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Um dos maiores atores da cultura brasileira, Ariclenes Venâncio Martins, conhecido como Lima Duarte, será o homenageado com a entrega do Mérito Cultural PUCRS no dia 19 de agosto às 20h em cerimônia online pelo canal da Universidade no YouTube. Na ocasião, o artista também fará a leitura de excertos de João Guimarães Rosa e Padre Antônio Vieira.

A honraria Mérito Cultura PUCRS simboliza o reconhecimento institucional de uma personalidade do meio cultural. O homenageado é alguém que tenha transformado a sua vida numa trajetória de defesa da cultura, enquanto instrumento de humanização e educação. Com entrega anual, o Mérito Cultural PUCRS está inserido nas diversas ações que buscam transformar a Universidade em um polo cultural e já premiou, em 2018, a atriz Fernanda Montenegro que, na oportunidade, apresentou a leitura dramática Nelson Rodrigues por ele mesmo, e, em 2019, a cantora Maria Bethânia, que marcou sua volta aos palcos no espetáculo Claros Breus, que teve apresentação única no Rio Grande do Sul, no Salão de Atos Irmão Norberto Rauch, na PUCRS.

Ariclenes Venâncio Martins, nascido num povoado chamado Nossa Senhora da Purificação do Desemboque e do Sagrado Sacramento (MG), filho de um boiadeiro e de uma artista de circo, sempre manteve um pé na roça e outro no mundo cosmopolita. De Zeca Diabo a Sinhozinho Malta, Lima Duarte trouxe à teledramaturgia nacional um grande personagem: o brasileiro comum.

Com a mesma naturalidade, foi o empresário Salviano Lisboa, de Pecado Capital, e o elegante Dom Lázaro Venturini, de Meu bem, meu mal (1981). Das classes abastadas aos estratos mais humildes, sua galeria de personagens revela uma profunda dimensão humana. A doçura de Sassá Mutema, em O salvador da pátria (1989), foi capaz de parar o Brasil a cada episódio. Numa determinada ocasião, ao ser comparado a Charles Chaplin e Marlon Brando, Lima Duarte definiu em uma frase seu projeto artístico: “Somos todos atores de um papel só. O meu é o brasileiro”.

Entretanto, essa profunda identificação não impossibilitou que o ator representasse um indiano em Caminho das Índias (2009) ou um turco em Belíssima (2005). Segundo o próprio ator, ao ser perguntando sobre os seus múltiplos papéis, sua vida foi marcada pelo constante encontro de mundos antagônicos: “O que muito me honra e engrandece é o fato de ser, na elite dos atores brasileiros, o único de formação rural, um caboclo que virou ator. E todo o meu esforço tem sido no sentido de servir minha gente, de não envergonhá-la e de dizer, a cada personagem: ‘Olha! Eu sou um de vocês!’ Mesmo tendo sido Hamlet, Padre Antônio Vieira, Macbeth, Otelo… Tudo caboclo, como eu!”.

A carreira de Lima Duarte é uma travessia de coragem, bravura e dedicação. Em 1946, chega a São Paulo, depois de duas semanas numa boleia de caminhão de frutas. Na capital paulistana, passa a viver de pequenos bicos, inclusive como carregador na feira. Ao tentar uma vaga na rádio, é humilhado e chamado de “voz de sovaco”, devido ao seu timbre.  Apesar desse revés na Rádio Tupi, consegue uma vaga de aprendiz de sonoplasta. Logo depois seria convidado por Oduvaldo Vianna a assumir um papel na radionovela Rádio Romance Royal Briar. Na histórica primeira transmissão da TV Tupi, em 1950, Lima Duarte estava ao lado de Assis Chateaubriand e Lolita Rodrigues.

Em 1951, fez parte do elenco de Sua vida me pertence, a novela em que um galã, Walter Forster, beijou a mocinha, Vida Alves, pela primeira vez no vídeo. Depois participou da novela O Rouxinol da Galileia (1968), O drama dos humildes (1964) e Os irmãos corsos (1966), entre outras.  Lima Duarte, ainda na Tupi, dirigiu Beto Rockfeller em 1968. Convidado pela Globo, consagra-se como um ator definitivo numa impactante sucessão de personagens. Lima Duarte também atuou na peça Arena contra Zumbi, de Augusto Boal, que evidenciou um dos momentos marcantes na cultura brasileira nos anos de resistência ao golpe militar.

Hoje, no ano em que a TV brasileira completa 70 anos, Lima Duarte converteu-se num verdadeiro fundador e desbravador desse veículo de comunicação que transformou a sociedade contemporânea. Falar em Lima Duarte é falar em TV Brasileira, em teatro brasileiro, em cinema brasileiro, em cultura brasileira. Sua história se confunde com a história de todos nós.