Gratidão, paixão, felicidade, motivação, alegria, honra. Essas foram as expressões das cinco mulheres, pesquisadoras da PUCRS, ao saberem que foram reconhecidas pelo projeto Open Box da Ciência, uma iniciativa da organização Gênero e Número, que tem como objetivo dar visibilidade à atuação das mulheres no meio científico nacional.  

Conversamos com elas para saber como avaliam a participação feminina na produção científica no Brasil, quais as mudanças mais marcantes dos últimos anos, o que ainda precisa ser melhorado, e quais são as perspectivas para os próximos anos quanto à ocupação em cargos de liderança.  Confira a entrevista completa com cada uma delas. 

Carla Bonan, pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida 

Patrícia Krieger Grossi, professora da Escola de Humanidades 

Uma das mudanças positivas observadas foi a possibilidade de inclusão do período de licença maternidade no currículo lattes da pesquisadora para que não seja avaliado de forma negativa a diminuição da produção acadêmica naquele período. 

Através de uma pesquisa realizada por Barros e Mourão (2020), no qual analisaram a produção de pesquisadores do CNPq de 2013 a 2016, verificaram que apesar de não haver diferenças significativas em relação à produção científica de homens e mulheres, os homens representam 63% dos bolsistas produtividade em pesquisa do CNPq e se considerar o nível mais elevado da carreira, que é PQ1A, somente 23% das mulheres atingiram esse nível.   

Não vejo grandes expectativas de mudanças em relação a esse cenário nos próximos anos, considerando que o ranking do Brasil no índice de desenvolvimento de gênero despencou para o 79 lugar entre 166 países segundo a ONU. Esse índice reflete os mesmos indicadores do IDH que avaliam saúde, renda e educação de homens e mulheres. Apesar das mulheres terem nível de escolaridade maior do que os homens, possuem rendimentos 41.5% menores. Essas desigualdades de gênero continuam se refletindo na menor participação das mulheres em cargos de liderança na pesquisa, na política e em outras esferas.  

BARROS, S. C. da V. and MOURÃO, L. Existem diferenças de gênero entre os bolsistas produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)?
[online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2020 [viewed 01 August 2020]. Available from:
https://humanas.blog.scielo.org/blog/2020/05/08/existem-diferencas-de-genero-entre-os-bolsistas-produtividade-do-conselho-nacional-de-desenvolvimento-cientifico-e-tecnologico-cnpq/ 

Maria Martha Campos, professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida 

Iná da Silva dos Santos, professora da Escola de Medicina 

Quanto às perspectivas para os próximos anos, acho que há novidades no ar, que com o tempo poderão conduzir a correção de alguns vieses.  Em Epidemiologia, por exemplo, há uma proporção maior de mulheres em posições de início de carreira. É possível que essa maior representatividade resulte em um aumento futuro no número de mulheres em posições de liderança na área. Mas isso, só o tempo nos dirá. Por ora, iniciativas como a plataforma Open Box da Ciência têm o grande valor de trazer visibilidade e provocar a reflexão sobre esta importante questão das disparidades entre os gêneros na ciência. 

  1. Elsevier. Gender in the Global Research Landscape, 2017. Available at: elsevier.com/research-intelligence/resource-library/gender-report
  2. De Negri F. Women in Science in Brazil: still invisible? IPEA:  Center for Research on Science, Technology and SocietyLast updated in 06/04/2020 às 9:24 pm 

Gabrielle Bezerra Sales Sarlet, professora da Escola de Direito 

Creio que a despeito de alguma evidente alteração numérica na composição dos quadros na área da academia e da ciência, há muitas dificuldades em se aceitar a mulher como um sujeito de direito no Brasil e, destarte, algumas condições mínimas para a participação da mulher ainda são muito precárias, sobretudo no que toca à mulher que carece de bolsas e de incentivos para prosseguir na formação educacional. 

Não se pode olvidar que há ainda uma enorme dificuldade para aquelas estudantes negras que acabam sofrendo um estigma adicional em função da raça. Pode-se ainda apontar igualmente uma precarização da educação brasileira nesse momento, de modo geral, mais especificamente no que afeta à educação sexual e às noções de auto cuidado nas escolas e nas famílias, comprometendo a saúde de mulheres e de meninas e, desse modo, retardando ou impedindo a sua entrada no mercado de trabalho, na área acadêmica e científica.  

Nesse sentido, deve-se destacar as mulheres e as meninas que em razão do PROUNI foram introduzidas em um universo de novas portas de conhecimento e que, desta forma, influenciaram as suas famílias e que geraram muitas riquezas para o Brasil. 

Open Box da CiênciaO projeto Open Box da Ciência, lançado em fevereiro, trouxe um levantamento inédito sobre mulheres na ciência, mapeando as 250 pesquisadoras mais influentes das áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas e da Terra, Engenharias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde. Cinco pesquisadoras da PUCRS integram a lista: a pró-reitora de pesquisa e pós-graduação Carla Bonan  (Escola de Ciências da Saúde e da Vida) e as professoras Iná da Silva dos Santos (Escola de Medicina), Maria Martha Campos (Escola de Ciências da Saúde e da Vida) e Patrícia Krieger Grossi (Escola de Humanidades). Também figura na lista a professora Gabrielle Bezerra Sales Sarlet, que realizou pós-doutorado na PUCRS entre 2016 e 2018 e neste semestre passa a integrar o quadro de professores da Instituição.

O Open Box da Ciência foi uma iniciativa da Gênero e Número (organização de mídia no Brasil orientada por dados para qualificar o debate sobre equidade de gênero) e tem como objetivo dar visibilidade à atuação de mulheres no meio científico nacional. As pesquisas e os perfis das pesquisadoras estão reunidos em uma plataforma digital, de conteúdo aberto e interativo, com visualizações de dados e reportagens que narram suas trajetórias a partir de um recorte de gênero, indicando referências femininas para chegar a esse lugar de destaque e revelando desafios vencidos.

Elas estão alcançando cada vez mais espaços na área de Ciência e Tecnologia

Para chegar ao grupo, foi aplicada uma metodologia de extração e análise de dados da plataforma Lattes. Usando critérios da Capes para conceder bolsas de apoio à pesquisa, um algoritmo foi desenvolvido para listar todas as pesquisadoras com doutorado.

Para a Diretora de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq) Fernanda Morrone, o levantamento é muito importante, pois dá visibilidade a pesquisa de excelência desenvolvida por cientistas brasileiras, trazendo novos dados sobre a presença feminina e a importância do desenvolvimento de estratégias que aumentem representatividade da mulher no ambiente acadêmico.