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Foto: Camila Cunha

No final dos anos 1950, a União Soviética largou na frente na corrida espacial. A nave Sputnik 1, em 1957, foi a primeira a entrar em órbita. O primeiro homem no espaço voou em 1961, e a primeira mulher, em 1963. Inicialmente, o destino era bem próximo: orbitar o nosso planeta, a 500 quilômetros de altura. Pouco, se pensarmos que isso equivale mais ou menos a um centímetro de altura sobre um globo escolar, mas muito se pensarmos nos desafios que isso implicava: a enorme energia para subir, o controle do foguete (praticamente uma bomba), os desconhecidos efeitos sobre o corpo humano e a perigosa reentrada na atmosfera.

Em 1962, tentando virar o jogo dos voos orbitais, o presidente norte-americano John F. Kennedy cria o projeto Apollo e faz seu famoso discurso prometendo chegar à Lua, a 400 mil quilômetros, ainda naquela década. Constituindo-se em grande empreendimento científico, não é possível reduzir o projeto à missão conduzida pelos astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins. Este e os voos seguintes, até a Apollo 17, eram a culminância de uma década de esforços, avanço e também de heroísmo, inclusive com mortes sem sequer sair do chão, como foi o caso da Apollo 1.

Assim, não sem dificuldades e depois de missões que circundaram a Lua (a Apollo 8 foi a primeira), em 20 de julho de 1969 o projeto alcançou o salto certeiro a um alvo quase mil vezes mais distante do que os voos orbitais desde a Terra.

Entretanto, nesses 50 anos, o avanço em termos de consciência espacial infelizmente parece ter sido menor. As versões céticas do pouso na Lua seguem presentes. Talvez estejamos até retrocedendo, haja vista as recentes discussões sobre a forma da Terra. Uma pesquisa recente do Datafolha mostrou que 11 milhões de brasileiros acreditariam que a Terra é plana.

Nesse sentido, talvez devêssemos comemorar fortemente também o feito da primeira circunavegação da Terra que agora em agosto completa 500 anos. Em 1519 ocorreu a partida da frota espanhola a mando de Fernão de Magalhães dos molhes de Sevilha que, andando sempre para oeste, retornou ao mesmo lugar, confirmando a esfericidade do nosso planeta. O retorno, três anos depois de uma só nau com 20 homens e sem Fernão, que morreu no caminho, mostra os desafios daquela também marcante aventura humana.

Voltando (ou indo) à Lua, no final dos anos 1970 as fontes de informação eram o jornal e o rádio. A TV engatinhava. O pouso foi um dos primeiros eventos transmitidos ao vivo via satélite. Assim, era natural haver certa desconfiança. O grau de escolarização geral era pequeno.

Logo depois, tal como aconteceu em muitos outros lugares, em Porto Alegre, milhares de estudantes foram ao Auditório Araújo Vianna ver uma das pedras da Lua. Embora tenhamos de admitir que uma pequena pedra de poucos gramas possa não ser muito convincente, esses pedaços presenteados pelo governo norte-americano a outros países, como o Brasil, também pretendiam ser uma prova da longa e inusitada jornada, além de servirem de propaganda da vitória americana na corrida à Lua. Felizmente, os pesquisadores não perdem muito tempo com esses debates, se é que assim podemos denominá-los. Quase 400 quilogramas de pedra foram trazidos pelas missões Apollo e elas, ainda hoje, são estudadas para entender melhor o nosso satélite.

Além disso, mesmo antes dos voos espaciais, os voos mentais já eram ousados. A ideia copernicana de que não somos o centro do Sistema Solar, embora comprovada apenas 200 anos depois, já tem quase cinco séculos. E a visão de que o Sol é só mais uma entre incontáveis estrelas agrupadas na Via Láctea, a qual, por sua vez, é apenas uma entre incontáveis galáxias, já tem bem mais de 50 anos.

Sim, fomos à Lua! O salto dado pela humanidade foi enorme e seu legado ainda se faz presente principalmente na atual sociedade tecnológica. Nesta semana, estamos celebrando os 50 anos de uma história que começa quando o desejo do homem era imitar os pássaros e que hoje ultrapassa os limites antes não imaginados.

Depois de tantas sondas e robôs lançados aos confins do Sistema Solar, pode-se dizer que o “pequeno passo” proveu seu “salto gigante”. Agora, outro salto tripulado se avizinha: um voo para Marte. A distância total é bem mais que mil vezes do que o salto dos voos orbitais à chegada na Lua. No espaço não se anda em linha reta. Até Marte os quilômetros são contados às dezenas de milhões. Os filmes de ficção científica já estão lá. Nós, do observatório astronômico da PUCRS, esperamos poder acompanhar mais essa real aventura humana.

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Foto: Nasa/JPL

Pesquisadores da PUCRS participam da primeira missão espacial brasileira na órbita da Lua. O grupo do Centro de Pesquisa em Microgravidade (MicroG) pretende avaliar o efeito da baixa gravidade, da radiação lunar e da magnetosfera em cultura de células humanas. Para isso, amostras de células serão colocadas dentro de um nanossatélite (pequeno satélite não tripulado), que orbitará a Lua durante seis meses. A missão batizada de Garatéa, que significa “busca-vidas” em tupi-guarani, é formada também por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Mauá de Tecnologia. A expectativa é de que o lançamento ocorra em 2020.

Serão feitos estudos inéditos que podem ser um grande avanço para as pesquisas espaciais. Pela primeira vez, serão enviadas células humanas para a órbita lunar, com o objetivo de entender como elas se comportam em termos de proliferação, sobrevida e alterações genéticas no ambiente espacial. Essas amostras serão monitoradas à distância a partir de uma transmissão e os dados coletados serão comparados com material semelhante que ficará na PUCRS. “Queremos saber como o corpo reage à exposição da microgravidade e da radiação para futuras expedições a Marte ou à Lua e pensar em alternativas preventivas de saúde e sobrevivência. Temos como hipótese que a combinação dos fatores será maléfica para as células, mas é uma incógnita”, explica a coordenadora geral do MicroG, Thais Russomano.

Para a professora Marlise Araújo dos Santos, coordenadora do Laboratório de Farmácia Aeroespacial Joan Vernikos do MicroG, à qual a pesquisa está diretamente ligada, a participação na missão é a concretização do reconhecimento pelos 17 anos de trabalho dos pesquisadores do Centro de Pesquisas da Universidade. De início, serão cinco profissionais da PUCRS das áreas de Fisiologia, Farmácia e Engenharia envolvidos no projeto. Marlise conta que o experimento e a definição das células que serão estudadas ainda estão em análise, o que depende da capacidade técnica que estará disponível na estrutura onde o material será armazenada.

O satélite brasileiro será enviado ao espaço junto com um grupo de seis satélites de outros países em um foguete, com a cooperação da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial do Reino Unido (UK Space Agency). A missão está sendo planejada desde 2013 e será feita por meio de uma parceria público-privada. Além dos experimentos da PUCRS, as outras equipes brasileiras farão a captação de imagens da Lua com câmeras e enviarão colônias de microrganismos (conhecidos como extremófilos) para também observar como se comportam no ambiente cósmico. “Participar da primeira missão brasileira nos coloca em um novo patamar de internacionalização, porque pode proporcionar novas possibilidades para nossos pesquisadores e parcerias para projetos, inclusive pela ampliação do relacionamento com as agências espaciais”, planeja Thais.