3º Encontro do Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para a CRES

Encontro ocorreu na Biblioteca Central – Foto: Camila Cunha

O tema Educação Superior, diversidade cultural e interculturalidade norteou, no último dia 8 de janeiro, no 6º andar da Biblioteca Central, o mais recente encontro do Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para a Terceira Conferência Regional da Educação Superior da América Latina e Caribe (Cres) – Unesco Iesalc de 2018. Os palestrantes dessa edição foram o professor Draiton Gonzaga de Souza, decano da Escola de Humanidades, e a professora Jane Prates, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. A atividade teve a mediação da professora Bettina Steren dos Santos, da Escola de Humanidades.

 

Conceito de cultura

Durante sua manifestação, o decano Draiton Gonzaga de Souza apresentou um conceito de cultura citando do livro Antropologia filosófica, de Edvino Rabusque, para o qual “cultura é a transformação que o ser humano, consciente e livremente, realiza na natureza, tanto na própria quanto na alheia, visando ao aperfeiçoamento dessa mesma natureza”. O autor falava tanto de transformações na natureza humana quanto na do outro. Referindo-se a Georg Hegel, Souza sintetizou um pensamento do filósofo alemão ao tratar da primeira natureza, “material”, e da segunda natureza, “que o ser humano faz, constrói, ou seja, a História, a cultura que promovemos ao nosso entorno”, destacou. Essas foram as bases que dividiram, entre os séculos 18 e 19, as Ciências Naturais das Ciências Humanas, explicou o docente.

Utilizando-se de exemplos concretos, ele ilustrou a distinção entre natureza e cultura, esta última tida como algo que sofreu alguma influência do ser humano. Recorrendo mais uma vez a Hegel, o professor disse que “o ser humano é profundamente marcado pela cultura na qual está inserido, algo que fica claro quando este se depara com outra cultura, ao ver algo que não é ele, identificando na diferença quem ele realmente é”, refletiu. Levando o raciocínio para a interculturalidade, Souza destacou aspectos da globalização e das interações geradas por “culturas que coabitam justapostas e que entram em contato”, citando exemplos como as ondas migratórias motivadas por países em conflito na África e Oriente Médio. Lembrou, também, de situações de intolerância nesse mesmo contexto.

 

Interculturalidade na América Latina

3º Encontro do Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para a CRES

Professora Jane Prates – Foto: Camila Cunha

Ao abordar a interculturalidade, a partir de um olhar direcionado à América Latina, a professora Jane Prates procurou traçar um histórico. A docente destacou o atraso de 300 anos da implantação do Ensino Superior no Brasil, em relação aos demais países do continente. Em relação ao nosso País, afirmou que, no século 20, “um conjunto de reformas verticalistas, que não escutaram nem atenderam aos interesses da sociedade” contribuíram para moldar uma “formação subalternizadora no cenário acadêmico brasileiro”. Essa forma de abordagem, enfatizou, “infelizmente nunca contemplou a diversidade cultural existente no País”. De acordo com a pesquisadora, a inclusão de negros, mulheres, indígenas e comunidade LGBT são pressupostos para o desenvolvimento social da nação, visando à formação universitária abrangente e cidadã.

A minimização da participação do Estado, a defesa do individualismo, o privilégio de uma lógica de mercado e de interesses capitalistas, na opinião da professora, conformaram a formação superior no continente. Como resultado, há uma desvalorização das relações entre os países que compõem a América Latina e o Caribe e, em especial, do Brasil com as nações vizinhas.

 

Formação humanista e sensível à diversidade

3º Encontro do Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para a CRES

Professor Draiton Gonzaga de Souza – Foto: Camila Cunha

No que diz respeito à formação, a pesquisadora acredita que “o processo de educar contemplando o multuculturalismo não ocorre sem contradições. O debate da interculturalidade envolve questões sobre a cultura, mas também sobre diversidade”, lembrou. Essas são questões-chave, no olhar da docente, especialmente no Brasil. Isso, segundo Jane, “pressupõe um olhar atento para relações de poder entre culturas e a valorização de identidades – especialmente algumas desvalorizadas historicamente”. Retomando o pensamento do professor Draiton Ganzaga de Souza, destacou que a “valorização de outras culturas depende de um diálogo, que requer participação e o reconhecimento do outro, superando o patrimonialismo, o colonialismo e escravismo”, mazelas históricas no Brasil.

Concluindo sua apresentação, a coordenadora do PPG em Serviço Social defendeu “uma formação humanista com profissionais críticos, densos em suas interpretações, propositivos e comprometidos eticamente com seu tempo histórico, reconhecendo a diversidade humana e o direito de acesso de todos nos mais diversos níveis de educação”. Para a plateia, formada predominantemente por professores, disse que “precisamos formar pessoas para circular pela América Latina, gerando trocas e relações, qualificando as políticas de internacionalização”, incentivou.

 

Conteúdos sobre o Cres

3º Encontro do Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para a CRES

Docentes contribuíram ao final das apresentações – Foto: Camila Cunha

No desfecho do evento, alguns dos presentes fizeram intervenções, interpretando o tema central a partir de diferentes áreas do conhecimento. A mediadora Bettina Santos convidou todos a acessarem o conteúdo disponível na biblioteca on-line do site do Cres 2018, bem como a participar do próximo encontro na PUCRS, agendado para o dia 21 de março, com o tema A pesquisa científica, tecnológica e a inovação como motor do desenvolvimento humano, social e econômico. A programação completa do ciclo está disponível neste link, e os textos sobre os encontros ocorridos na Universidade podem ser acessados no Portal PUCRS.

 

Sobre o Ciclo Preparatório

O Ciclo Preparatório PUCRS conta com sete encontros, que se configuram em um espaço de reflexão na comunidade acadêmica. Cada evento busca discutir algum dos temas centrais abordados pela CRES. Ao final da programação, será elaborada uma carta manifesto sobre a Educação Superior, com as contribuições e reflexões dos representantes da Universidade. A CRES será realizada em junho, na Cidade de Córdoba (Argentina), promovido pelo Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Iesalc-Unesco).

Marilia Morosini

Marilia Morosini durante capacitação do British Council
Fotos: Bruno Todeschini

Como trabalhar a internacionalização em casa? Como enriquecer o ambiente universitário com diferentes experiências culturais sem se restringir à mobilidade acadêmica de uma parcela de estudantes e professores? Como promover uma experiência internacional a quem não tem a oportunidade de viajar e fazer cursos fora do país? Esse é o desafio da PUCRS, que trabalha na internacionalização dos currículos. Um projeto, encabeçado pelo British Council e coordenado pela professora Marilia Morosini, pretende transformar a Universidade em referência brasileira nessa área.

Uma das etapas do processo ocorreu de 29 de novembro a 1º de dezembro, na Universidade. Promovido pelo Centro de Estudos em Educação Superior, do Programa de Pós-Graduação em Educação, e pela Newcastle University, do Reino Unido, e com apoio da Pró-Reitoria Acadêmica, foi realizado o British Council Capacity Building & Internationalisation for Higher Education. Professores participaram de palestras e workshops para elaborar o modelo dentro do contexto da PUCRS e do Brasil. Segundo o professor Alexandre Guilherme, que integra a iniciativa, a partir de 2018, deverão começar a funcionar projetos pilotos nos cursos de graduação em Educação e Letras, da Escola de Humanidades, e Economia e Administração, da Escola de Negócios.

 

O que é uma universidade internacional?

Sue Robson

Sue Robson destacou que a internacionalização deve envolver a todos na instituição

Durante a capacitação, a professora Sue Robson, da Newcastle University, destacou que a internacionalização deve envolver a todos na instituição e não estar restrita à promoção de intercâmbios, como ocorre no Brasil, ou à geração de renda, o caso mais comum de países europeus, da Austrália e Nova Zelândia. “Apenas ter um número elevado de alunos estrangeiros é suficiente para considerar uma universidade internacional? E manter publicações e pesquisas com o exterior?”, questiona a professora. Segundo ela, se faz necessário mudar a cultura, explorar diferentes línguas, conhecimentos e literaturas.

Sue defende que o propósito da internacionalização é a preparação para a vida em uma sociedade democrática. Ligada à reputação das instituições, deve ser pensada muito além e trabalhada em uma perspectiva intercultural, com foco nos objetivos éticos, sociais e acadêmicos do ensino superior.

Para a professora Joana Almeida, também da Newcastle, o processo deve levar em conta os cenários nacional, regional, local e institucional. Disse que o grupo da PUCRS é o mais indicado para avaliar o que funcionará na tentativa de internacionalizar o currículo, a partir de elementos – e não fórmulas mágicas – trazidos pelos especialistas da universidade do Reino Unido. “Os grandes beneficiados serão os estudantes. As adaptações devem se basear nas necessidades de aprendizagem e nos diferentes backgrounds culturais.”

O evento também contou com a participação do professor Steve Walsh, da mesma instituição. Estiveram presentes representantes da Universidade Federal do Pampa e da Universidade Federal de Santa Maria, parceiros do projeto.

Parceria

Em maio, a Universidade discutiu o tema internacionalização em casa no Seminário Internationalisation of Higher Education in the UK and Brazil: A partnership between Newcastle University and PUCRS, consolidando a parceria entre as instituições. Desde 2016, um grupo de pesquisadores da PUCRS mantém contatos e trabalhos sistemáticos com a Newcastle.

O acordo tem como objetivos discutir a perspectiva da internacionalização a partir de redes de pesquisa nos contextos do Reino Unido e Brasil; incentivar maior reflexão sobre as pesquisas e práticas docentes e institucionais por meio de trocas de experiências; e reforçar o diálogo, a produção e a circulação do conhecimento acerca da internacionalização na Educação Superior.