “challenges” convidam usuários a participar da brincadeira/Foto: Pexels

A professora da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos Gabriela Kurtz acredita que sim, o TikTok continuará. Mas, de acordo com ela, pode ser que a rede deixe de ser a “febre” que é atualmente. Isso porque um dos fatores que contribuem para manter as pessoas engajadas na plataforma é o tédio, que tende a se tornar menos frequente à medida que as coisas voltem à normalidade.  

A opinião dos usuários do TikTok sobre sua durabilidade varia muito. Lucas acredita que dificilmente ele deixe de existir, mas que, de fato, há chances de que os números caiam. Já Sofia crê que é uma rede momentânea e, portanto, tem prazo de validade.  

Esse aspecto chamou a atenção dos integrantes do grupo que realizou a pesquisa, incluindo o estudante Rodrigo Ruschel, que afirmou ter sido surpreendente perceber quantas pessoas consideram essa uma rede social momentânea e afirmaram não ter pretensão de utilizá-la após a pandemia.  

O caso dos jovens de Porto Alegre 

Como parte da pesquisa, jovens de 18 a 24 anos de Porto Alegre e região foram convidados a responder um questionário sobre o uso de redes sociais na pandemia. Ao todo, foram obtidas 223 respostas, sendo 63,2% de mulheres, 37,2% de homens e 0,4% de pessoas que se identificaram como outros. A partir das respostas, foi possível ver, em dados, como é o comportamento dessa faixa da população nas redes.  

Enquanto mais da metade dos jovens não alteraram seu consumo de rádio e jornal durante a pandemia, quando se fala em televisão e redes sociais a situação é diferente: aproximadamente quatro a cada dez aumentaram pouco o consumo de televisão e mais de 60% o de redes sociais.  

Dentre as redes favoritas desse público, ocupam o topo do ranking, respectivamente, o Instagram, o WhatsApp e, é claro, o TikTok. Praticamente metade dos jovens afirmou utilizar redes sociais de duas a quatro horas por dia. 

Quando se fala em destaques da pandemia o resultado já é o esperado: Instagram e TikTok foram os aplicativos que mais chamaram atenção no período, além disso, foram apontados como os que fornecem a melhor visibilidade para influenciadores e para usuários comuns, o maior poder de viralização para vídeos e o maior potencial de destaque para o pós-pandemia.  

Período da noite é o favorito dos usuários 

TikTok

Foto: Pexels

Embora a maioria do público utilize o TikTok, quase 40% afirmaram ainda não serem usuários da plataforma. Entre os motivos apresentados para isso, destacam-se a negação de ter mais uma rede social em sua vida, a falta de identificação com o público do aplicativo e o medo de se tornar um usuário excessivamente ativo. No entanto, foi, também, apontado o que faria com que esses jovens ingressassem à rede, sendo os principais atrativos a disponibilidade de conteúdos mais diversificados e a criação de grupos e/ou comunidades dentro do aplicativo.  

Entre os jovens que já utilizam a plataforma, quase todos afirmaram ter realizado o download como forma de distração (94,3%) e uma parcela significativa para pesquisa de referências (21,4%). A rede também mostrou ser mais utilizada durante a noite e com uma participação maior das mulheres do que dos homens, sendo a maior parte deles usuários que apenas visualizam os conteúdos (58,8%) e o menor percentual o que visualiza, posta e interage (apenas 9,2%). 

Eles sugerem, ainda, que, para o sucesso do TikTok ser ainda maior, falta interação entre os usuários, suporte aos criadores de conteúdo e alterações no layout da plataforma. Para eles, a rede social perfeita é formada pela característica “good vibes” do Instagram, pela privacidade encontrada no WhatsApp e pela descompressão apresentada pelo Tiktok.  

Mapeando tendências de comportamento  

O estudo O Crescimento do TikTok e o Impacto da Pandemia nos Usuários de Redes Sociais foi elaborado pelos/as estudantes André Barcellos, Caroline Hennicka, Felipe Paes, Julia Prado, Pedro Tassoni, Rafael Domingues, Rodrigo Ruschel, Thaísa Zilli Batista, Uillian Vargas e Vinicius Mourão, da disciplina de Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda, ao longo do primeiro semestre de 2021.  

“Essa disciplina foi uma das que mais contribuíram para o nosso aprendizado, pois precisamos gerenciar uma equipe, dividir tarefas, trabalhar com prazos e, além disso, elaborar uma pesquisa completa, com início meio e fim, comparando etapas qualitativas e quantitativas”, relembra Rodrigo.  

Em sua etapa qualitativa, a pesquisa contou com 12 entrevistas em profundidade, sendo oito delas com jovens de 18 a 24 anos da região de Porto Alegre, duas com influenciadores digitais do TikTok (Lucas Ruschel e Sofia Müller), uma com uma psicóloga (Mariah Paranhos) e outra com uma comunicadora social (Gabriela Kurtz). Depois, na fase quantitativa, foram 223 respostas válidas em uma coleta feita por meio de questionário online.  

Pesquisa avalia benefícios da descafeinação da erva-mate feita de forma eco-friendly

Erva-mate consumida na forma de chimarrão tem uma concentração de cafeína superior que a do próprio café / Foto: Camila Cunha

Símbolo do Rio Grande do Sul, o chimarrão faz parte do dia a dia de muitos gaúchos como item indispensável. Ao nos aproximarmos das celebrações do 20 de setembro, uma pesquisa desenvolvida na Universidade mostra como a tecnologia de materiais pode impactar positivamente neste hábito popular. A erva-mate consumida na forma de chimarrão tem uma concentração de cafeína entre 1,0% e 2,5 %, ou seja, maior que a concentração de cafeína do próprio café. E o que aconteceria se essa composição fosse modificada de forma limpa? 

A pesquisa desenvolvida pelo professor da Escola Politécnica Eduardo Cassel tem como escopo a extração supercrítica – processo que utiliza o solvente na condição de fluido supercrítico – de cafeína da erva-mate. O principal diferencial desse estudo é a utilização do CO2 como solvente, considerado uma tecnologia limpa. De acordo com o pesquisador, esse tipo de processo de extração apresenta vantagens em relação aos processos tradicionais com solventes em estado líquido, uma vez que o CO2 é inerte, barato e atóxico. 

Descafeinação da erva-mate: Uma matéria-prima, três produtos diferentes 

Cassel conta que a partir de uma mesma matéria-prima (erva-mate) é possível obter três produtos: erva-mate descafeinada, cafeína e compostos antioxidantes. O projeto de purificação e nanoencapsulação/nanoemulsão de cafeína, vinculado ao Edital MAI do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Programa de Mestrado para a Inovação, tem como objetivo obter novas formas de uso da cafeína na área de cosméticos e de alimentos.  

“Com a extração podemos utilizar a cafeína para compostos antioxidantes em cosméticos, bebidas energéticas, suplementos alimentares, além de incorporar um novo produto no mercado que é a erva-mate descafeinada”, acrescenta.

O professor ainda destaca que esse processo opera em alta pressão e que sua principal qualidade é o fato de ser seletivo à cafeína, sem alterar significativamente as propriedades sensoriais da erva-mate usada para o chimarrão. O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Operações Unitária  (Lope), utilizando a unidade de extração supercrítica desenvolvida, implantada e validada pelo grupo de pesquisa sediado no Lope. 

A pesquisa também contou com a parceria da empresa Baldo S.A., por meio do primeiro projeto de pesquisa em cooperação em empresa desenvolvido na PUCRS que utilizou os incentivos da Lei do Bem. Este estudo envolveu o Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (duas teses de doutorado, uma dissertação de mestrado e quatro alunos de Iniciação Científica) e o curso de Engenharia Química. 

PPG em Engenharia e Tecnologia de Materiais está com processo seletivo aberto 

O Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (PGETEMA) está com edital aberto para os cursos de mestrado e doutorado até o dia 29 de outubro. Com nota 5 na Avaliação Quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o PPG conta com diversas linhas de pesquisa nas áreas de concentração Engenharia e Tecnologia de Materiais e Materiais e Processos RelacionadosSaiba mais.

Nesta quinta-feira, 26 de agosto, é o Dia Internacional da Igualdade Feminina. A data reforça a necessidade de se debater esse tema e a importância de ações efetivas para que a igualdade e a equidade de gênero possam serem alcançadas. Ao longo do tempo, mulheres conquistaram inúmeros avanços, desde o direito ao voto, na década de 1930, até a Lei do Feminicídio, em 2015. No entanto, além de ambas serem datas recentes se comparadas à história da humanidade, a disparidade entre homens e mulheres ainda é evidente na sociedade.  

Para refletir sobre essa data, uma das pesquisadoras mais influentes do Brasil, Patrícia Grossi, que estuda violência de gênero e políticas públicas e atualmente é professora da Escola de Humanidades da PUCRS, preparou cinco dicas de livros e de filmes que abordam questões de gênero, confira! 

1. As Sufragistas (2015) 

Foto: reprodução do cartaz do filme As Sufragistas

Uma das lutas mais marcantes pela igualdade de gênero da história se deu através do movimento sufragista do século 20. Esse filme conta a história de Maud Watts, interpretada por Carey Mulligan, uma mulher inglesa sem formação política que passa a cooperar com o movimento, cujo objetivo é a conquista do direito ao voto feminino. Para isso, ela enfrenta a pressão imposta pela polícia e por seus familiares, os quais querem que ela retorne para casa, onde seria sujeita à opressão masculina. No entanto, ela decide realizar certos sacrifícios em busca da igualdade de direitos. 

 

2. O sorriso de Monalisa (2003) 

Foto: reprodução do cartaz do filme O Sorriso de MonalisaEstrelado por Julia Roberts, esse drama romântico conta a história de Katherine Watson, uma professora que, na década de 1950, é contratada para lecionar História da Arte em uma escola feminina tradicional, a Wellesley College, onde garotas consideradas brilhantes são educadas para serem esposas cultas e mães responsáveis. Entretanto, Watson discorda desse pensamento e enfrenta tanto a administração da escola quanto as próprias estudantes para abrir a mente das alunas. Seu desafio é fazer com que elas assumam sua identidade cultural como ser social e histórico. 

 

3. Grandes Olhos (2014)  

Foto: reprodução do cartaz do filme Grandes OlhosDirigido por Tim Burton, é um drama biográfico que aborda a vida da artista Margaret Keane. Ela e seu marido, Walter, ficaram conhecidos nas décadas de 1950 e 1960 por pintarem retratos de mulheres e crianças com olhos grandes. A mulher era a verdadeira responsável pelas obras, mas era Walter quem recebia os créditos por elas.  Em 1970, Margaret assumiu a autoria das artes durante um programa de rádio, o que culminou em uma grande disputa entre o casal, resultando em uma batalha judicial.  

 

4. Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie 

Foto: reprodução da capa do livro Sejamos Todos Feministas, de Chimamanda Ngozi AdichieNessa obra, a escritora nigeriana relembra a primeira vez que foi chamada de feminista. Durante uma discussão com seu amigo de infância, a palavra foi utilizada de maneira depreciativa. Apesar disso, Chimamanda abraçou o termo e começou a se autodenominar como “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”. Neste ensaio, a autora parte de sua experiência pessoal para mostrar que ainda há muito trabalho para que a igualdade de gênero seja alcançada.  

Ela considera que para atingir essa igualdade é necessário que homens e mulheres atuem de forma conjunta, pois é algo que beneficiará ambos os gêneros, uma vez que meninas poderão assumir sua identidade, ignorando a expectativa alheia, enquanto os meninos poderão crescer livres, sem ter que se enquadrar em estereótipos de masculinidade.  

5. Mulheres, Raça e Classe, de Angela Davis  

Foto: reprodução da capa do livro Mulheres, Raça e Classe, de Angela DavisNeste livro a renomada escritora aborda não apenas a luta feminista, mas também a anticapitalista, a antirracista e a antiescravagista. Davis acredita que as questões de gênero são permeadas por interseccionalidades, as quais não podem ficar de fora dos debates. Ela sai do ponto de vista das mulheres brancas e dá centralidade ao papel das mulheres negras na luta contra as explorações que se perpetuam no presente, relembrando diferentes momentos da história dos Estados Unidos.  

Apesar de não ser uma obra pensada para a realidade brasileira, ainda assim é uma leitura importante, visto que o País por muito tempo ressaltou e ainda repete o mito da democracia racial, além de ser um dos mais desiguais do mundo. Basta observar que a maior parte da população que não possui trabalho ou que está subocupada é racializada e que negros além de serem mais vítimas de homicídios, em relação a brancos, são maioria no sistema carcerário, como demonstrado pela Agência Lupa, em reportagem que usa como base dados do IBGE.  

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Mobilidade urbana e pandemia

Estudo tem objetivo de analisar como o período de isolamento social influenciou na mobilidade urbana./Foto: Blue Bird/Pexels

Entender os impactos da pandemia de covid-19 na mobilidade urbana é o objetivo da pesquisa Mobilidade e Pandemia, lançada em julho e desenvolvida pelo Núcleo de Tendências e Pesquisa, da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, em parceria com a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga (Vida Urgente). Podem participar do levantamento pessoas com idade entre 16 e 34 anos, que residem em Porto Alegre ou na Região Metropolitana, até o dia 18 de setembro. 

O estudo busca analisar como o período de isolamento social influenciou na forma como as pessoas se relacionam com a cidade, pelo viés da mobilidade. Segundo Ilton Teiltelbaum, coordenador da pesquisa, o objetivo do projeto é fazer um comparativo. “Boa parte do questionário se dedica a entender como as pessoas enxergam a mobilidade antes, durante a pandemia e como se espera que passe a ser após esse período. Estamos coletando percepções individuais para gerar insights coletivos”. 

Para ele, a grande contribuição do estudo para a comunidade porto-alegrense e da região é a possibilidade de identificar as diferentes destes dois momentos, já trazendo uma perspectiva do que é visto como “cenário ideal” pelas pessoas.  

“A partir das respostas poderemos entender se o caminho futuro deve ter mais viadutos ou mais ciclovias; se nesse mundo híbrido que se aproxima as pessoas desejam ver a cidade a pé, de bicicleta e de patinete ou querem que os investimentos sigam sendo feitos nos automóveis? Com esses insights poderemos desenhar uma cidade mais interessante em termos de mobilidade daqui para a frente”, pontua.  

Quero participar da pesquisa

múmia,pesquisa

Crânio mumificado de Iret-Neferet / Foto: Bruno Todeschini

Em Cerro Largo, pequena cidade localizada há cerca de 400 km de Porto Alegre, o Museu 25 de Julho exibia uma múmia egípcia. De acordo com a instituição, ela foi doada por Marcelino Kuntz, que a recebeu como presente na década de 1950. Embora estivesse há mais de meio século na cidade, sua autenticidade ainda não havia sido confirmada, até que, em 2017, pesquisadores da PUCRS a trouxeram à capital gaúcha, onde sua identidade foi confirmada. 

No último ano, análises bioarqueológicas realizadas pelos pesquisadores Edison Hüttner, da Escola de Humanidades, Eder Hüttner e Bruno Candeias identificaram células intactas na múmia, batizada como Iret-Neferet. Por essa descoberta, receberam, neste mês, o prêmio Descobertas do Ano da revista Aventuras na História. 

“Essa descoberta se torna importante por três motivos: em primeiro lugar, por ser inédito encontrar uma múmia egípcia em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul e, além disso, por ela ter suas células extremamente preservadas e, por fim, pela característica interdisciplinar da pesquisa, cada vez mais relevante no âmbito acadêmico”, explica o professor Luciano Aronne de Abreu, coordenador do Grupo de Identidades Afro-Egípcias. 

As pesquisas 

Para descobrir a idade da múmia, os pesquisadores utilizaram um dos principais métodos de datação de fósseis, o radiocarbono C-14, que leva em consideração o decaimento radioativo do carbono 14, presente nos seres vivos, ao longo do tempo. Assim, conseguiram estimar que Iret-Neferet viveu por volta de 768 e 476 a.C., ou seja, entre o final do Terceiro Período Intermediário (1070-712 a.C.) e o início do Período Tardio (712-332 a.C.).  

Também foi encontrado um olho esquerdo artificial, inserido durante o processo de mumificação. Esse elemento é um dos principais amuletos egípcios. Sua origem remonta à mitologia egípcia, a qual conta que o deus Hórus teve seu olho esquerdo arrancado por seu irmão Seth durante uma luta. Foi essa característica que deu origem ao nome da múmia, Iret-Neferet, que significa a mulher de olho bonitoOs pesquisadores contam que por não haver escrita nas faixas que a envolviam e apenas sua cabeça ser conhecida, seria difícil descobrir o verdadeiro nome da egípcia.  

Células encontradas em Iret-Neferet/Foto: divulgação

Recentemente, em outubro de 2020, os pesquisadores divulgaram no Congresso da Associação Europeia de Osteointegração, em Berlim, na Alemanha, a descoberta de células intactas no corpo da múmia. O processo de mumificação – seja o natural ou o induzido – consiste na preservação dos tecidos, causada pela desidratação do corpo antes que as bactérias responsáveis pela decomposição possam atuar, no entanto, a precisão da preservação celular surpreendeu.  

Essa análise, realizada no Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital São Lucas da PUCRS, utilizou parte dos ossos cranianos conhecidos como mandíbula e masseter. Neles, foi possível identificar hemácias dentro dos vasos sanguíneosA existência de células preservadas possibilita que sejam realizadas novas análises, como as de DNA, as quais auxiliariam a identificar características físicas, possíveis doenças e o parentesco de Iret-Neferet. 

Sobre o prêmio 

Em comemoração aos 18 anos da primeira revista impressa da Aventuras da História, na época da Editora Abril, foi lançado, em julho de 2021, o prêmio Descobertas do Ano. O seu objetivo é dar visibilidade a historiadores, pesquisadores, jornalistas e jovens influenciadores que usam o seu espaço na internet para educar, informar e alertar as próximas gerações. Além disso, possibilita que esses profissionais, impactados pela pandemia, sejam valorizados.  

Os pesquisadores ganharam a categoria Descoberta do Ano, pela descoberta das células intactas de Iret-Neferet. 

Sobre o grupo de pesquisa  

Grupo de Identidades Afro-Egípcias, responsável pela pesquisa, realiza estudos interdisciplinares sobre essas sociedades. Composto por uma equipe renomada de pesquisa, de diferentes universidades, teve como últimas descobertas uma deusa Nimba da etnia Baga/Nalu feita por descendentes africanos, no município de Santo Ângelo (RS) e a cabeça da múmia Iret-Neferet.