Estátua de São João Batista Missioneiro

Foto: acervo pessoal

As reduções jesuíticas são ponto turístico no Rio Grande do Sul. A mais conhecida delas é a Redução de São Miguel de Arcanjo, cujas ruínas são patrimônio mundial pela Unesco. Foi justamente ela que foi expandida, devido a um aumento populacional, criando a Redução de São João Batista, fundada em 1697 pelo jesuíta Antônio Sepp e que originou, posteriormente, o município de Cruz Alta, a terra do escritor Érico Veríssimo — localizada há 364km de Porto Alegre.  

Nessa cidade, o Irmão Edison Hüttner, professor da Escola de Humanidades da PUCRS, visitou uma família que possuía uma escultura de São João Batista e que desejava descobrir o valor histórico da peça. O professor realizou estudos que constataram que a obra é do período missioneiro, com mais de 300 anos.  

A escultura foi produzida em madeira e pertence ao primeiro período da arte missioneira, realizada no século XVII e esculpida em troncos por indígenas da etnia Guarani.  Há marcas de queimado desde a base da estátua até os pés, embora sua estrutura não tenha sido danificada, o escurecimento da madeira em razão da combustão é visível. Levando isso em consideração, foram levantadas algumas hipóteses sobre a origem da obra de arte e como ela recebeu tais marcas:  

Essa é a primeira escultura de São João Batista Missioneiro adulto encontrada no Rio Grande do Sul, sendo considerada um importante achado à história do estado. Ela será exposta na Catedral do Divino Espírito Santo, em Cruz Alta, até o dia 24 de agosto e depois retornará à família guardiã. 

Os estilos de esculturas jesuíticas 

Foi o professor Edison Huttner quem estudou a escultura

Foto: Mateus Bruxel/Agência RBS

Primeira fase (Santa María del Iguazú, 1625): são esculturas com corpos rígidos, que possuem os pés e as mãos encaixados, podendo ser retirados e recolocados no corpo. Por essa possibilidade de montagem, eram facilmente transportadas. Eram esculpidas em árvores com formato cilíndrico.  “É essa fase que pertence a escultura de São João Missioneiro de Cruz Alta, trata-se de um padrão de esculturas horcones (troncos) e, por ter essas características, é considerada como sendo uma arte sacra barroca hispano guarani-jesuíta do século XVII”, explica o Irmão Hüttner.   

Segunda fase (1670-1695): as esculturas deixam de ser montadas e passam a se assemelhar ao barroco europeu. Suas vestes eram completas e vazadas.  

Terceira fase (Santa Maria de Fe, 1685-1690): as vestes das figuras representadas são mantos com pregas aplainadas. 

Quarta fase (Período Rio-Grandense, 1696-1785): também conhecido como período da Reforma de José Brasanelli, revela um estilo livre e gestual, com figuras exuberantes, cobertas com panos agitados pelo vento, com expressividade do barroco europeu berniniano e outros estilos. Entre 1730 e 1768, ocorre uma difusão dos modelos de Brasanelli e é criado um estilo missioneiro próprio. 

 

 

Exposição Helenismo Sul-Americano Missioneiro

Fotos: Divulgação

A Escola de Humanidades, por meio do Projeto de Arte Sacra Jesuítico-Guarani, o Museu de História Natural e o Centro de Pesquisa e Documentação de Alegrete (Cepal) promovem no município a exposição Helenismo Sul-Americano Missioneiro. A mostra inclui acervo, fotos, desenhos e documentário que apresentam a arte sacra jesuítico-guarani, destacando um novo conceito cultural.

Faz parte da exposição a réplica do que deve ser a cruz que ocupou o campanário da Igreja de São Miguel das Missões, do século 18. Com 2,24 metros de altura por 1,12 de largura, foi encontrada pelo professor Ir. Édison Hüttner em uma gruta na cidade de Camaquã. Há ainda peças com a forma voluta (que lembram um caramujo, na foto abaixo) e bases de arenito do Ponto de Memória de São Miguel, além de pedras de itacuru, usadas pelos indígenas para construir a igreja que hoje está em ruínas, fazer cerâmica e pintar o corpo. No próprio Cepal, Ir. Édison encontrou, no ano passado, duas peças sacras doadas por uma família que ajudam a entender a produção artística do tempo das missões: uma imagem da Imaculada Conceição, com detalhes em ouro, e outra de Santo Antônio. Alegrete fazia parte das reduções jesuíticas, integrando a Estância de Yapeyú, hoje Corrientes (Argentina).

Exposição Helenismo Sul-Americano Missioneiro, volutaA exposição fica à disposição do público até o dia 30 de agosto no Cepal. O centro tem sede na Rua Coronel Luiz Inácio Jacques, 66, Centro de Alegrete. Funciona de segunda a sexta, das 9h às 18h, e sábado, das 9h às 12h.

Neste ano, já recebeu a mostra a cidade de Camaquã. No ano passado, a exposição esteve no Museu Municipal Dr. José Olavo Machado de Santo Ângelo e no Museu Julio de Castilhos de Porto Alegre.

 

Novo conceito

Helenismo Sul-Americano Missioneiro, Igreja de São Miguel das MissõesFenômeno artístico, cultural e religioso, as edificações foram construídas por padres jesuítas e índios guaranis nos séculos 17 e 18. Fruto de seu tempo, sofreram diferentes influências, como o estilo renascentista-maneirista, barroco e barroco missioneiro. Durante o estudo das construções, também foram percebidos elementos evidentes da cultura grega, seja nos frontões, capitéis ou na própria disposição do espaço, destaca o professor Ir. Édison Hüttner. Esse conceito de Helenismo Sul-Americano Missioneiro evidencia esse encontro de culturas: ocidental com mãos de jesuítas e guaranis, abrangendo 30 reduções da Província Jesuítica do Paraguai. Artigo criando o conceito de Helenismo Sul-Americano Missioneiro foi publicado na Visioni LatinoAmericane, revista da Universidade de Trieste (Itália), de autoria do Ir. Édison, do seu irmão Eder Hüttner e do arquiteto Rogério Mongelos. Os três são curadores da exposição, com Nelson Assumpção dos Santos, diretor do Cepal.