Professor Nelson Todt representou a PUCRS em mestrado internacional na Alemanha/ Foto: Arquivo pessoal

No início deste mês, a PUCRS esteve presente no primeiro módulo do Mestrado Internacional em Estudos Olímpicos da German Sport University, na cidade de Colônia, na Alemanha. A Universidade foi representada pelo professor Nelson Todt, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. 

O Mestrado Internacional em Estudos Olímpicos tem o suporte do Comitê Olímpico Internacional e é desenvolvido em parceria com outras universidades internacionais, como Universitat Autònoma, de Barcelona, na Espanha; University of Canterbury, da Nova Zelândia; Kiel University, da Alemanha; e Aarhus University, da Dinamarca. Agora, também conta também com a participação da PUCRS. 

“Esta nova turma tem uma importante representatividade internacional, com estudantes de 26 diferentes países, e estabelece um importante passo em um processo de deseurocentralização dos Estudos Olímpicos no mundo e a valorização do trabalho realizado no Brasil neste âmbito de estudos e pesquisas”, destaca o docente. 

Além de professor, Nelson Todt também é coordenador do módulo em “Ética, Valores e Educação Olímpica” do programa internacional. Na PUCRS, coordena o Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos (GPEO), que desenvolve pesquisas interdisciplinares há mais de 20 anos na área e alinha seu trabalho no âmbito Olímpico com o Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, que desde 2008 tem sua sede na PUCRS. Esta linha de pesquisa e trabalho permite estabelecer relações e o reconhecimento de instituições como a ONU, o Vaticano e o Comitê Olímpico Internacional. 

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Nelson Todt, professor da Escola de ciências da Saúde e da Vida, é um dos coordenadores do curso/ Foto: Camila Cunha

A PUCRS está lançando uma nova pós-graduação lato sensu criada especialmente para quem quer se aprofundar na temática esportiva e no universo Olímpico: a especialização Esporte, Educação e Olimpismo, promovida pela Escola de Ciências da Saúde e da Vida. O curso é indicado principalmente para profissionais das áreas de Educação Física, Esporte, Ciências da Educação, Ciências Humanas e Ciências Sociais.  

A proposta abrange aspectos educacionais, formativos, sociais, ecológicos e operacionais do esporte, e visa conhecer, refletir e agir sobre essa realidade, promovendo também reflexões e ações acerca do movimento Olímpico atual. 

Outro diferencial da especialização é o seu caráter internacional. Com um corpo docente composto por professores de várias partes da América Latina e também da Europa, o curso conta com dupla coordenação: o professor Nelson Todt, do Brasil, e Daniel Gustavo de la Cueva, da Argentina. Conversamos com os coordenadores para entender tudo sobre a proposta. Confira: 

Interdisciplinaridade e relevância social 

O Olimpismo se trata de uma filosofia olímpica de vida, que se utiliza do esporte como base para promover valores como a paz, a união, o respeito às regras e a adversários e o respeito às diferenças étnicas, culturais e religiosas. Para Nelson, a filosofia do Olimpismo vem a calhar em um contexto de crise de valores globais: 

“O Olimpismo tem se mostrado uma importante ferramenta para oferecer contrapontos a este contexto, utilizando-se do Esporte e da Educação como principais elementos. O curso caminha na direção de oferecer uma formação para profissionais destas áreas (e outras afins) a partir de temas atuais e que, de alguma forma, se apresentam em escala global”, pontua. 

O curso é dividido em três eixos temáticos de aprendizagem: História Olímpica, Pedagogia Olímpica e Filosofia Olímpica. Esses eixos, segundo Todt, se intercalam criando uma base sólida para discussões de grande relevância para a sociedade moderna, oferecendo elementos para o desenvolvimento de propostas voltadas para um desenvolvimento humano harmonioso e uma sociedade mais justa e fraterna. 

Já na visão de Daniel, os três eixos são pontos de vista diferentes sobre uma força sociológica que pode ser a mais notável dos últimos dois séculos. Ele explica que o conceito que une o conhecimento da história e da filosofia olímpica está em desenvolvimento desde a Grécia clássica. 

Um instrumento de transformação global 

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Foto: Pexels

Nelson, que coordena o Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, explica que o Olimpismo é não apenas uma filosofia esportiva, mas uma filosofia de vida. “A ideia é que a prática destes valores ultrapasse as fronteiras das arenas esportivas e influencie a vida de todos em ambientes educacionais, coorporativos e esportivos.” 

Conectados aos desafios globais, os ensinamentos do curso têm um alto grau de importância na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e princípios ESG (Environmental, Social and Governance) da Organização das Nações Unidas (ONU), que há muito tempo reconhece a importância do esporte para o desenvolvimento da paz. A colaboração entre a ONU e o Comitê Olímpico Internacional (COI) vem promovendo a difusão da aceitação do esporte como meio de promover objetivos de desenvolvimento acordados internacionalmente. 

Em 2015, em um momento histórico para o esporte e para o Movimento Olímpico, o esporte foi oficialmente reconhecido como um “importante facilitador” do desenvolvimento sustentável e incluído na Agenda 2030 da ONU. A Agenda estabeleceu onze princípios de desenvolvimento sustentável, entre eles estão: garantir educação inclusiva e de qualidade para todos; tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; e promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável. “Boa parte dos temas nortearão as discussões propostas neste curso”, destaca o professor Todt. 

Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de Paris, que ocorrem em 2024, é de se esperar que surjam novos temas para o debate sobre o Olimpismo. Entre eles, Daniel de la Cueva destaca alguns assuntos, como a perspectiva de gênero: 

“Isso deve fazer parte de uma perspectiva integral de alto desempenho, gerando um tratamento mais profundo e equitativo e lidando em particular com as questões de intersexualidade e transexualidade. Protegendo a perspectiva de gênero, por um lado, mas não prejudicando o esporte para as mulheres”, comenta o coordenador. 

Ele também chama a atenção para consequências do conflito entre Rússia e Ucrânia: 

“Pode significar um problema real que já é anunciado desde o seio do movimento olímpico. Todos os atletas russos e da Bielorrússia estão suspensos de competições esportivas olímpicas, embora os períodos de classificação para os jogos de 2024 Paris já tenham começado. Uma equipe de atletas olímpicos de refugiados participará novamente, que será protegida pelo COI”, explica. 

Internacionalização da trajetória acadêmica 

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Foto: Unsplash

Em uma especialização que debate temas tão plurais e internacionais como esporte e Olimpismo, um corpo docente composto por professores internacionais é um ponto forte. O curso vai contar com a participação não só de professores da América Latina, mas também da Europa. Nelson destaca a importância da presença desses especialistas no curso, que, por ser online, facilitará a integração e proporcionará um raro ambiente internacional de especialistas e estudantes. 

A PUCRS hoje é uma referência no âmbito dos Estudos Olímpicos. A rede criada pelas ações do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos e do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, ambos com sede na Universidade, para além do prestígio global, gerou um importante protagonismo na América Latina”, comenta. 

Daniel, que coordena o curso juntamente com Nelson, conta como surgiu a vontade de montar um curso com especialistas internacionais. 

Compartilho com Nelson o interesse, a dedicação especial e a vocação acadêmica para estudos olímpicos, mas em particular para a educação olímpica e o olimpismo, a filosofia da ideologia de Pierre de Coubertin. Seguindo a proposta acadêmica de outras universidades, decidimos formalizar e dar status formal a essa especialização.” 

Presidente do Comitê Pierre de Coubertin da Argentina, de la Cueva destaca as contribuições de sua trajetória à frente da organização aos temas presentes no curso. Como colega de Nelson, ambos geraram espaços de trabalho conjunto harmoniosos, cooperaram e ocuparam constantemente o local do membro correspondente para América Latina do Comitê. “Cuidamos de espalhar e viralizar a figura, o trabalho e o legado de Pierre de Coubertin na América Latina. Atividades regionais constantes são geradas e participamos ativamente de outros centros internacionais, sejam acadêmicos ou institucionais.” 

INSCREVA-SE NA ESPECIALIZAÇÃO EM Olimpismo, ESPORTE, EDUCAÇÃO

Lamartine da Costa

Foto: Camila Cunha – Ascom/PUCRS

O Parque Esportivo da PUCRS recebeu nesta semana, nos dias 2 e 3 de agosto, pesquisadores e integrantes do Comitê Olímpico Internacional de 15 países que atuam na área de Estudos Olímpicos. O 2º Colóquio Internacional de Estudos Olímpicos e Centros de Pesquisa ocorreu com o objetivo de criar redes de contato entre centros e pesquisadores. O evento contou com a presença de 40 participantes com nomes de relevância mundial, entre eles o pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e professor da University of East London, Lamartine da Costa, que participou da abertura do evento. Na ocasião ele falou sobre a evolução dos estudos na área e sobre a importância de pesquisas colaborativas.

Para o especialista, todas as ciências são colaborativas, o que proporciona diferentes interpretações. “Estudos olímpicos abrangem sociologia, história, esportes, ciência e arte”, citou da Costa, que considera que a proximidade dos jogos no Rio de Janeiro está contribuindo com o crescimento do interesse de novos pesquisadores. Atualmente, há seis grupos e centros de estudos olímpicos no país, dois deles no Rio Grande do Sul. O Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS é coordenado pelo professor Nelson Todt, da Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto (Fefid). “Depois dos jogos do Rio outros dois grupos devem ser criados”, relatou o pesquisador da UERJ.

O tema inovação também foi abordado durante o evento. O palestrante disse respeitar muito o passado, mas acredita que é preciso buscar novidades. “A questão da inovação não é muito abordada, apesar de ser tratada em todas as demais áreas de pesquisa. O tema é pouco estudado, talvez pelo peso da tradição, mas é preciso ter um pouco de audácia”, defendeu. De acordo com ele, muitos projetos no Brasil estão ligados à inovação e as competições olímpicas são historicamente usadas para testes de novas tecnologias. “Os jogos olímpicos são muito conectados à tecnologia e as inovações resultam no desenvolvimento das rotinas, não só dos jogos, mas de tudo que está em volta, como a comunicação por exemplo. As empresas de telefone e televisão do mundo inteiro usam os jogos para introduzir novas técnicas”.

O pesquisador acredita ainda que o evento deixará legados importantes para a cidade do Rio de Janeiro e para o País. “São legados não tangíveis, que não são vistos diretamente. O Rio de Janeiro está se modificando como cidade, além da valorização da cultura local”, explicou ele ao defender ainda que o desafio de realizar um grande evento é também um aprendizado para os gestores públicos. “Isso é bom até para o governo que não está acostumado a isso, deixa as obras correrem e vai se adaptando ao longo do tempo, o que não pode ser feito em jogos olímpicos”, complementou. Nesse sentido, uma das áreas mais estudadas atualmente, segundo da Costa, é a gestão, pela capacidade que os grandes eventos têm de mudarem as cidades e os países.

Neste mês, integrantes do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS vão desenvolver um estudo em parceria com a Universidade de Kaiserslautern, da Alemanha. O grupo viaja para o Rio de Janeiro no dia 13 com o objetivo de identificar como o público vê a organização do evento e suas percepções sobre as novas formas que a modalidade ganha. O impacto cultural da olimpíada no público também será avaliado.