Cerca de 1% da população acima de 65 anos possui Doença de Parkinson, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Essa condição é ocasionada por uma degeneração de células responsáveis por produzir uma substância chamada dopamina, que realiza a comunicação entre neurônios. Sua falta ocasiona os principais sintomas do Parkinson: tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio e alterações tanto na fala quanto na escrita.
Pensando em melhorar a vida desses pacientes, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) agora oferece a Deep Brain Stimulation, uma cirurgia para os portadores da doença. Nela, são implantados eletrodos para modular os estímulos elétricos nas regiões afetadas pelo Parkinson. Com isso, o paciente pode manter seu desempenho motor por mais tempo.
A Doença de Parkinson não possui cura, entretanto, o uso de medicamentos é capaz de manter a vida do paciente mais estável. “A maioria das pessoas responde bem aos medicamentos nos primeiros anos e depois o remédio começa a causar complicações, provocando distúrbios de movimentos em decorrência da medicação”, explica o neurocirurgião do HSL Paulo Petry Oppitz. Nesses momentos, os médicos podem precisar aumentar a dose dos medicamentos e, em alguns casos, isso já não é suficiente para controlar os sintomas de forma satisfatória: é aí que entra a cirurgia.
De acordo com a neurologista Sheila Trentin, existem alguns critérios aos quais o paciente deve atender para estar apto a realizar o procedimento cirúrgico:
Em relação a esse último critério, ela ainda explica que, mesmo nos casos mais graves de Parkinson, a medicação faz efeito. No entanto, o tempo de efeito do remédio diminui. “Existe, ainda, uma exceção que é o caso do tremor: esse sintoma pode não responder bem aos remédios e costuma ter excelente resposta à cirurgia. Inclusive, além dos pacientes com Parkinson, aqueles que possuem Tremor Essencial também podem ser beneficiados por esse procedimento”, complementa.
Para ter certeza de que o paciente está apto a realizar a cirurgia, é importante realizar uma avaliação médica com um neurologista, que o encaminhará para um neurocirurgião. Esses atendimentos são realizados pelo Ambulatório de Distúrbios do Movimento do Hospital São Lucas. O agendamento de consultas particulares ou por convênio podem ser realizadas através do telefone (51) 3320-3200, do WhatsApp (51) 98502-1128 ou do site do Hospital.
Um projeto de pesquisa realizado pelo Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Atividade Física (Lapafi) da Universidade, em parceria com a UFRGS, visa investigar os efeitos do exercício chamado caminhada nórdica em pacientes que possuem Parkinson. Coordenado pelo professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS Rafael Baptista, o grupo utiliza os resultados obtidos em discussões acerca da reabilitação desse público, utilizando como base os parâmetros de marcha e energia mecânica na execução do exercício físico.
Publicado no Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports, uma das mais importantes revistas científicas da área, o projeto consagrou a parceria entre os dois grupos de pesquisa envolvidos. Apesar de já terem sido encontrados alguns resultados, Baptista conta que ainda serão feitas pesquisas futuras para avaliar as respostas antes e depois das intervenções de exercícios, em especial no público idoso. Além disso, deve ser realizada uma análise para compreender os pontos fortes e fracos da corrida nórdica para pessoas com doença de Parkinson.
A caminhada nórdica é um tipo de intervenção de exercício que usa um modelo de bastões especificamente projetado e conta com a contribuição dos membros superiores do corpo. Com isso, a técnica auxilia o deslocamento do corpo ao se movimentar para a frente, gerando duas ações de propulsão adicionais ao ciclo da marcha.
Os efeitos da caminhada nórdica na doença de Parkinson já foram objeto de estudo de outros grupos de pesquisa, os quais sugerem que ela pode ser benéfica em vários aspectos. Uma vez que eleva a velocidade máxima da caminhada, proporciona uma simetria entre os lados afetados e não afetados pela doença e induz o paciente a ter menos variação no comprimento da passada ao realizar o exercício de caminhada, aumentando a amplitude de movimento do joelho e do quadril. Segundo Baptista, essas mudanças possuem um impacto coletivo na melhoria da capacidade funcional dos pacientes e na redução dos sintomas motores da doença.
Os testes de caminhada conduzidos pelo professor Baptista foram realizados com 11 pessoas que possuíam, em média, 65 anos, e eram portadoras de doença de Parkinson idiopática, medidas na escala Hoehn e Yahr com pontuação entre 1 e 1,5. Além disso, fizeram parte do estudo outros nove participantes saudáveis com 70 anos em média. Todos os participantes eram experientes em caminhada nórdica e os exercícios foram realizados com velocidade de 1,8Km/h e 4,7Km/h, utilizando oito plataformas de força 3D em uma passarela no Lapafi.
Com os resultados foi possível notar que pessoas com doença de Parkinson demonstram alguns ajustes específicos de marcha que são diferentes daqueles observados no público saudável, devido às restrições causadas pelos sintomas da doença. Baptista ressalta que o estudo contribui para o corpo de evidências que sugerem que ajustes mecânicos específicos ocorrem em indivíduos com doença de Parkinson:
“Pudemos apresentar mais evidências sobre o assunto, além de proporcionar evidências científicas para médicos, fisioterapeutas e profissionais de Educação Física no que tange à prescrição de exercícios físicos e reabilitação para os pacientes com esta doença. Por fim, tudo isso auxilia a abrir perspectivas para novos estudos que possam trazer mais avanços no conhecimento e gerar novas formas de intervenção e tratamento”, avalia o professor.