Imagem de veículos em uma rodovia

Foto: Pexels

Que veículo é aquele que passou pela rodovia? Qual era o tipo de caminhão? Quantos eixos estavam levantados? Essas são algumas perguntas que uma solução desenvolvida e aprimorada pela PUCRS responde. A ferramenta já está em uso pela empresa de engenharia Gnoatto Botoni, que atua em todo o País efetuando pesquisas de contagem volumétrica classificatória e pesquisas rodoviárias. A empresa presta serviços para concessionárias de pedágios, para o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Encontrar uma solução que contribuísse na auditoria de veículos que trafegam em determinadas vias por meio da captura de imagens era o objetivo da empresa. A diretora executiva Sônia Botoni conta que houve uma grande evolução na apuração de dados nas estradas, passando de anotações em pranchetas para tablets e, posteriormente, à adição de filmagens de trechos das rodovias. “Nesse momento é que começamos a questionar: como vamos automatizar esses vídeos? Após várias pesquisas de como desenvolver essa tecnologia, tive contato com o professor da Escola de Negócios, Adroaldo Lazzaroto, que recomendou procurar o IDEIA”, lembra.

A partir da indicação, aconteceu um reencontro. Após ter se formado em Engenharia Civil pela PUCRS em 1980, Sônia se reuniu com o ex-professor e atual diretor do IDEIA, Eduardo Giugliani. “O nosso papel é criar uma sinergia entre demandas da sociedade e os recursos disponíveis na PUCRS. Esse projeto foi desenvolvido ao longo de oito meses, sendo que uma parte foi feita na Universidade, que construiu um sistema e artefato computacional, e outra parte na empresa, que implantou o sistema e capacitou os profissionais que irão efetivar o gerenciamento”, destaca Giugliani.

Pesquisadores do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (IDEIA), do Laboratório de Computação (LabCom) e do Tecnopuc Fablab integram o projeto. Também estão envolvidos o Laboratório de Inovação (iSeed) da Escola Politécnica, os professores Edson Moreno, Filipi Vianna, Isabel Manssur, Soraia Musse, além de estudantes graduação e mestrado do curso de Ciência da Computação.

O desenvolvimento da ferramenta

Edson Moreno, professor da Escola Politécnica da PUCRS, explica que para desenvolver a ferramenta foi utilizado um sistema de inteligência artificial e que foi preciso ensinar o sistema a reconhecer as gravações dos vídeos geradas pela empresa. “Foi o momento de realizar o levantamento de informações. Eram 26 de categorias de carros, motos e caminhões. Foi preciso informar para o sistema as características dos veículos e o tráfego em diferentes regiões do País”, comenta.

Na etapa seguinte, após essa aprendizagem da ferramenta, foi necessário fazer com que houvesse a detecção dos veículos de forma automática. “Havia imagens que não estavam adequadas, algumas com pouca iluminação, por exemplo. Era preciso que a solução fizesse essa captura de dados em diferentes condições”, frisa Moreno.

O trabalho desenvolvido, além de atender uma demanda da sociedade, trará benefícios para a comunidade acadêmica. “Com os recursos gerados, permitirá que possamos investir em novas estruturas e na formação de capital humano, além de fomentar novas pesquisas”, enfatiza.

Os ganhos com a tecnologia

Com a solução já implementada, a Gnoatto Botoni pode triplicar os pontos de contagem de tráfego e também pode gerar dados, durante todo o ano, com a classificação de todas as categorias exigidas pelos órgãos fiscalizadores de maneira automatizada. “Com as filmagens podemos analisar se os veículos – principalmente os caminhões – estão com eixos erguidos ou não. Isso influencia no dimensionamento do pavimento e, por consequência, na manutenção das rodovias”, sinaliza Sônia.

Doutor pela PUCRS vence Prêmio Tiradentes da Capes de melhor tese

Foto: Arquivo pessoal/Rodolfo Favaretto

E se fosse possível descrever diferentes grupos de pessoas a partir de modelos computacionais? Essa é a proposta da tese de Rodolfo Migon Favaretto, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC) da Escola Politécnica da PUCRS. A pesquisa Emotion, personality and cultural aspects in crowds: towards a geometrical mind, foi uma das vencedoras do Prêmio Tiradentes de Dissertações e Teses em Defesa Nacional, promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

A cerimônia de entrega dos prêmios aconteceu em Brasília, no dia 16 de dezembro, no Salão Nobre do Ministério da Defesa. Fiquei muito feliz e surpreso com a notícia. Foi um momento especial, principalmente porque a minha pesquisa foi a única desenvolvida por um civil entre as três teses premiadas, e não em uma universidade da esfera militar”, destaca Favaretto. 

Como analisar características pessoais e culturais das multidões 

O objetivo da tese foi discutir diferentes maneiras de caracterizar indivíduos e grupos em multidões, propondo um modelo computacional para interpretar vídeos de pedestres, com técnicas de visão computacional. A principal hipótese é de que pedestres se comportam de acordo com suas características intrínsecas internas, como personalidade, emoção e aspectos culturais, que podem ser observadas em termos de comportamentos físicos e geométricos. 

Doutor pela PUCRS vence Prêmio Tiradentes da Capes de melhor tese

Foto: Arquivo pessoal/Rodolfo Favaretto

O trabalho busca descrever o comportamento das pessoas com o modelo Big Four-GeometricalDimensions (Big4GD), que leva em consideração quatro grandes dimensões de características geométricas: física, pessoal e emocional, social e cultural. Para isso foi desenvolvido um software chamado GeoMind. 

Dessa forma é possível utilizar o software para extrair dados significativos sobre o que está acontecendo, em particular, dados geométricos, características, personalidades e emoções de cada pessoa. A análise dessas informações possibilita a detecção e, em alguns casos, a antecipação de eventos na multidão. 

Próximos passos da pesquisa 

Aproveitando a motivação proporcionada pelo recebimento do prêmio, o pesquisador conta que pretende dar continuidade à pesquisa, que foi orientada pela professora Soraia Raupp Musse, do PPGCC, e contou com a colaboração do professor Ângelo Brandelli, do PPG em Psicologia da Escola de Humanidades. Um caminho é trabalhar com as possíveis aplicações do modelo proposto na tese e também adicionar novas funcionalidades ao Software GeoMind”, explica. 

Esse não é o primeiro reconhecimento do pesquisador, que também venceu como melhor tese no Concurso de Teses e Dissertações do Brazilian Symposium on Games and Digital Entertainment da Sociedade Brasileira de Computação, também em 2020. Além disso, já publicou vários artigos e um livro internacional com a editora científica Springer-Verlag.

Capa do Boletim - Descigualdade nas metrópolesUma pesquisa desenvolvida pela PUCRS, pelo INCT – Observatório das Metrópoles e pelo Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL) mostra que a taxa de pobreza no conjunto das regiões metropolitanas caiu de 19% para 16% entre 2019 e agosto de 2020. Porém, sem os auxílios emergenciais, teria subido para 28%. Em 2019, havia 15.698.435 indivíduos em situação de pobreza no conjunto das regiões metropolitanas e, em agosto de 2020, eram 13.279.156. Na ausência dos auxílios emergenciais, entretanto, seriam 23.365.591 pessoas em situação de pobreza em agosto de 2020 nas metrópoles do país. As informações completas constam no segundo Boletim – Desigualdades nas Metrópoles, lançado trimestralmente. Clique aqui para baixar o documento na íntegra.

O estudo mostra que se não fossem esses auxílios, a taxa de pobreza teria aumentado significativamente em todas as regiões metropolitanas. Em agosto de 2020, por exemplo, seriam a valores como 51%, em Macapá; 50%, em Manaus e 46%, na Grande São Luís. A extrema pobreza, por sua vez, chegaria a 22,7% em Macapá, 21,3% em Manaus, 18% em Aracaju e 16,9% em Salvador. A partir desses números, é possível compreender que os auxílios emergenciais tiveram um importante papel em evitar uma situação crítica nas metrópoles brasileiras.

A pesquisa também mostra que a desigualdade de renda nas regiões metropolitanas do Brasil teve uma redução de 11% considerando todas as fontes de rendimento dos indivíduos que moram no País. Essa queda se deve à implementação de auxílios emergenciais durante a pandemia. Caso não houvesse esses auxílios, a desigualdades teria aumento 4%.

O método de medição de rendimentos  

A pesquisa utilizou o Coeficiente de Gini como método para medir o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população, variando de zero a um. O valor zero representa a situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda. Já o valor um representa uma situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa deteria toda a renda. Dessa forma, é possível comparar a desigualdade de renda entre dois momentos ou locais a partir desse coeficiente.

Reconhecimento é importante, mas há pouco a ser comemorado

Segundo o professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores do estudo André Salata, é importante reconhecer que os auxílios cumpriram com sua função de proteger os mais pobres nesse momento de crise, uma vez que a desigualdade e a pobreza diminuíram e sua renda chegou inclusive a aumentar.

Pela média do coeficiente de Gini das Regiões Metropolitanas no Brasil, a desigualdade de renda caiu de 0,538 para 0,477 entre o ano de 2019 e agosto de 2020. Considerando todas as fontes de rendimento, a redução foi de 11,3% devido aos auxílios emergenciais. Realizando um comparativo, se não tivesse acontecido esses implementos de renda, a desigualdade teria aumentado em 4%. A diferença entre o que de fato ocorreu (queda da desigualdade) e o que poderia ter acontecido (aumento da desigualdade) é de 17,3%.

Gráfico do Boletim - Descigualdade nas metrópoles, onde constam as informações completas da pesquisa sobre auxílios emergenciais, mostrando variações de rendimento

No conjunto das metrópoles, a variação de rendimentos dos 40% mais pobres foi de +4% entre o ano de 2019 e agosto de 2020. Sem os auxílios emergenciais, teriam sofrido uma perda de -32% em sua renda.

Gráfico do Boletim - Descigualdade nas metrópoles, onde constam as informações completas da pesquisa sobre auxílios emergenciais, mostrando variações de rendimento

Por outro lado, a maioria da população sofreu uma queda expressiva em seus rendimentos. “A redução que verificamos nas desigualdades não se traduz em maior bem-estar para a maioria da população, mas sim a um nivelamento por baixo. E, portanto, não há quase nada a comemorar, a não ser o sucesso em evitar que os estratos mais vulneráveis fossem brutalmente atingidos pela crise, o que só foi conseguido em função dos auxílios emergenciais”, destaca.

No Boletim – Desigualdades nas Metrópoles constam microdados extraídos de pesquisas domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Excepcionalmente, nesta edição, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) de 2019 e da PNAD-Covid-19 de agosto de 2020 da qual foi possível analisar de modo mais completo como andam as desigualdades das 20 regiões metropolitanas do Brasil em meio à crise provocada pela pandemia. Nos próximos boletins, o grupo voltará a utilizar os dados da PNADc de base trimestral.

A relevância dos auxílios emergenciais

Foto de uma metrópole

Para muitas pessoas nas metrópoles brasileiras os auxílios emergenciais têm sido de suma importância / Foto: Kaique Rocha/Pexels

A pesquisa também mostrou que no conjunto das regiões metropolitanas, em agosto de 2020 40,4% dos domicílios receberam auxílios emergenciais; nesses domicílios, os auxílios correspondiam, em média, à 43,2% dos rendimentos totais; e em 31,1% destes domicílios os auxílios representavam mais da metade dos rendimentos. Com efeito, nas metrópoles brasileiras há um enorme contingente de pessoas para as quais os auxílios emergenciais têm sido de suma importância para enfrentar a crise provocada pelo coronavírus.

Nesse sentido, Salata destaca que, diante da perspectiva de encerramento do auxílio emergencial do Governo Federal, é importante que a sociedade brasileira discuta medidas de proteção aos mais pobres. “A pandemia ganhou novo fôlego nas últimas semanas, e o cenário econômico que se anuncia não é muito positivo. Assim, a renda do trabalho ainda deve demorar para se recuperar, e será preciso continuar protegendo a população mais vulnerável para evitar uma situação ainda mais preocupante”, conclui o professor.

O contexto da adoção dos auxílios emergenciais

Até o dia 31 de agosto de 2020 (mês de referência deste estudo), havia, aproximadamente, 4 milhões de casos acumulados de Covid-19 no Brasil, resultando em mais de 121 mil óbitos. Com o intuito de atenuar as crises sanitária, econômica e social resultantes da pandemia do novo coronavírus, diferentes medidas foram adotadas pelo Governo Federal e, também, por cada uma das Unidades da Federação. Entre as iniciativas destaca-se a implementação de auxílios emergenciais.

Publicada em abril de 2020, a Lei de n. 13.982/2020 estabeleceu o pagamento de três parcelas de R$ 600, tendo sido posteriormente prorrogado por mais dois meses, totalizando cinco parcelas com o valor inicialmente estabelecido. Já em setembro, foi anunciado o pagamento de mais quatro parcelas adicionais, até o final de 2020, no entanto no valor de R$ 300.

Doutorando da Escola Politécnica ganha prêmio Google pela terceira vez

Foto: Arquivo pessoal/Henrique dos Santos

Pelo terceiro ano consecutivo Henrique Dias Pereira dos Santos, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Escola Politécnica da PUCRS, foi vencedor no Latin America Research Awards (Lara), premiação promovida pelo Google. Essa é a oitava edição do programa, criado com o propósito de impulsionar a inovação na região e premiar projetos acadêmicos que visam identificar e propor soluções tecnológicas para problemas reais do cotidiano das pessoas.

O projeto Validação da Identificação de Eventos Adversos por Aprendizado de Máquina em Situações Reais, orientado pela professora Renata Vieira, deu vida à startup NoHarm.ai, implantação comercial sem fins lucrativos da pesquisa. Desenvolvida em conjunto com a farmacêutica do Grupo Hospitalar Conceição, Ana Helena Ulbrich, a startup busca agilizar e dar segurança ao trabalho da Farmácia Clínica dentro de hospitais.

“Ela é uma ferramenta que traz diversas inteligências para a farmacêutica, desburocratizando o processo de revisão das prescrições medicamentosas”, afirma Ana. A NoHarm.ai já está atendendo oito hospitais distribuídos nas cidades de Porto Alegre, Passo Fundo, Belo Horizonte, Aracaju e Rio de Janeiro.

Sobre o a premiação

Doutorando da Escola Politécnica ganha prêmio Google pela terceira vez

Foto: Arquivo pessoal/Henrique dos Santos

Dentre os projetos selecionados pelo Lara em 2020, 13 são do Brasil, dois do Chile, quatro da Argentina, um do Peru, um da Colômbia e um do México. Desde seu lançamento, em 2013, o programa já destinou aproximadamente 3 milhões de dólares a mais de 146 projetos de universidades de toda a região.

“Os prêmios do Google foram fundamentais para validar a contribuição científica do projeto para a ciência da computação e viabilizar economicamente a transformação do projeto de pesquisa em um produto que entrega valor para a o sistema de saúde”, comemora Santos.

Confira edições anteriores do prêmio: Alunos da PUCRS vencem o Prêmio LARA 2019, promovido pelo Google e Doutorandos em Ciência da Computação vencem programa de pesquisa do Google

Reunião com equipe do projeto / Foto: Reprodução/TJRS

Um mecanismo de buscas inédito no judiciário brasileiro, que foi desenvolvido por pesquisadores da PUCRS, começou a ser testado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) em dezembro. Além de facilitar nas pesquisas sobre precedentes de casos, a ferramenta fornece parâmetros objetivos e maior previsibilidade no julgamento, com base em valores fixados a título de indenização por danos morais. 

A plataforma, que permitirá maior estabilidade e uniformidade na aplicação da lei, foi criada por Filipe Zabala, professor da Escola Politécnica, e Fabiano Silveira, formado pela Escola de Direito da PUCRS. Na elaboração do sistema “dos mais de 5 mil processos analisados, selecionamos 1.589 recursos julgados nos últimos três anos, que tiveram indenizações por danos morais fixados, variando os valores entre R$ 800 e R$ 5 milhões, explicam. 

Todos os dados analisados são de domínio público, obtidos no site do tribunal, com base na Lei de Acesso à Informação 12.527 de 18 de novembro de 2011 e no Decreto 7.724 de 16 maio de 2012, que permitem que qualquer pessoa tenha acesso às informações não confidenciais do poder público. 

Como funcionará o sistema 

Tribunal de Justiça do RS vai usar ferramenta de busca criada por pesquisadores da PUCRS

Exibição da tela da ferramenta / Foto: Reprodução/TJRS

O objetivo do sistema é auxiliar magistrados e magistradas na tomada de decisões. A procura pode ser feita por matéria, assunto ou palavra-chave, com um menu intuitivo. Em lista, são apresentadas as pessoas julgadas, com número do processo, a ementa, as peculiaridades do caso e os valores aplicados.  

“O esperado é que o uso da ferramenta reduza a variabilidade e padronize a atribuição de valores por dano moral para processos similares. Por ter sido desenvolvida em software livre, o TJRS tem pleno acesso ao código-fonte para futuras atualizações sem custo financeiro envolvido na manutenção do sistema”, destaca Zabala. 

O lançamento aconteceu no dia 17 de novembro, em uma reunião virtual com o desembargador Alberto Delgado Neto, presidente do Conselho de Informática do TJRS, que elogiou a iniciativa. Também estiveram presentes integrantes da Comissão de Inovação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (InovaJus) e da Escola Superior da Magistratura (Ajuris). 

Leia também: Professores da Escola de Direito integrarão comissão de juristas na Câmara dos Deputados 

Como a parceria começou 

Em 2019 o Núcleo de Inovação da Ajuris participou de um workshop no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). Esse foi o primeiro momento para troca de informações e expectativas, o que resultou na atual parceria. 

Exposição sobre o ostensório jesuíta de 300 anos

Foto: Divulgação

Após seis meses de pesquisa, foi confirmado que o ostensório/esplendor do Divino Espírito Santo, que está na Catedral Diocesana de Cruz Alta, trata-se de uma obra missioneira, arte jesuíta com cerca de 300 anos. A autenticação foi concluída no início de dezembro, pelo professor e pesquisador Edison Hüttner, da Escola de Humanidades da PUCRS, e seu orientando de doutorado, professor Cláudio Lopes. 

A peça, já de volta à Catedral, fará parte de uma exposição neste domingo, 13 de dezembro. “Vi as fotos enviadas e percebi que poderia ser do período e da arte sacra Jesuítico-Guarani. Mas, para comprovar sua identidade, era necessário levar a obra para iniciar um longo estudo em Porto Alegre”, conta Hüttner sobre o item, que é uma raridade. 

Segundo a pesquisa, a idade estimada do ostensório é de 280 a 300 anos. Trata-se de uma peça da arte sacra barroca jesuítica dos séculos 17 e 18.Temos alguns elementos importantes desta escultura, como os detalhes em policromia, que era uma técnica muito utilizada pelos jesuítas, em gesso, com cores amarela, azul e vermelha, que são aspectos dessa tradição. Além dos cravos missioneiros, que são característicos do período”, destaca Hüttner. 

Tecnologia a favor da pesquisa 

Pesquisador da PUCRS confirma que ostensório jesuíta tem quase 300 anos

Ostensório no aparelho de Luz Ultravioleta C / Foto: Divullgação

Para preservar a obra e a saúde dos pesquisadores, a descontaminação da obra foi feita em um aparelho de Luz Ultravioleta C (UV-C) Huttech Tower II, com duas lâmpadas UV-C. O dispositivo foi desenvolvido pelo dentista Eder Abreu Hüttner, coordenador da Startup Huttech, sediada no Parque Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), e irmão do pesquisador. 

A importância da relíquia para o turismo religioso 

O item, que foi encontrado durante a reforma da catedral, deve impactar na procura de turistas que se interessam por temas religiosos. Segundo o padre Márcio Laufer, pároco da catedral, “além de um espaço litúrgico, a catedral está se tornando um local atrativo pela arte sacra, alicerçando o turismo religioso na cidade.

Participe da pesquisa que compara hábitos de japoneses e brasileiros na pandemia

Foto: Zydeaosika/Unsplash

Após meses lidando com uma inimiga silenciosa e invisível, as populações de diferentes partes do mundo aprenderam, mesmo que com adaptações, a conviver com a pandemia da Covid-19 no dia a dia. Para entender e comparar os hábitos entre pessoas japonesas, descendentes e não descendentes de japoneses neste período, a PUCRS está realizando uma pesquisa. Se você tem idade superior a 21 anos e reside no Brasil ou no Japão, pode participar da pesquisa em português ou japonês. 

O projeto realizado pelo Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Neurologia e Imunologia (Genim), é coordenado por Douglas Kazutoshi Sato, diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS (IGG), e tem como instituições parceiras: 

A pesquisa será útil não apenas neste momento, mas também para futuras emergências de saúde pública que possam acontecer. “Acreditamos que os resultados serão informativos e contribuirão para a revisão de medidas preventivas diante da pandemia, bem como para a saúde da população e hábitos comportamentais preventivos”, destaca o grupo que elaborou o estudo. 

Um Japão no Brasil 

A história da imigração japonesa no Brasil começou há 112 anos, em 18 de junho de 1908. Estima-se que pelo menos 1,5 milhão de nikkeis – como são conhecidas as pessoas com origem japonesa vivam no País, de acordo com o Consulado Geral do Japão em São Paulo. 

Dessas pessoas, 400 mil vivem em São Paulo. Já no Rio Grande do Sul, a cidade de Ivoti é marcada pelas tradições nipônicas, onde fica o Memorial da Colônia Japonesa. 

Pandemia em números 

Até 7 de outubro deste ano o Japão registrou cerca de 1.500 mortes e pouco mais de 82 mil casos, segundo dados oficiais. A taxa de mortalidade foi de um a cada 100 mil habitantes, enquanto nos EUA chegou a 64 e, no Brasil, passou de 70. 

Participe da pesquisa

Criado em 1999, o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) é um programa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que objetiva estabelecer uma rede de sítios de referência para a pesquisa científica de longo prazo em Ecologia de Ecossistemas. Atualmente são 34 sítios PELD em operação, sendo dois no Rio Grande do Sul: o sítio PELD Campos Sulinos e o sítio PELD Estuário da Lagoa dos Patos e Costa Adjacente. Em edital recente, com resultado divulgado nesta semana, o CNPq ampliou a lista para 41 sítios financiados, incluindo a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Pró-Mata como novo sítio PELD no Rio Grande do Sul.

A RPPN Pró-Mata abriga, em seus 3100 hectares, ecossistemas remanescentes primários e em regeneração da Mata Atlântica, localizados na borda do planalto da Serra Geral, no município de São Francisco de Paula. A RPPN inclui áreas de Campos de Altitude, Mata de Araucária e Mata Atlântica stricto sensu e abriga uma notável riqueza de elementos tropicais da flora e fauna. Representando uma fração relevante da Mata Atlântica do Rio Grande do Sul, tombada pela UNESCO e que compõe a Reserva de Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida internacionalmente como um dos 25 hotspots de biodiversidade mundial.

Novos projetos

O projeto aprovado, que receberá recursos de R$ 336.728,00, encontra-se dividido em oito subprojetos, cada qual coordenada por um pesquisador experiente e de reconhecimento na área de atuação, com colaboração de pesquisadores da UFRGS e UNISINOS. O conjunto de subprojetos atende aos seguintes objetivos gerais:

1. Descrever e quantificar os processos de sucessão em fragmentos de floresta primária e secundária; a alteração na composição de espécies, na densidade, estrutura etária e biomassa; e como se dá a dinâmica de fixação de carbono.

2. Descrever e quantificar como se dá a sucessão nos fragmentos de campo e na interface dos mesmos com a floresta. Avaliar a influência de distúrbios na diversidade biológica de campos, assim como qual a frequência de eventos de queimada que redunda em maior diversidade vegetal e animal em áreas campestres.

3. Identificar as respostas da biota em processos de longo prazo em contexto de alteração climática global, do aumento do impacto antrópico na alteração e fragmentação de habitats, assim como na aplicação ambiental em larga escala de agroquímicos.

4. Descrever e quantificar, em longa série temporal, as alterações de diversidade a abundância de abelhas nativas como grupo funcional polinizador, de aranhas como invertebrados de topo de cadeia, de anfíbios como grupo mundialmente ameaçado, assim como aves e mamíferos como grupos emblemáticos e altamente significativos.

5. Descrever como se dá a evolução da biota no tempo, tanto em termos de diversidade como em abundância relativa, medidos através da amplificação de fragmentos de DNA ambiental (e-DNA) coletado em amostras de água e de solo, identificados em nível específico através da construção de uma biblioteca de DNA barcoding para a fauna e flora regional.

Josi é servidora estadual há 20 anos / Foto: Ivan Pereira

Pesquisa realizada pela PUCRS com associados do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Rio Grande do Sul (Sintergs) mostra que apenas 3% dos funcionários públicos com graduação são pretos. Entre os 366 participantes, 5,7% são pardos e 0,3%, indígenas. Brancos chegam a 91%. Os dados fazem parte de estudo realizado em 2020 e serviram de base para cartilha lançada pelo Sintergs em outubro.

A baixa representatividade de negros no serviço público, especialmente em cargos de nível superior, demonstra a dificuldade de acesso à educação de qualidade. E deve servir de reflexão neste dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Por isso a importância de questionar a desigualdade e assumir que há privilégios em ser branco. “Esse é o primeiro passo para a mudança”, pontua a diretora do Sintergs, Angela Antunes.

“Entender a necessidade das cotas, da dívida histórica do Brasil com os afrodescendentes e indígenas e desmitificar a meritocracia, como se todos tivessem acesso às mesmas condições, é fundamental”, avalia Angela. Conforme a dirigente, o Dia Nacional da Consciência Negra tem sua raiz em solo gaúcho, no Grupo Palmares, em Oliveira Silveira, Antonio Carlos Côrtes e outros militantes negros e negras. A diretora do sindicato faz um apelo: que o 20 de novembro conscientize também a branquitude.

Para Angelo Brandelli Costa, coordenador da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS, o racismo estrutural segue grande no país e as discrepâncias raciais saltam os olhos quando deparados aos dados dessa amostra de acesso a cargos públicos. “Existe uma limitação de políticas de inclusão e a necessidade de adotar outras medidas”, analisa.

Educação abre caminho contra racismo

Josi Beatriz Viegas Cunha abriu caminhos para si pela educação, mas revela que não cresceu sozinha – teve a força de sua ancestralidade e o apoio de pai, mãe e irmãs. As guias no pescoço e o dread nos cabelos há 21 anos são marcas de Josi. Mais do que mudar paradigmas, ela diz que carrega suas referências como forma de assumir seu estilo e sua crença na religião afro-brasileira.

Formada em Engenharia Civil pela PUCRS como aluna destaque da turma de 1993, é servidora estadual há 20 anos. Começou sua trajetória na Secretaria de Educação e hoje atua na Secretaria de Obras. Desde que ingressou no serviço público, a profissional tem consciência de seu papel para ajudar a melhorar a vida das pessoas. “O posto de saúde vai para a comunidade preta, a escola estadual vai para a comunidade preta”, conta, motivada pelo trabalho que realiza.

Na carreira, os desafios são grandes. “Minha posição não é de inferioridade, mas estou atrás até de quem entrou agora. Vejo que colegas brancas que fizeram faculdade já chegam em patamar superior, mesmo eu ganhando financeiramente mais, elas têm mais acesso. Tive de ser melhor do que homem branco e que mulher branca, ser a melhor das melhores, pois, além de ser mulher, sou preta”, explica.

“Às vezes, olham pra mim e dizem que as cotas não são necessárias: se tu conseguiste, outros também conseguem. Mas um dos meus anjos, homem preto que conseguiu meu primeiro estágio, não se formou. Faltou suporte familiar e econômico. Meus pais abriram mão de conquistas para eu me formar, eu abri mão. Meu pilar era de madeira, não era de concreto. Não havia estrutura, por isso a necessidade de reparação.”

Leia também: 52% dos servidores de nível superior do RS já sofreram tentativa de corrupção

 

Objetivo do estudo foi de identificar, com maior precisão, os fatores responsáveis pela desigualdade de renda entre brancos e negros / Foto: Nappy

No Brasil, as pessoas negras tendem a ter os seus rendimentos do trabalho 17% menores do que em comparação aos brancos devido aos efeitos da própria classificação racial, que se fazem sentir de modo direto (na definição salarial) e indireto (via escolaridade e alocação ocupacional). Estas são algumas das conclusões apontadas pelo estudo que objetiva identificar, com maior precisão, os fatores responsáveis pela desigualdade de renda entre brancos e negros no mercado de trabalho brasileiro. A pesquisa foi desenvolvida pela PUCRS, em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). As informações completas podem ser encontradas neste link. O levantamento é alusivo ao Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro.

Para realizar as análises, os dados foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE), com foco nas informações do bloco de mobilidade social coletadas em 2014. Foram relacionadas pessoas com idades entre 20 a 64 anos e que estavam inseridas no mercado de trabalho

Em estudo divulgado recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatava que, ainda em 2018, o rendimento do trabalho de brancos era 73,9% superior ao de negros (pretos e pardos). Ainda existe uma grande desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro, mas há um longo debate acerca dos fatores explicativos da distância salarial entre brancos e negros no país. Por esta razão, o estudo buscou separar, de modo mais detalhado, os fatores que explicam as desigualdades entre brancos e negros, incluindo os diferenciais de origem social e, também, a própria classificação racial, entre outros fatoresPara isso, foram selecionadas informações a respeito de diferentes etapas da vida dos indivíduos. Os resultados indicam que os efeitos da classificação racial são fortes e que se fazem sentir ao longo de toda a trajetória dos indivíduos, resultando em rendimentos 17% menores no mercado de trabalho 

Para o coordenador da pesquisa e professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, André Salata, o enfrentamento das desigualdades raciais deve ser pensado de modo mais abrangente no Brasil. “É preciso combater os efeitos da classificação racial sobre os diferenciais de escolaridade alcançada, pois esse é um dos principais caminhos a partir do qual os efeitos da cor se fazem sentir nos rendimentos, correspondendo a mais de 40% dos efeitos totais de raça”, aponta.

Ainda, segundo Salata, ao mesmo tempo, as diferenças de origem social ainda respondem por aproximadamente 30% da desigualdade racial total, portanto enfrentar as disparidades de origem social entre brancos e negros é também essencial. “Não devemos esquecer das desigualdades que aparecem no momento da definição salarial. O nosso mercado de trabalho pune os indivíduos negros com uma redução de mais de 7% de seus salários, mesmo quando comparados com indivíduos brancos com a mesma escolaridade, experiência, ocupação e origem social”, complementa

Origem social e classificação racial

Um dos primeiros objetivos do estudo foi comparar os efeitos da origem social – recursos econômicos e culturais da família da origem – com os efeitos da própria classificação racial sobre os rendimentos do trabalhoA fim de tornar alguns dos resultados mais inteligíveis, foram exemplificados quatro casos fictícios de indivíduos: um branco com origem social típica dos brancos; um negro com origem social típica dos negros; um branco com origem social típica dos negros; e, finalmente, um negro com origem social típica dos brancos. 

A partir de simulações estatísticas, chegou-se aos rendimentos esperados para cada um daqueles quatro indivíduos fictícios. Conforme destaca a tabela:

Valores preditos de rendimentos, por perfil de origem social e raça (Brasil, 2014)

No caso do indivíduo branco com origem social típica dos brancos, o modelo estatístico utilizado prevê uma renda esperada de R$ 1.711,16, muito superior a de indivíduo negro com origem social característica dos negros, cujos rendimentos esperados seriam de R$ 1.282,95Esta desvantagem de 25% se deveria tanto à família de origem quanto à classificação racial dos indivíduos.  

Em um caso no qual um indivíduo negro fosse proveniente de uma família com perfil socioeconômico como a média dos brancos, sua renda esperada subiria para R$ 1.421,18, reduzindo sua desvantagem para 17% em relação ao indivíduo branco. Portanto, a sua categoria racial é responsável por uma ampla desvantagem mesmo quando se trata de indivíduos com origens sociais semelhantes

Ao mesmo tempo, é importante perceber que entre os dois indivíduos negros, com origens sociais distintas, há uma diferença relevante de rendimentos. A desvantagem do indivíduo negro com origem social típica dos brancos é aproximadamente 30% menor do que a de um indivíduo também negro com origem social típica dos negros. Isso, segundo os pesquisadores deste levantamento, demonstra o importante efeito dos diferenciais de origem que vêm se reproduzindo ao longo de nossa história sobre as desigualdades raciais. 

Os caminhos do efeito de raça

Uma vez demonstrado que a própria classificação racial possui efeitos significativos sobre os rendimentos dos indivíduos, os pesquisadores quiseram entender em quais momentos da trajetória dos indivíduos estes efeitos estariam mais presentes. No estudo, procuraram considerar os efeitos de raça em três momentos-chave da trajetória dos indivíduos: na escolaridade alcançada, na alocação dentro da hierarquia ocupacional entre indivíduos com a mesma escolaridade e na definição salarial entre indivíduos com a mesma escolaridade e em ocupações similares. 

Decomposição do efeito de raça sobre os rendimentos do trabalho (Brasil, 2014)

Segundo Salata, os resultados indicam que 41,3% dos efeitos de raça sobre os rendimentos passam pela escolaridade. Mesmo quando comparamos indivíduos com características semelhantes, os negros tendem a alcançar menor escolaridade, o que acarreta em rendimentos menores no mercado de trabalho. É preciso entender melhor os mecanismos intraescolares, que levam negros a apresentarem pior desempenho do que brancos. O combate às desigualdades raciais não pode se dar apenas no mercado de trabalho”, comenta

Ao mesmo tempo, 41,6% dos efeitos da classificação racial ocorrem no momento da definição salarial, ou seja, a discriminação no próprio mercado de trabalho é também um importante fator na reprodução das desigualdades raciais. É necessário ter uma visão mais abrangente no combate às desigualdades raciais. Elas começam na própria origem social, passam pela escola e se reforçam no mercado de trabalho. Como resultado, mais de 130 anos após a abolição da escravidão, ainda convivemos com uma sociedade onde a desigualdade racial é gigantesca”ressalva o professor da PUCRS.