Scliar

Scliar publicou mais de 70 livros. Crédito: Acervo Delfos

Em 23 de maio de 1937, nasceu o médico e escritor Moacyr Scliar (1937-2011), que conta com um acervo no Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS. Filho de imigrantes europeus, passou a maior parte de sua infância no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre. No ano de 1962, formou-se médico pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e lançou seu primeiro livro (Histórias de um médico em formação), marcando o entrelaçamento dessas duas áreas que seguiriam juntas ao longo de sua vida: a escrita e a medicina.

Em sua carreira médica, Scliar dedicou-se principalmente ao trabalho na área da Saúde Pública, como médico sanitarista. Já na trajetória literária, publicou mais de 70 livros, entre gêneros como o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil e infanto-juvenil e o ensaio. Recebeu inúmeros prêmios de literatura, a exemplo dos quatro prêmios Jabuti (1988, 1993, 2000 e 2009). Além disso, muitas de suas criações foram publicadas em países como Inglaterra, Rússia, República Tcheca, Eslováquia, Suécia, Noruega, França, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Holanda, Espanha e Portugal.

O acervo do Delfos

Nos primeiros anos da década de 2000, Moacyr Scliar entrou em tratativas com a PUCRS para que o Centro de Memória Literária da Faculdade de Letras fosse depositário de parte dos documentos que constituíam seu espólio. Entregou, na época, caixas com tais documentos, que posteriormente foram acondicionados em envelopes, classificados e catalogados. O acervo, atualmente, encontra-se sob os cuidados do Delfos (localizado no 7º andar da Biblioteca Central) e conta com 2.582 documentos catalogados, como manuscritos, datiloscritos, correspondências e recortes de jornal. Além disso, parte do acervo pode ser acessado online, através da plataforma Delfos – Digital.

Literatura e humanidade

Em sua crônica Juventude e Literatura, Scliar diz “O jovem escritor deve se humanizar. Aprender a conhecer e amar as pessoas”, fortalece sua opinião ao propor a mudança do lema “arte pela arte” por “arte pelo homem”. O conselho dado aos novos escritores foi levado a sério em sua própria produção, que demonstra um grande interesse por questões humanas, em diálogo constante com suas memórias, seu cotidiano como médico e sua condição de judeu e filho de imigrantes.

Sua sensibilidade estendeu-se também ao olhar que conservou, e que transmitiu através de seus escritos, da cidade de Porto Alegre. Declaradamente apaixonado pela capital gaúcha, explorou os mistérios e encantos da cidade. Em alguns casos, narrou situações reais, como na crônica A arte e a ciência dos boatos, que tem como pano de fundo de seu início os leões de bronze situados em frente ao prédio da Prefeitura da cidade. Em outros, criou narrativas ficcionais que se passam em Porto Alegre, como em seu primeiro romance, A guerra no Bom fim (1972)que conta com versões datiloscritas e com correções do próprio autor no Delfos – Digital.

Quer presente melhor para um escritor do que ser lido? Acesse a plataforma online do Delfos e confira a coleção do Moacyr Scliar sem precisar sair de casa.

O acervo do Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS agora conta com itens inéditos de grandes artistas. A atualização do Delfos Digital faz parte da iniciativa de aumentar a documentação histórica e cultural disponível online. A mais recente é a de Lara de Lemos (1923-2010), poetisa, jornalista e professora porto-alegrense. A coleção, que já está com 354 materiais disponíveis, segue sendo atualizada com textos manuscritos e datiloscritos, crônicas, contos, poesias e recortes de jornais. Em breve, serão adicionadas fotografias e correspondências.

Até agora, foram criadas coleções online para três artistas. A primeira delas foi a do escritor Moacyr Scliar (1937-2011), que voltou a ser atualizada recentemente, após a doação de mais materiais do autor para o acervo físico. A coleção, já com 1028 documentos, recebeu novas crônicas escritas para jornais e revistas. A segunda coleção criada foi a de Caio Fernando de Abreu (1948-1996), concluída com 543 documentos.

A ideia, a longo prazo, é que a atualização do Delfos Digital contenha todos os acervos disponíveis no catálogo, com consulta online para os itens mais relevantes. Apenas uma parte dos acervos é selecionada para o Delfos Digital, sendo possível consultar o material completo no espaço físico do Delfos (mediante agendamento prévio).

Um acervo histórico, cultural e moderno

O processo de disponibilização online de conteúdo do Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS teve início no ano de 2015. A criação da plataforma digital, que hoje conta com um total de 6.333 visitas, foi realizada com objetivo de ampliar a visibilidade dos acervos, facilitando o acesso por meio de ferramentas de busca e bases de dados, aumentando as possibilidades de citação e utilização por pesquisadores.

Conhecendo o Delfos

Localizado no 7º andar da Biblioteca Central (Prédio 16), junto ao Instituto de Cultura da PUCRS, o Espaço de Documentação e Memória Cultural é aberto para visitação. Apesar de o nome remeter à Grécia Antiga, ao Oráculo de Delfos, as estantes e os armários do acervo abrigam raridades de um passado muito mais próximo: originais de livros, correspondências, fotografias, objetos pessoais, anotações de artistas, entidades e autoridades representativas do Rio Grande do Sul.

Mediante agendamento (realizado por e-mail com pelo menos sete dias de antecedência), é possível realizar consulta local dos documentos catalogados, que se relacionam com áreas como Letras, Artes, Jornalismo, Cinema, História e Arquitetura. Apenas no ano de 2019 foram atendidos 718 pesquisadores – internos e externos à Universidade e de diferentes regiões do país.

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Foto: Bruna Faraco/Famecos

Um encontro marcado pela sensibilidade e a celebração da vida e obra do médico e escritor Moacyr Scliar. Falecido em 2011, o gaúcho de origem judaica, imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, completaria 80 anos em 2017. O Projeto Cultural Entreatos, organizado pelo Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS e a Escola de Humanidades, homenageou sua trajetória pessoal, profissional e intelectual em evento ocorrido nesta quinta-feira, 26 de outubro, na Biblioteca Central Ir. José Otão, com a presença da professora Judith Scliar, viúva do escritor, e convidados especiais.

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Apresentação de canções judaicas
Foto: Bruna Faraco/Famecos

Na avaliação do coordenador do Delfos, professor Ricardo Barberena, “foi um evento muito bonito do ponto de vista das diferentes religiões, devido ao momento ecumênico conduzido pelo rabino Guershon Kwasniewski e o padre Erico Hammes. Também permitiu uma reflexão biográfica sobre a obra de Scliar, que tem seu acervo em nossa Instituição”, recordou.  As falas da escritora Cíntia Moscovich e dos psicanalistas Abraão Slavutzky e Celso Gutfreind foram mediadas pelo escritor e professor da Escola de Humanidades Luiz Antônio de Assis Brasil. Entre a exposição de cada um, houve a apresentação de canções judaicas pelo maestro Sergio Olivé.

“Foi um grande momento de celebração afetiva, também com referências ao humor judaico, permeado por amplo humanismo e um olhar para a produção intelectual do escritor. Um evento além do aspecto acadêmico, que contou com um testemunho emocionante da viúva Judith Scliar”, conclui Barberena.

Projeto Cultural EntreatosO Projeto Cultural Entreatos, organizado pelo Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS e a Escola de Humanidades, promove no dia 26 de outubro um sarau literário em homenagem aos 80 anos de nascimento do escritor gaúcho e imortal da Academia Brasileira de Letras Moacyr Scliar. Participam do evento a professora Judith Scliar, viúva do escritor, a escritora Cíntia Moscovich, o rabino Guershon Kwasniewski, o professor da Escola de Humanidades Erico Hammes e os psicanalistas Abraão Slavutzky e Celso Gutfreind. A mediação será do escritor e professor da Escola de Humanidades Luiz Antônio de Assis Brasil. A programação inclui a exposição de materiais pertencentes ao acervo de Scliar, abrigado no Delfos, e a execução de músicas judaicas pelo maestro Sergio Olivé. Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público, e ocorrem das 17h30min às 18h30min no saguão da Biblioteca Central Ir. José Otão, prédio 16 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre).