Sapo de Juamí (Phyzelaphryne nimio)

Sapo de Juamí (Phyzelaphryne nimio) / Foto: Santiago Castroviejo-Fisher

A Amazônia Brasileira, pauta de mobilizações nacionais e internacionais sobre a preservação ambiental, continua apresentando novidades para o mundo científico, demonstrando o quanto o respeito à biodiversidade se faz necessário. Em 2018, pesquisadores e estudantes vinculados ao Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCT-PUCRS) identificaram o diminuto sapo de Juamí (Phyzelaphryne nimio) com machos adultos de apenas 1 cm de comprimento, e o sapo cuidador de Juamí (Allobates juami), cujos machos carregam os girinos nas costas. Essas foram apenas duas das 29 espécies descritas para a ciência ao longo do ano anterior, por equipes da Universidade e visitantes, com base no acervo mantido da Instituição. Esse e outros resultados constam no Relatório Social PUCRS, HSL e InsCer.

De acordo com o diretor do Museu, professor Carlos Alberto Lucena, essas 29 espécies novas eram desconhecidas para a ciência, pois ainda não tinham nome. “Elas são obtidas por expedições científicas em diversas áreas do continente sul-americano ou por empréstimo de outras coleções científicas. Geralmente, as expedições exploram áreas pouco conhecidas e trazem espécimes para as nossas coleções. Ao estudá-las, especialistas descobrem essa parte da biodiversidade que ainda é desconhecida e a descrevem através de artigos científicos”, esclarece o gestor.

Os mini-sapos da Amazônia

Sapo cuidador de Juamí,Allobates juami

Sapo cuidador de Juamí (Allobates juami) / Foto: Santiago Castroviejo-Fisher

O professor Santiago Fisher foi responsável pela descrição dos anfíbios. Segundo ele, a descoberta de duas novas espécies de sapos na Amazônia brasileira traz avanços na compreensão da biodiversidade. “O sapinho Juamí é uma das menores espécies de tetrápodes conhecidas no mundo, com machos adultos de 1 cm. Isso pode nos ajudar a entender como a complexidade de um animal pode se reduzir a tamanhos minúsculos. Já o sapo cuidador de Juamí parece ter um cuidado parental complexo, pelo fato de os machos levarem nas costas os girinos. Até onde sabemos, as duas espécies são endémicas da Estação Ecológica Juami-Japurá o que demostra a importância das áreas de preservação nacionais”, explica o pesquisador.

Risco de extinção

Ainda conforme Fischer, existem pelo menos 41 espécies de anfíbios ameaçados de extinção no Brasil. “Dentre as causas principais estão as alterações ambientais e a infecção pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis. Este fungo age na pele porosa dos anfíbios, que os animais utilizam para respirar e absorver água. Ele quebra as proteínas da pele e se alimenta dos aminoácidos. Em decorrência, os animais infectados ficam apáticos, perdendo sua pele e sofrendo de insuficiência cardíaca em poucas semanas”, complementa investigador.

Descobertas incluem peixes

Holotipo C. scaius,peixe

Holotipo C. scaius / Foto: MCT-PUCRS

Especialista em ictiologia com reconhecimento no meio acadêmico nacional e internacional, Roberto Esser dos Reis conduziu os trabalhos que permitiram conhecer 25 novas espécies de peixes. De acordo com o pesquisador, a diversidade de peixes de água doce da América do Sul supera a de todos os continentes e também de outros hotspots de diversidade, como as grandes barreiras de corais marinhas. Nos últimos 30 anos, os pesquisadores do Museu de Ciências e Tecnologia e seus estudantes descreveram mais 300 dessas espécies, contribuindo para o conhecimento da fauna e entendimento da biodiversidade”, revela o professor. Embora sejam conhecidas mais de 6 mil espécies de peixes de água doce no continente, estima-se que existam entre 8 e 9 mil espécies. Essa diferença de espécies ainda por descobrir, segundo Reis, vem diminuindo rapidamente, com uma média de 104 espécies novas descritas a cada ano.

Histórico das coleções

A coleção de peixes do MCT-PUCRS foi iniciada em 1967. A partir de 1985, teve início uma fase de expedições científicas, que continua nos dias de hoje, tornando está a segunda maior coleção de peixes do Brasil. Em 1997, iniciou- se coleta de tecidos e a formação de uma coleção para uso em estudos moleculares. A coleção de peixes possui mais de 54.000 lotes provenientes de cerca de 10.000 localidades, sendo a grande maioria localizada no Brasil.

Holotipo P. mucurina,peixe,MCT-PUCRS

Holotipo P. mucurina / Foto: MCT-PUCRS

No caso dos anfíbios e répteis, o princípio da coleção remonta ao ano de 1969. Em 1983 a coleção passou a ser sistematicamente organizada e catalogada. Desde então, o número Anfíbios e Répteis tem crescimento ininterrupto, atingindo mais de 35.000 exemplares (cerca de 20 mil répteis e 15 mil anfíbios). A digitalização, desde os anos 1990, tornou disponível o conteúdo de forma online.

Acervo do MCT-PUCRS: articulação internacional

O Museu de Ciências e Tecnologia possui 17 coleções científicas que abrigam representantes da fauna atual e do passado (fósseis), flora e peças/resquícios arqueológicos. Ao todo ultrapassam os dois milhões de exemplares/peças. Estes acervos são utilizados por pesquisadores em várias situações, uma delas – no caso das coleções biológicas – no auxílio à descoberta de novas espécies para a ciência. No ano de 2018, pesquisadores, alunos de Graduação e do Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade (Escola de Ciências) e curadores do MCT-PUCRS propuseram nove novas espécies para o Brasil (seis de peixes, duas de sapos e uma de aranha). As coleções científicas do Museu, junto com as de outras instituições brasileiras e do exterior, tiveram uma participação fundamental nestas descobertas, pois seus acervos são mantidos justamente para este fim – conhecer a biodiversidade e, a partir disso, auxiliar no estabelecimento de áreas prioritárias para a preservação e ampliação do conhecimento da história de vida das espécies.

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