O Programa de Bolsas de Formação Inicial em Licenciaturas, viabilizado após a participação e seleção da Escola no Edital 66/21 SEB/MEC, possibilitou à Escola de Humanidades da PUCRS a concessão de 160 bolsas nos cursos de Licenciatura em Pedagogia, Letras Português e Ciências Biológicas no primeiro semestre de 2022, quando o projeto foi iniciado. “Dos selecionados, muitos já atuam como docentes ou educadores sociais, da educação infantil ou anos iniciais, mas não têm formação superior”, explica Ana Regina Soster, professora da Escola de Humanidades e coordenadora do projeto. Logo, a ideia é que a iniciativa contribua para a qualificação do ensino básico, principalmente nas escolas públicas.
Conhecida como a “profissão que forma todas as profissões”, a docência exerce um papel fundamental na construção da sociedade. No entanto, sofre com constante desvalorização – além da baixa procura: os cursos de licenciatura são cada vez menos almejados pelos jovens. Segundo uma pesquisa da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp), o déficit de professores em todas as etapas da educação básica pode chegar a 235 mil em menos de vinte anos. O estudo também aponta que o número de ingressos em cursos presenciais de licenciatura caiu 37,6% na última década. Tudo isso impacta na qualidade da educação e no futuro do País – considerando esse movimento, a Escola de Humanidades busca incentivar a formação de novos professores da educação básica.
O projeto foi construído tendo como base um conjunto de ações de apoio e de formação, como seminários integrados, palestras, oficinas e vivências nas escolas de educação básica. Ana Regina explica que os cursos de licenciatura da Escola de Humanidades passaram por uma grande reestruturação curricular implantada no primeiro semestre de 2020. Com base na aprendizagem pela pesquisa e em um forte caráter interdisciplinar, as licenciaturas possuem, em seu primeiro semestre, disciplinas em comum com todos os cursos. Essas disciplinas contemplam um olhar sobre o contexto social mundial e principalmente nacional. Entre elas, estão: Leituras de Brasil; História, Tempo e Memória e Demografia e Sustentabilidade.
A Iniciação à Docência, na qual os alunos vivenciam experiências em escolas, é realizada do 1º ao 5º semestre. Em todas as etapas da iniciação, os alunos recebem acompanhamento de professores do Núcleo de Iniciação à Docência (NID) da Escola de Humanidades, que possuem experiência com atuação na educação básica em diferentes áreas do conhecimento. A professora ainda ressalta que o contato com alunos de diferentes realidades é fundamental para a construção da consciência social dos estudantes de licenciatura.
“São estas vivências que aproximam nossos licenciandos da realidade da comunidade escolar, contribuindo para o reconhecimento das dificuldades, possibilidades e para o amadurecimento ao longo do processo na construção de um trabalho coletivo, com projetos interdisciplinares que contribuam de modo mais efetivo nas salas de aula das redes”, destaca.
Ana também comenta a importância do conhecimento e experiência prévios dos alunos que já atuavam na docência antes mesmo de ingressarem na licenciatura:
“A educação é um processo de mão dupla. Como colocado por Paulo Freire: ‘quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender’. Partilhar as experiências vividas, observar a própria prática docente com base na formação construída na universidade são partes do processo de ensino aprendizagem”, pontua a professora.
A divisão das disciplinas de iniciação à docência é feita da seguinte forma:
O Centro de Apoio Discente da PUCRS também integra o projeto e vem contribuindo tanto na perspectiva pedagógica, quanto na socioemocional. O serviço da Universidade atua por meio de três núcleos: o Núcleo de Apoio à Aprendizagem, que oferece monitorias em diversas disciplinas, além de oficinas e atividades extracurriculares; o Núcleo de Apoio à Educação Inclusiva que executa ações para promover o acesso e a permanência de alunos com transtornos de aprendizagem, deficiências e outras necessidades; e por fim, o Núcleo de Apoio Psicossocial que promove o acolhimento e a escuta qualificada para prevenção, intervenção e mediação de questões relativas à saúde mental dos alunos. “Esses núcleos muito têm contribuído para que as(os) estudantes possam superar as dificuldades e consigam usufruir das melhores condições para alcançar o resultado desejado: a conclusão da graduação prevista para o segundo semestre de 2025”, celebra Ana.
Ana Regina acredita que projetos de incentivo à formação docente, como a iniciativa da Escola de Humanidades, são essenciais para retomar a valorização da profissão. Apesar de várias universidades, em especial as comunitárias, se esforçarem para manter os cursos de licenciatura, a baixa procura pela formação docente faz com que muitos deles acabem sendo descontinuados. Para a professora, é fundamental que os diferentes setores e estruturas de poder da sociedade compreendam a gravidade dessa situação e percebam a importância da educação como um investimento a longo prazo.
“Precisamos valorizar a profissão como carreira, entendo que a graduação é parte de um processo de formação continuada. Não teremos resultados positivos nas provas aplicadas aos estudantes da educação básica se não investirmos pesadamente em formação inicial e continuada, valorização da carreira docente, qualificação das escolas e suporte aos estudantes em todos os níveis para que permaneçam nos bancos das escolas e universidades”, afirma ela.
No entanto, ela pontua que traduzir para a sociedade a importância da formação de novos docentes é um desafio. É necessário um esforço conjunto de universidades e escolas, tanto públicas como privadas, para debater as dificuldades não só de formar novos docentes, mas também de estimular aqueles já formados em diversas áreas do conhecimento, já que muitos não são mais atuantes no mercado, como professores.
“Na sociedade complexa, ambígua, volátil e incerta na qual vivemos, uma formação que não contemple o reconhecimento da interdisciplinaridade, do trabalho colaborativo, do aprender pela pesquisa, do domínio das tecnologias e da inovação não atenderá as necessidades da realidade”, finaliza.
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