Durante o período de isolamento causado pela pandemia do novo coronavírus foi registrado, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), aumento nos casos de violência contra crianças, adolescentes e mulheres em vários países. Para auxiliar na prevenção e identificação de situações de risco, o grupo de pesquisa em Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas (GPeVViC) do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida lançou a cartilha de orientação Isolamento durante a Covid-19 e violência dentro de casa.
O projeto foi desenvolvido por alunos de graduação, mestrado e doutorado, sob coordenação da professora Luísa Habigzang e da doutoranda Júlia Zamora. De acordo com Luísa, o objetivo da cartilha é auxiliar as pessoas a identificar situações de violência, compreender os efeitos para saúde e qualidade de vida e acessar serviços que possam auxiliar em termos de proteção e atendimento. “O público principal são mulheres em situação de violência pelo parceiro íntimo, mas pode ser útil para familiares e vizinhos de pessoas expostas a violência”, adiciona.
O afastamento do convívio presencial com outros familiares, amigos e vizinhos, necessário neste momento, bem como acesso reduzido à serviços de saúde, assistência social, segurança e Justiça aumentam o isolamento da pessoa em situação de violência, tornando-se um importante fator de risco para violência doméstica e familiar. “Pode inclusive contribuir para o agravamento da violência, pois gera sensação de impunidade para o autor”, comenta Luísa.
Na cartilha, explicações sobre como a atual situação tem influenciado no aumento de casos, dividem espaço com informações sobre o que configura como cada tipo de violência, assim como exemplos comuns que as caracterizam. Como nas formas na violência contra crianças e adolescentes, que vão muito além do abuso físico, mas também psicológico e sexual. Além disso, ações ou omissões que causem prejuízos à própria sobrevivência, como a negligência, é conceituada no material seguindo as diretrizes internacionais do que configura esses crimes.
Para as mulheres, a cartilha traz as formas de violência sofrida e suas características, conforme determinado na Lei Maria da Penha (Lei Nº 11.340). Para esclarecimento, também se inclui atos que a OMS considera violência contra as mulheres durante a atual pandemia: como disseminar informações falsas como forma de controle ou impedir a correta higienização preventiva das mãos.
Mecanismos para notificação e denúncia dos casos identificados são disponibilizados na cartilha. “A própria pessoa em situação de violência ou outros familiares e vizinhos podem notificar os casos. Existem diversos serviços que podem atuar na proteção, entretanto, os casos precisam chegar a estes serviços. Pedir ajuda é fundamental! Romper o silêncio é muito difícil pela vergonha, medo de ameaças ou sensação de solidão, mas é o passo inicial para proteção e garantia de direitos”, afirma Luísa.
O grupo também faz questão de discutir algo fundamental na cartilha: a não culpabilização da pessoa que sofre violência. Luísa reforça que a culpa nunca é da pessoa que sofreu a violência. “Isso é importante porque a responsabilização das vítimas pela sociedade é um fator que contribui imensamente para que as pessoas não peçam ajuda. Precisamos mudar essa cultura para promover saúde e garantir direitos de quem está em situação de violência”, completa a docente.
As mudanças na rotina ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) têm impactado pessoas de todas as idades. E se, para adultos, assimilar tantas informações e adaptações pode ser uma tarefa difícil, para crianças não é diferente. Com o fechamento das escolas, muitas delas têm passado os dias em casa com a família. E explicar para elas o contexto atual é fundamental para tranquiliza-las, ao mesmo tempo em que se deve monitorar a quantidade e o tipo de informações que estão recebendo. Com programas de televisão transmitindo notícias sobre o assunto durante praticamente todo o dia, encontrar esse equilíbrio pode ser desafiador.
Para a professora Juliana Tonin, da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, pesquisadora da PUCRS, coordenadora do LabGim, Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias, a reorganização das atividades escolares e profissionais aconteceu de maneira brusca, e as crianças, hoje, já têm muitas informações sobre o assunto e estão compreendendo esse cenário da maneira como podem, mediadas pelas compreensão de seus cuidadores ou pares, mesmo virtualmente. “Um bom critério para conversarmos com elas é procurar identificar duas dimensões da situação: a do adulto e a da criança. O efeito da quarentena na rotina dos adultos é diferente do causado na rotina das crianças. E temos de tentar, antes de tudo, identificar e compreender essa diferença. Podemos explicar e informar a partir do que compreendemos como sendo de interesse da criança, a partir do que a impacta diretamente”, destaca.
Essa comunicação é importante para crianças de todas as idades – inclusive para os bebês. Juliana comenta que os bebês compreendem seus contextos e precisam de informações sobre o que está acontecendo ou deixando de acontecer, tanto quando os adultos. Um bebê que deixa de ir repentinamente para sua creche ou escola precisa também de discurso, de informações, para poder organizar essa experiência dentro de si e sentir-se amparado. “Além disso, é preciso deixar claro que essa situação não é algo que está sendo sofrido exclusivamente pela criança, mas, sim, algo que atinge o coletivo, uma condição nova pela qual todos estão passando no momento”, pontua a professora.
Com as famílias em casa e os programas de TV transmitindo notícias sobre o Covid-19 ao longo do dia, ficar atento ao consumo de informações das crianças é fundamental. Para a pesquisadora, o primeiro passo para que as elas não tenham acesso a uma quantidade exagerada de notícias é o adulto parar de fazer isso. Assim como há orientações sobre como as crianças devem ser informadas, também existem recomendações para os adultos, sobre como evitar passar muito tempo nas redes sociais, desligar o celular durante períodos do dia, não assistir televisão o tempo todo e acessar apenas informações de fontes seguras. O momento acaba sendo favorável para que todos possam se questionar sobre formas de autocontrole e equilíbrio no consumo de informação – servindo de exemplo para as crianças.
Como muitas escolas estão enviando atividades online para os alunos, é preciso entender que as crianças têm, assim como os adultos, uma relação muito positiva com as tecnologias. “Existe um lado promissor, funcional e positivo que torna tudo mais prático e viabiliza a execução de muitas coisas. Esse reconhecimento é muito importante. Mas existe um outro lado que é o das relações inadequadas, dos diferentes tipos de abusos e violência, do consumo de conteúdos e presença em ambientes digitais não permitidos para sua faixa etária”. As formas de garantir que as crianças façam usos seguros e positivos dessas ferramentas passa pela criação de filtros etários, pelo respeito à classificação indicativa de conteúdos e redes sociais e, acima de tudo, pelo monitoramento dos adultos, isso é fundamental”, ressalta Juliana.
Para crianças que já têm noção do que é uma notícia e, de alguma forma, recebem informações por elas mesmas, esse também é um momento para se falar sobre a importância de diferenciar notícias verdadeiras de fake news. Uma forma interessante de fazer isso pode ser filtrar e indicar as fontes.
Em relação às crianças menores, a professora acredita que existe uma única fonte de informação segura na qual as crianças acreditam fundamentalmente: seus responsáveis: “Quando estamos perto de crianças muito pequenas, precisamos nos filtrar muito. Devemos garantir que não estejamos contaminados por fake news. Devemos buscar uma avaliação criteriosa de conteúdos que consumimos e disseminamos para que possamos realmente exercer a nossa função de ser uma fonte de informação confiável e de cuidado para a criança”.
Saiba mais: 5 dicas: como checar informações na internet
Não deixar que o tema “coronavírus” tome conta do cotidiano pode se tornar uma preocupação para os adultos. E, como toda a rotina está sendo afetada pela pandemia, é normal que o assunto acabe pautando as famílias. “Acredito que o melhor a fazer é permitir diferentes espaços na rotina, diversificar o dia”, comenta Juliana.
Se a criança está angustiada, entristecida, frustrada ou com medo, por exemplo, é importante que ela possa ter espaço para se expressar e que seja validada nesses sentimentos. Falar a ela frases do tipo “não chora”, por que está triste?”, “não precisa se sentir assim” é o mesmo que dizer para ela não sentir o que está, de fato, sentindo. “A criança precisa ter espaço, ser ouvida, reconhecida, mesmo em sua tristeza. Que vem e vai. Assim como a alegria, o riso, eles vêem e vão. A criança precisa ter espaço para sua relação com a escola, para explorar algum brinquedo ou brincadeira que goste muito, criar uma receita nova ou mesmo para encontrar algum passatempo enquanto sua família está por perto, mas trabalhando”, destaca a professora
Espaço para tudo: trabalhar, conversar, brincar, sentir, descansar, estar presente, estar próximo. “Essa experiência de quarentena nos devolve aos nossos lares, nos faz retornar ao nosso essencial. E, nesse essencial, reencontramos nossas crianças. Não estamos tendo outras alternativas além de nos olharmos, nos sentirmos e nos compreendermos, fazendo coabitar tudo que é nosso. Pode ser uma experiência de muito aprendizado. Ter e dar espaço para tudo, inclusive para o medo, para a angústia e para a tristeza que possam surgir nas vivências desse momento de crise sanitária que estamos vivendo”, conclui Juliana.
Um dos métodos adotados pela PUCRS como medida de proteção contra o coronavírus foi o de suspensão das aulas presenciais. Todos os cursos de graduação e pós tiveram suas atividades adaptadas para a modalidade online, através da plataforma Moodle, com ferramentas exclusivas para esse tipo de metodologia.
Apesar das aulas preparadas pelos professores serem pensadas para esse cenário, a rotina atípica causada pelo isolamento necessita de cuidados diferenciados e novos hábitos. “É natural que demore um tempo até conseguirmos nos organizamos melhor no tempo, entendermos em que períodos do dia rendemos mais e se adaptar aos novos horários”, destaca Manoela de Oliveira, professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, psicóloga, especialista em Processos Psicossociais.
Confira cinco dicas profissionais de como organizar os estudos nesse período:
1. Evite procrastinar: durante as semanas, a dica é observar como você está gerenciando o tempo e se, de fato, está procrastinando. Depois de entender em que momento do dia você está mais disposto, com menos demandas externas (do trabalho, da família, dos pets, entre outros) e qual ambiente é mais favorável, aí sim, você pode começar a repensar a sua rotina e buscar ter mais produtividade. Vale lembrar que adiar as atividades que devem ser feitas não faz com que elas sumam. Uma opção é fazer as coisas aos poucos, em vez de deixar que elas acumulem.
2. Tenha uma rotina: tente manter uma rotina parecida com a que você tinha antes da quarentena. É importante dar continuidade aos seus hábitos, adaptando alguns conforme a necessidade e as ferramentas disponíveis, para que voltar ao cotidiano depois não seja tão difícil. Ninguém precisar sair do ritmo.
3. Teste diferentes estratégias: é possível que, para algumas pessoas, uma lista em papel e o cronômetro no celular também ajudem bastante. Outros preferem ter uma rotina mais flexível e conseguem fazer todas as suas atividades com sucesso. Existe um fator de autoconhecimento envolvido. É um bom momento para experimentar outras possibilidades.
4. Aplicativos e plataformas para organização: existem várias plataformas e aplicativos de produtividade e gestão do tempo online, como Asana e o Trello. Eles auxiliam em: 1) listar lembretes do que é preciso fazer; 2) elencar prioridades; 3) visualizar as atividades que precisam ser feitas, em andamento e concluídas. Outra sugestão é usar a técnica pomodoro, que consiste em intervalos de trabalho e de descanso.
5. Prepare sua mente para o novo formato: fique calmo e experimente as aulas devagar. Para começar, encontre um espaço tranquilo, confortável e com boa internet. Monte sua estrutura para a aula on-line e faça o teste. Nesta modalidade, você pode ter alguns ganhos, como poder rever uma parte da aula que não entendeu e consultar algum conteúdo de outra aula sem perder a matéria (fazer as pausas é bem importante).
Saiba mais: Rotina em casa: gerenciar o tempo auxilia a manter a produtividade
Manoela ainda destaca que a modalidade online proporciona maior autonomia. “Os alunos podem estudar da forma como se sentem melhor com todas as aulas em um só dia, de pijama, fazendo pausa no meio do dia para descansar, entre outros benefícios. Exercitar a autonomia e a responsabilidade que vem com ela é super importante para desenvolver algumas competências que o mercado de trabalho vem buscando nas mais diferentes áreas, que são o autoconhecimento e o protagonismo”, destaca.
A principal área de estudo de Manoela de Oliveira é o desenvolvimento de carreira em diferentes etapas da vida e em contextos culturais. Atualmente, é responsável pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Carreira da PUCRS.
Para ajudar quem está em casa, durante o período de isolamento causado pelo coronavírus, a PUCRS preparou diversas atividades. Confira as atrações que você pode aproveitar a distância:
Diversos artistas do Rio Grande do Sul se apresentarão ao vivo pelo Instagram do @pucrscultura. Entre os convidados, estão Pedro Cassel (26/3 – 19h), Paola Kirst e Pedro Borghetti (2/4 – 19h), Glau Barros e Rafa Rodrigues (9/4 – 19h), Juliano Guerra (16/4 – 21h) e Clarissa Ferreira (23/4 – 19h).
Novo projeto do Startup Garagem terá lives semanais pelo Instagram do @tecnopuc, com conteúdos para transformar ideias em negócios. Nesta quinta-feira, 26 de março, às 14h, os convidados Leandro Pompermaier e Rafael Chanin, do Tecnopuc Startups, falarão sobre a Jornada do Empreendedor.
Exercícios de meditação serão postados no IGTV da @pucrs toda semana. As atividades estimulam a concentração e o autoconhecimento e fazem parte da série #juntospodemos, que também trará dicas de estudos de professores e momentos de oração.
O Núcleo de Apoio Psicossocial acolherá alunos e professores com orientações sobre os enfrentamentos necessários durante o período de isolamento. Os contatos devem ser realizados pelo e-mail [email protected] e pelos telefones das psicólogas (51) 98300-3778 (Carla Villwock) e (51) 98334-6418 (Ângela Pratini Seger). Basta enviar nome e sobrenome, matrícula e telefone para que a equipe retorne o contato, das 9h às 12h e das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira.
Professores do Parque Esportivo da PUCRS prepararam dicas de treinos para quem está em casa e quer praticar exercícios físicos nesse período. Confira as publicações no Instagram do @parqueesportivopucrs, envie suas sugestões e marque a @pucrs durante suas atividades.
O PUCRS Carreiras organizou algumas oficinas sobre LinkedIn (30/3 – das 14h às 15h30min), elaboração de currículo (3/4 – das 10h às 11h30min) e preparação para entrevistas nos processos seletivos (7/4 – das 18h às 19h30min). Confira o passo a passo para se inscrever em bit.ly/oficinas_online.
Boa parte dos serviços espalhados pelo Campus da Universidade continuam atendendo de forma remota. Confira aqui a lista completa.
O escritor Leonardo Padura mora no bairro de Mantilla, em Havana, capital de Cuba, na casa construída pelo pai há seis décadas. Como menino, andava livre pelas ruas e assistia às partidas de beisebol. “Era uma pequena vila. Tínhamos de tudo, menos funerária e cemitério. Sou uma mescla do lugar em que nasci, do território que meus avós e meus pais percorreram e do país em que viveram e de onde partiram tantos autores”, afirmou, na noite dessa segunda-feira, dia 21, na conferência do Fronteiras do Pensamento, no salão de atos da UFRGS. O sentimento de pertencimento dos cubanos é visto em poucos países do mundo, garante Padura, que tratou também de outras facetas da insularidade, “a maldita circunstância da água para todo lado”. “Venho de uma ilha, país de fronteiras líquidas, o que afeta, condiciona e determina nossa maneira de ser e existir.” O isolamento, o drama migratório e a essência cultural de Cuba foram os temas centrais da sua fala.
Andar pelo Malecón, a orla de Havana, no sentido histórico de seu desenvolvimento, de Havana Vieja ao bairro de Vedado, sentar-se no muro de 1 metro e contemplar a cidade, de um lado, e o mar, de outro, gera uma sensação contraditória devido a essa “fatalidade geográfica”. Uma forma de olhar para si mesmo e vislumbrar uma “promessa tentadora e inalcançável”, ilustra.
Ao citar a lei que vigorou por mais de 50 anos restringindo a liberdade dos cubanos de viajar, contestou o poder que decide destinos e desejos. Até 2013, só podiam deixar a ilha se tivessem uma permissão especial. Jornalistas, desportistas, artistas e soldados conseguiam licença para trabalhar no exterior. Mas a grande maioria precisava de uma carta branca para ir a outros países a convite de familiares e amigos ou devia optar por uma saída definitiva, quando perdia todos os bens e se tornava apátrida. Disse que, nessas cinco décadas, um quinto da população foi embora.
A nostalgia pela pátria perdida é uma constante de escritores cubanos de hoje ou do passado. Padura lembrou o poeta José María Heredia (1803-1839), o herói nacional e mártir da independência, José Martí (1853-1895), Guillermo Cabrera Infante (1922-2005) e Reinaldo Arenas (1943-1990). Com obras escritas a distância, não deixaram de ter o país e seus habitantes como foco.
O professor da UFRGS Sergius Gonzaga, que atuou como mediador do evento, perguntou ao convidado sobre o drama da insularidade e as barreiras entre os grupos que vivem fora de Cuba e os que ficam no país. Padura disse preferir tratar dessa questão como resistência e não lamentação. “É preciso se fazer forte na amizade, na fidelidade e na nostalgia, alimentadas por rum e música.”
A debatedora do evento, professora Janaína Baladão de Aguiar, da Escola de Humanidades da PUCRS, retomou essa problemática. Padura reforçou que cada um tem o direito de viver onde escolher. Comentou que às vezes acredita na harmonia e em outros momentos perde a fé. Garante que ele mesmo é acusado de agente de segurança do governo cubano por querer permanecer no país onde nasceu.
Janaína perguntou ainda de onde vem a preferência do escritor pelo romance noir, um tipo de romance policial criado na década de 1930, com detetives humanizados. Padura imortalizou Mario Conde, protagonista da tetralogia Estações Havana. Contou que sempre gostou de ler esse tipo de narrativa e, como jornalista, era muito duro com os escritores do país que lançavam livros deficientes nesse gênero. “Pensei: vou fazer romances muito cubanos que não se pareçam com os cubanos.” O crime em si se torna um pretexto para revelar o lado obscuro do ser humano e os seus motores internos.
Questionado pelo público sobre os limites entre realidade e ficção em O homem que amava os cachorros, resumiu: “Quando começo o romance, sei, quando termino, não”. O livro é narrado por um aspirante a escritor que, a partir de um encontro com um homem que passeava com seus cães, retoma os últimos anos de vida do revolucionário russo Leon Trotski e seu assassinato. Padura afirmou que procura respeitar a essência dos processos históricos. Adora assistir a Bastardos inglórios, de Tarantino, em que um grupo de judeus norte-americanos se une para combater os nazistas, mas seria incapaz de escrever algo assim, tão distante da realidade. Como romancista, lembra que há uma convenção com os leitores: “Sabem que vou contar uma mentira que parece ser verdade”.
Padura é romancista, ensaísta e jornalista. Considerado um dos melhores autores de Cuba, escreveu roteiros para o cinema e atuou por 15 anos na área do jornalismo investigativo. Agraciado pelo governo espanhol com a dupla nacionalidade, prefere continuar vivendo na ilha onde nasceu. Ganhou reconhecimento internacional com a série de romances policiais Estações Havana. A tetralogia, composta por Passado perfeito, Ventos de quaresma, Máscaras e Paisagem de outono, já foi traduzida para mais de 15 países e venceu prêmios internacionais, como o Dashiell Hammet, de melhor romance em língua espanhola, e o Café Gijón, além de ter sido adaptada para o cinema e a televisão. Pelo conjunto de sua obra, recebeu o Prêmio Princesa das Astúrias das Letras e o Prêmio Nacional de Literatura de Cuba.
A temporada 2017 do projeto Fronteiras do Pensamento tem como tema Civilização – a sociedade e seus valores. Com parceria cultural da PUCRS, o evento traz a Porto Alegre, até o mês de dezembro, conferencistas internacionalmente reconhecidos para abordar a busca por reconstrução, consciência e resgate de valores.